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JLO e MPLA baralham as cartadas das relações internacionais com rasgados elogios à Rússia

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É tradição angolana, no quadro da relação com o mundo exterior, manter relações abertas e pacíficas com todos os países do globo. Nos últimos 21 meses, João Lourenço deu sinais de quebrar essa cultura com críticas directas e inequívocas contra Moscovo, e apoio a Kiev. O Ocidente Alargado aproveitou, mas não tão bem quanto desejava, pois o comboio parece ter regressado à sua estação…

A Federação Russa celebrou na quarta-feira, 12 de Junho, o seu Dia Nacional, tendo as suas representações diplomáticas pelo mundo realizado eventos de festividades, e não foi diferente em Angola.

De forma inédita, altos quadros da UNITA anuíram ao convite e fizeram-se presentes ao evento. Entretanto, não foi só a presença de importantes militantes da UNITA que acabou por surpreender e marcar o evento, o Presidente da República, João Lourenço, também protagonizou um feito marcante ao contrariar todas as perspectivas da sociedade angolana e mundial sobre a sua posição face à Rússia.

Nos últimos 21 meses, precisamente desde o cerimonial de sua investidura como Presidente da República para o segundo mandato, João Lourenço adoptara uma postura vista diplomaticamente como antagónica para com a Rússia, tendo em conta a opção do Kremlin em invadir a sua vizinha Ucrânia.

É tradição angolana, no quadro da relação com o mundo exterior, manter relações abertas e pacíficas com todos os países do globo. Mas, nos últimos tempos, João Lourenço vinha dando sinais de quebrar essa cultura com críticas directas e inequívocas a Moscovo.

O Presidente angolano chegou mesmo a dizer, noutras palavras, que a Rússia perdera a ‘performance moral’ de potência que se juntara aos aliados para derrubar o mal maior do mundo do século passado, que foi o Nazismo alemão.

E numa entrevista publicada pelo Jornal Negócios, em Junho de 2023, João Lourenço disse: “a nossa posição [de Angola] é muito clara (…) condenamos a ocupação, pior do que isso, a anexação de parte do território ucraniano pela Rússia”.

Durante um tempo considerável, o Presidente angolano não se coibira de criticar a Rússia nos fóruns mundiais em que era convidado. E como se não bastasse, reduziu, de forma prática, a parceria de segurança com o Kremlin, tendo-a intensificado com os Estados Unidos da América.

Entretanto, o Ocidente Alargado procurou aproveitar essa oportunidade para penetrar e diminuir ainda mais qualquer possibilidade de Angola voltar a andar lado-a-lado com a Rússia, mas parece ter atrasado os passos.

Ao que se verifica, gradualmente, Angola tem deixado de lançar críticas ao país de Vladimir Putin, e a sua não participação à Cimeira de Paz para a Ucrânia, que terá lugar na Suíça, gera suspeições de que o chefe de Estado angolano não mais deseja continuar a dar indícios de que esteja de costas voltadas para com o velho aliado.

E as suas declarações feitas na sequência do Dia Nacional da Rússia baralharam ainda mais as perspectivas internacionais.

O Presidente João Lourenço felicitou o seu homólogo Putin e o povo russo, tendo manifestado o interesse de Angola em aprofundar a cooperação mútua e de estreitar as relações de amizade históricas que unem os dois países há décadas.

Na mensagem enviada ao chefe de Estado russo, de acordo com a página da Presidência angolana, é ainda dito que “as relações de amizade entre Angola e a Rússia apresentam perspectivas de um futuro em que podem ser aprofundadas cada vez mais”.

Esse aprofundamento, sublinha João Lourenço na missiva, passa “pela implementação de projectos de cooperação mutuamente vantajosos em domínios de interesse comum”.

Não só João Lourenço felicitou a Rússia, mas também o MPLA, o partido que sustenta o Governo. Na pessoa de Manuel Augusto, seu secretário do Bureau Político para as Relações Internacionais, os ‘camaradas’ recordaram que a Rússia é um país amigo, com o qual Angola mantém “relações sólidas, forjadas na luta pela conquista da independência nacional, consolidação da democracia, preservação da soberania e integridade territorial”.

“A presença da Direcção Central do MPLA no evento (celebração do Dia da Rússia na Embaixada] traduz-se num dever, uma manifestação de gratidão e de reconhecimento pelo apoio que a Rússia prestou a Angola, para que se tornasse um país forte no concerto das nações”, sublinhou Manuel Augusto, que já chefiou o Ministério das Relações Exteriores.

Entre outras coisas, o secretário do Bureau Político para as Relações Internacionais do MPLA fez saber igualmente que a sua presença e a de seus ‘camaradas’ é uma “manifestação também de solidariedade para com o governo e o povo russo”.




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