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“Investimentos na agricultura familiar só terão impacto com formação e crédito aos camponeses”, alerta especialista

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O engenheiro agrónomo Ulica António considerou hoje, 16, que a aposta do Governo na agricultura familiar, anunciada pelo Presidente da República, é um passo importante para diversificar a economia e combater a fome, mas defende que o sucesso dessas medidas depende de maior apoio técnico, formação e acesso aos mercados.

As declarações do especialista surgem na sequência do discurso sobre o Estado da Nação, proferido esta quarta-feira, 15, em Luanda, pelo Chefe de Estado, João Lourenço, que destacou os investimentos feitos nos últimos anos para impulsionar a produção agrícola e garantir a segurança alimentar no país.

Durante a sua intervenção, João Lourenço reafirmou que a agricultura familiar constitui “um dos pilares centrais da política de desenvolvimento rural e combate à pobreza”, lembrando que é neste segmento que se concentra a maior parte da força de trabalho do campo e a base do abastecimento alimentar nacional.

O Presidente sublinhou que, no quadro do MOSAP-1 e MOSAP-2, o Governo beneficiou milhares de camponeses nas províncias do Uíge, Huambo e Malanje, e que, com o Projecto de Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Bom Jesus e Calenga, foram reforçadas as capacidades produtivas das comunidades do Cuanza Norte e Huambo.

De acordo com o Chefe de Estado, os Programas de Preparação das Campanhas Agrícolas e de Extensão e Desenvolvimento Rural têm assegurado o fornecimento de fertilizantes, sementes melhoradas, charruas, tração animal e assistência técnica, através de uma rede de 9 mil escolas de campo, criadas para partilha de boas práticas agrícolas e inovação local.

“Nos últimos 35 anos, o país tem vindo a investir de forma contínua para garantir o acesso dos pequenos produtores aos principais factores de produção e fortalecer a agricultura familiar como base da segurança alimentar”, destacou o Presidente.

Entre os resultados, João Lourenço apontou a reabilitação de mais de 30.500 hectares de perímetros irrigados nas províncias de Benguela, Cuanza-Sul, Huíla e Uíge, bem como a construção de novos sistemas de irrigação no Sul e no Cunene, destinados a aumentar a produtividade e mitigar os efeitos das secas.

O país conta agora com oito entrepostos frigoríficos e dois matadouros industriais, localizados em Camacupa e Porto Amboim, com capacidade para o abate de mais de 400 cabeças de gado por dia, além de silos com capacidade para 50 mil toneladas de grãos distribuídos pelas localidades da Ganda, Camacupa, Catabola, Caála, Matala e Caconda.

No domínio da inovação, o Executivo reabilitou estações zootécnicas e laboratórios regionais de veterinária em Cabinda, Malanje, Huambo e Huíla, e está a concluir as obras do Centro Regional de Engenharia da Mandioca e do Centro de Produção de Mudas de Café, Cacau e Palmeira de Óleo, com capacidade para 10 milhões de plantas por ano.

“Com estas infraestruturas e programas, queremos transformar o campo num verdadeiro motor da economia nacional, capaz de gerar emprego e garantir o autoabastecimento alimentar”, afirmou João Lourenço, frisando que “a diversificação da economia começa na terra”.

Para o engenheiro agrónomo Ulica António, as medidas são um sinal claro de compromisso político, mas exigem planeamento técnico rigoroso e apoio directo aos produtores para se traduzirem em resultados concretos.

“Os investimentos do Governo são relevantes, mas é preciso garantir que cheguem, de facto, ao camponês.
Não basta entregar sementes e charruas. É fundamental assegurar formação prática, acompanhamento técnico e acesso a mercados para que o agricultor consiga produzir com qualidade e rentabilidade”, afirmou o especialista.

Ulica António defende ainda que o país precisa fortalecer o sistema de extensão rural e dinamizar as cooperativas agrícolas, de modo a aproximar o Estado das comunidades produtoras e melhorar o escoamento dos produtos.

“A agricultura familiar é o coração da soberania alimentar. Se for tratada com a atenção que merece, pode gerar emprego, travar o êxodo rural e garantir comida suficiente para todos os angolanos”, sublinhou.

O engenheiro destaca também a necessidade de criar centros de formação agroprofissional e linhas de crédito específicas para os pequenos produtores, como forma de garantir sustentabilidade e estabilidade ao sector.

“Temos um país com terras férteis e clima favorável, mas é preciso transformar esse potencial em produtividade. Para isso, o agricultor deve ser visto não apenas como beneficiário, mas como parceiro estratégico do desenvolvimento nacional”, reforçou Ulica António.

O especialista conclui que a consolidação da agricultura familiar passa por uma visão integrada, que una infraestrutura, conhecimento técnico, financiamento e mercado.

“Quando o campo for valorizado, o país será verdadeiramente independente. O futuro da economia angolana depende da força das nossas enxadas e da sabedoria dos nossos camponeses”, afirmou.

As medidas anunciadas por João Lourenço marcam uma nova etapa de modernização da agricultura familiar, colocando o sector no centro da agenda económica e social do país. o especialista acredita que, com acompanhamento técnico, políticas estáveis e investimento contínuo, Angola poderá transformar o seu potencial agrícola em prosperidade real e sustentável para milhões de famílias.

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