Sociedade
Jovem angolano termina mestrado com distinção máxima em universidade americana
O jovem Pedro Domingos Paposseco Manuel terminou, com a distinção máxima, 4.0 “Grade Point Average”, equivalente a 20 valores no sistema angolano, o seu programa de mestrado em Administração Pública e pós-graduação em Desenvolvimento de Recursos Humanos e Diversidade da Força de Trabalho na Universidade de Oklahoma, nos EUA.
Conheça a história do jovem do Cazenga, que já ganhou bolsas para o Bacharelato Internacional na Noruega, e para licenciatura, mestrado e agora para o doutoramento nos Estados Unidos da América.
A história de vida de Pitcha, como é conhecido, começou no bairro do Curtume, município do Cazenga, de onde saía diariamente para ir às aulas no Instituto Médio Normal de Educação dos Irmãos Maristas (IMNE-Marista), onde cursava Língua Portuguesa. Vezes sem conta, caminhou a pé os mais de 10 quilômetros, que separam o seu bairro no interior do Cazenga, da escola no distrito da Maianga, por razões financeiras, visto que nem sempre tinha dinheiro para apanhar um táxi.
A experiência de sofrimento que enfrentou na sua infância e adolescência, fizeram-no apegar-se à primeira oportunidade que a vida lhe ofereceu e hoje já sonha em ser diplomata para contribuir para a melhoraria das relações diplomáticas de Angola com diversos países e instituições internacionais, principalmente do ocidente, que já conhece.
Foi em 2013, quando frequentava a 13ª classe no conhecido IMNE-Marista, que surgiu a oportunidade de ir, por bolsa, estudar o Bacharelato Internacional (IB) no United World College Red Cross Nordic, Noruega.
Drgundo conta, foi no decurso da sua formação, naquele país europeu, que conseguiu uma bolsa em Relações Internacionais e Administração Pública Bolsa de Estudos nos Estados Unidos, tendo sido admitido em mais de seis universidades, com direito a financiamento. Entretanto, preferiu ingressar na Universidade de Oklahoma, que além de ser focada em investigação, oferecer-lhe uma bolsa completa.
Apesar de reconhecer que estudar nos EUA é uma oportunidade única, Pedro diz que aceitar o desafio foi uma decisão difícil de se tomar, porque “Na altura, eu já estava consciente dos diversos problemas sociais que assolavam a sociedade americana, incluindo a brutalidade policial contra os negros, racismo e outras formas de discriminação institucionais baseadas na origem da pessoa humana”. Situações que o fizeram temer pela sua vida, devido a factores raciais.
“Aqui [nos EUA] enfrentei desafios positivos e negativos que contribuíram positivamente para o meu crescimento pessoal, dando-me uma perspectiva de mundo diferenciada, diversificada, cultural, política, histórica e economicamente educada”, disse Pedro.
Ao contrário do que receava, conseguiu manter-se activo na comunidade académica, com foco nos objectivos preconizados.
Nos quatro primeiros anos nos EUA, o cazenguista ou mussecado, como gosta de ser tratado, conseguiu obter duas licenciaturas. Uma em Administração Pública e outra em Estudos Internacionais e de Área, além de uma terceira especialização em Ciências Políticas.
Experiencia de liderança e distinções
Durante os estudos de licenciatura, foi distinguido com o prêmio Leadership Fellows Program Award, o 2018 University of Oklahoma Student Government – Most Valuable Committee Member – Prêmio de Diversidade Humana. Foi ainda membro de um grupo elite de jovens líderes da Faculdade de Artes e Ciências que, além de demonstrarem excelência acadêmica, eram jovens líderes com uma actuação muito positiva e transformadora na comunidade universitária.
Da sua experiência em liderança estudantil, consta que foi presidente da Associação dos Estudantes Angolanos na Universidade de Oklahoma, e da associação InFocus Africa, co-fundou o Leading Africa Forum International, co-fundou e serve como presidente do Leading Africa Forum Angola, ainda presidente do Comitê de Diversidade Humana do Congresso Estudantil da Universidade de Oklahoma, representante dos estudantes internacionais no Governo Estudantil, membro activo do Conselho Consultivo Internacional da sua universidade. Teve igualmente uma oportunidade de estágio como assistente legislativo no Congresso do estado de Oklahoma e trabalhou para o escritório de assuntos migratórios e de intercâmbio acadêmico internacional por três anos.
A sua decisão de continuar a formação depois de licenciado, conta, prende-se com a necessidade de aperfeiçoar os seus conhecimentos e o sonho de tornar-se perito em questões de Política Internacionai, Administração Pública e Governação. Para isso, concorreu e foi admitido nas universidades dos seus sonhos: a New York University, a American University e George Washington University em Washington DC para estudar Relações Internacionais ou Administração Pública, mas que devido a questões financeiras viu-se impossibilitado em estudar em uma delas, tendo optado pela Universidade de Oklahoma, onde obteve, por bolsa, o mestrado em Administração Pública e uma pós-graduação em Desenvolvimento de Recursos Humanos e Diversidade da Força de Trabalho.
A média final da sua classificação foi 4.0, equivalente a 20 valores, no sistema angolano, resultado da media de 20 valores que manteve durante o programa de mestrado e pós-graduação.
Pelo seu desempenho acadêmico e envolvimento social, ainda primeiro ano do curso de mestrado foi nomeado membro da Sociedade Nacional (EUA) de Honra de Ciências Políticas, a Pi Sigma Alpha, e também nomeado admitido como membro da Sociedade Nacional de Honra de Acadêmicos de Relações e Administração Pública (Public Affairs and Administration), a Pi Alpha Alpha.
“Estudei bué embora tivesse trabalhado primeiro para um restaurante de “fast food “e depois para o Escritório de Serviços Migratórios e de Intercâmbio Acadêmico Internacional. Tive, no final, a oportunidade de escrever duas monografias para a obtenção das licenciaturas e uma terceira monografia para a obtenção do mestrado, porque as três monografias foram escritas a pensar Angola e discutiram assuntos angolanos primordialmente. Felizmente e com ajuda dos meus mentores, no final, obtive nota máxima em cada uma das monografias que escrevi”.
Essa sua dedicação aos estudos fez com que fosse, novamente aceite para o programa de Doutoramento em Ciências Políticas com um foco em Gestão de Organizações Não Governamentais, Administração e Políticas Públicas na Universidade de Oklahoma.
Sonhos
Pela experiência internacional que obteve até hoje, Pedro Paposseco planeia ajudar na projecção da imagem de Angola a nível internacional, trabalhando na diplomacia angolana no ocidente, pois é a realidade que conhece. Para isso, o jovem angolano quer uma oportunidade que o possibilitem pôr em prática o seu conhecimento acadêmico e experiência de vida. Da sua bagagem constam passagens por vários países como Noruega e EUA onde estudou, intercâmbio acadêmico na França, estágio no Brasil e visitas guiadas na Polónia, Holanda, Dinamarca, Alemanha e Bélgica.
Quem é Pedro Domingos Manuel Paposseco
Pitcha ou Pitcho, como é conhecido pelos mais próximos, nasceu no bairro do Curtume, município do Cazenga, em Luanda. É o penúltimo dos 11 filhos dos seus pais, já idosos e único que se encontra no exterior do país.
Actualmente, dedica-se à pesquisa em Relações Internacionais, Desenvolvimento Global e Administração Pública Comparativa, com foco em assuntos políticos e sociais económicos angolanos e americanos. Para financiar os meus estudos de mestrado e estadia nos EUA, o angolano trabalha como Director Residencial na Universidade de Oklahoma.
Grande parte da sua agenda de pesquisa, até agora, tem sido influenciada pela experiência como estagiário na Development Workshop Angola (DW), ONG focada no desenvolvimento de políticas e programas para assentamentos humanos e habitação de autoajuda.
Escreve artigos sobre a actualidade política, social e econômica americana, analista de relações internacionais, no Correio da Kianda, e escreve para o O Jornal O País, e serviu como analista político residente do programa internacional “Manchete” da TPA, entre novembro de 2020 e janeiro de 2021. Além do Português e Inglês, entende bem o Espanhol, mas não fala proficientemente.