Entrevista
Hungria está a depender do MININT para iniciar produção de passaportes em Angola
O embaixador da Hungria em Angola, Zsolt Maris, revelou que o seu governo já tem todas as condições criadas para produzir passaportes em território angolano, estando somente a espera do Ministério do interior de Angola para iniciar o processo.
A recente atribuição de medalha de Estado ao engenheiro agrícola José Carlos Fernandes Justino, pela Hungria motivou a que o Correio da Kianda entrevistasse o diplomata Zsolt Maris, que cumpre missão em Angola desde 2017. Foi uma conversa amena, durante a qual aventou uma visita de alto nível.
Correio da Kianda (CK): O governo Húngaro atribuiu recentemente uma detalha de Estado ao engenheiro José Carlos Fernandes Justino. À quem se pode atribuir essa distinção?
Embaixador Zsolt Maris (Embaixador): A Cruz do Cavaleiro, da Ordem de Mérito da Hungria é a mais alta condecoração que se pode atribuir a um cidadão estrangeiro e também nacional húngaro. Foi fundada ainda no século passado, em 1922, mas durante um período, deixou de ser atribuída, mas o novo governo da Hungria começou a atribuir às pessoas. Quem merece essa condecoração? Aqueles que fizeram alguma coisa, para melhorar, avançar as nossas relações. No nosso caso, entre a Hungria e Angola, o nosso camarada José Carlos Fernandes Justino, para nós Gegé, ele estudava na Hungria, nos anos 80, e desde então ele não sessava de manter as relações pessoais e interpessoais com os Húngaros e como os representantes oficiais da Hungria, no caso a nossa embaixada. Ajudou muitas vezes para que algumas questões pudessem avançar. Os estudantes são também nossos embaixadores nos países. Quando nós não podemos avançar num domínio, pedimos os nossos alunos estudantes para nos ajudar. E o nosso camarada José Carlos Fernandes fez isso. Ele fez por tanto tempo, que chegamos num ponto em que achamos que lhe devíamos agradecer.
CK: É uma forma de agradecimento ou de reconhecimento?
Embaixador: As duas. Acho que é agradecimento. Eu gostaria agradecer porque esta foi minha iniciativa como embaixador para nomeá-lo para esta alta condecoração. Portanto, ele ajudou à mim e à embaixada para melhorar as relações entre a Hungria e Angola. Também desempenhou um papel muito importante no grupo de ex-estudantes angolanos na Hungria, que voltavam para Angola. Organizou encontros dos estudantes para preparar os novos candidatados para viajar para a Hungria, e em muitos outros domínios.
CK: Como vai relação entre Hungria e Angola?
Embaixador: acho que nos últimos cinco anos que as relações começaram a desenvolver com uma velocidade não prevista. A Hungria abriu a embaixada aqui em Luanda, em 2017, – Angola já tinha embaixada ha muito tempo na Hungria- começamos a estabelecer aqueles importantes protocolos que conseguiram desenvolver uma relação mais alta entre os dois estados. Só para exemplificar, só neste ano três ministros angolanos visitaram a Hungria, este ano organizamos a primeira comissão mista económica em Budapeste, e Angola participou com uma delegação de 30 pessoas, muito grande. Por isso as nossas relações podem avançar não só no domínio político, mas, sobretudo nas relações económicas, que é muito importante. E nós podemos oferecer para Angola muito mais.
CK: Como o quê, senhor embaixador?
Embaixador: Por exemplo, este ano nós oferecemos para Angola 50 bolsas de estudos totalmente gratuitas. Quer dizer, os estudantes angolanos que vão para estudar na Hungria não pagam nem pela comida, habitação, formação e ainda têm direito a um valor mensal. Acho que é algo que, acho que poucos países podem oferecer para Angola.
CK: Para além da formação superior, que outras áreas de Cooperação a Hungria tem a oferecer para Angola?
Embaixador: Principalmente tecnologia. Estamos a trabalhar com o Ministério do Interior, para Angola ter os primeiros passaportes biométricos, que é muito importante, porque Angola também precisa deste tipo de passaporte… dentro desta cooperação nós gostaríamos de criar uma fábrica aqui em Luanda, para produzir esses passaportes. Nós não queremos vender, mas criar oportunidade para Angola produzir os seus próprios passaportes.
CK: E em que é está esse processo?
Embaixador: Bem, essa pergunta deve ser feita ao ministério do Interior. Nós estamos prontos para a qualquer momento avançarmos com esse processo. Nós da parte Húngara esperamos iniciar o processo ainda este ano.
CK: Qual é a média anual de angolanos que solicitam visto para visitar a Hungria?
Embaixador: Bom, poucos angolanos visitam a Hungria como turistas, mas gostaríamos aumentar o número. E aproveito aqui falar de um ponto que vocês não me perguntaram. É sobre o primeiro cidadão Húngaro que morava em Angola e morreu também em Angola. Foi o primeiro Húngaro que conseguiu descrever a geografia de Angola, dava informações ao mundo sobre a vida cotidiana angolana daquela época. casou com uma angolana, isto ainda no século XIX.
CK: Precisa ser divulgado…
Embaixador: Este ano assinamos um acordo com a Televisão Pública angolana, a TPA e a nossa principal ideia é para produzir um documentário sobre a vida e obra desse Húngaro, mas com o tempo o documentário podia mostrar as belezas naturais de Angola. Essa é também uma possibilidade para incentivar o turismo para Angola, porque não é só para Angola, mas para toda a União Europeia e nós também poderemos mostrar sobre a Hungria.
CK: Em termos comerciais qual é o volume de negócio entre os dois estados?
Embaixador: Acho que ainda temos de trabalhar muito nesse domínio, porque esse tipo de investimentos que falamos, por exemplo, dos passaportes ainda não conseguimos materializar, mas estão já preparados alguns acordos de cooperação no domínio da distribuição da energia, água e habitação, que podem desencadear esse processo.
CK: A Hungria importa algum produto de Angola?
Embaixador: Quase nada. Mas eu tenho ideias sobre como poderíamos avançar neste domínio. Angola, eu acho que o futuro desse país é a agricultura. Nem petróleo, nem Diamante, mas a Agricultura. Eu trabalhei quase 20 anos em diferentes países africanos e em nenhum lugar consegui ver terras tão férteis como em Angola. No Quénia e na Nigéria há pequenas terras, mas tanta terra fértil, nunca vi!
CK: Há interesse do governo Húngaro em apostar seriamente nessa área em Angola?
Embaixador: Temos intensão, mas precisamos de cooperação das autoridades angolanas. Nós assinamos já um acordo entre os dois ministérios, mas infelizmente ainda não conseguimos avançar nesse domínio.
CK: O governo angolano é acessível no processo de assinatura de acordos?
Embaixador: Assinámos já um acordo entre os Ministérios da Agricultura de Angola e da Hungria temos acordos. Criamos a possibilidade para facilitar essas trocas, mas por outro lado nós precisamos de uma atividade por parte dos nossos amigos angolanos. E isto é muito difícil.
CK: Há empresários húngaros interessados em investir em Angola?
Embaixador: Poucos. Acho que Angola é um mercado tão grande e sem ajuda governamental é impossível. Nós não temos vantagens como os portugueses, por exemplo, que falam a mesma língua. Nossos empresários não falam português, não conhecem Angola nem mesmo conhecem bem África. Essa é nossa tarefa, nossa da Hungria, mas Angola também de incentivar os empresários nossos Húngaros, europeus para abrir a porta de Angola. Agora aconteceu, na semana passada um encontro de empresários europeus e angolanos, em Bruxelas. Essa iniciativa é muito importante para convencer os empresários para virem cá, ver as oportunidades de negócio, mas acho que Angola tem de trabalhar muito nesse domínio.
CK: Já se pode pensar numa visita de alto nível nos dois sentidos?
Embaixador: Bom, estamos trabalhando sobre esse assunto também. Agora temos uma nova presidente da Hungria, que vai tomar posse em Maio próximo, pois a sua tomada de posse podemos falar sobre esse assunto. Mas estamos trabalhando sim. Acho que estes tipos de encontros de alto nível podem dar outro rumo às nossas relações, que até agora não conseguimos ultrapassar. Isso é muito importante.
CK: Há algum domínio da cooperação que preocupa o embaixador, na relação entre Angola e a Hungria?
Embaixador: O preocupante para nós é o desenvolvimento muito lento dessas coisas. Eu não gostaria comparar, mas as vezes essas coisas anda muito lento e a gente não entende o porque dessa lentidão.
CK: Os Húngaros residentes em Angola sente-se bem acomodados?
Embaixador: Nós temos apoio das autoridades angolanas, não temos problemas com as autoridades. Nós os húngaros somos um povo que segue as regras.
CK: E quantos Húngaros vivem actualmente em Angola?
Embaixador: praticamente todos os Húngaros que vivem em Angola estão aqui na embaixada. Somos 14.
CK: Que desafios os húngaros enfrentam em Angola?
Embaixador: Para um húngaro que não fala o português esse é um grande problema, porque do outro lado para além do português os angolanos também falam inglês. Mas todos os nossos colaboradores da embaixada falam português. Mas para iniciar um negócio em Angola esse não é o problema. Infelizmente, até agora Angola tem uma reputação de que ali tinha a guerra. Aliás, pouca gente sabe que a Guerra em Angola já acabou há 20 anos. Tem muitos outros países africanos que têm muito mais problemas como a guerra ou a situação interna e graças a Deus Angola é um país muito pacífico. Tem os seus problemas econômicos que todo mundo tem nesses últimos anos. Angola tem toda a capacidade para ultrapassar esses problemas. Um dos países importante para o futuro é Angola. Mas vocês têm de cuidar sobre esse assunto.
CK: Acha que alguma coisa estará a falhar na diplomacia angolana, para que muita gente continue a pensar que existe Guerra no país quando são passados 20 anos desde o alcance da paz?
Embaixador: A diplomacia está bem preparada, mas dentro do Governo, todos os representantes têm de representar Angola como diplomatas. Às vezes é isso que falta… É muito difícil convencer … Nem todos os ministérios tratam dos assuntos no mesmo nível…
CK: A Hungria realizou recentemente as suas eleições gerais. Que balanço se pode fazer depois das eleições?
Embaixador : Essa é a quarta vez que o mesmo governo ganhou, com uma maioria esmagadora, com apoio muito amplo da população. E isso significa que a nossa linha, a nossa direcção não vai mudar. A política externa da Hungria vai continuar o que temos vindo a fazer até agora. Vamos continuar com esses encontros bilaterais, incentivar as visitas de alto nível e não só, como também dos técnicos para essas cooperações. Então as nossas portas estão abertas.