Cultura
Historiador Filipe Vidal diz que processo de aculturação tem distraído a juventude angolana
O historiador Filipe Vidal disse, em entrevista do Correio da Kianda, a propósito do Dia da Cultura Nacional assinalado a 8 de Janeiro, que o processo de aculturação tem distraído a juventude angolana, no que a preservação dos valores e identidades africanos diz respeito.
Filipe Vidal começou por lembrar que a celebração deste dia foi estabelecido a volta do marco do lançamento do acto comemorativo da União Nacional dos Escritores Angolanos, isso ainda na vigência do Presidente da República Popular de Angola, António Agostinho Neto, e confirmado no primeiro Simpósio sobre Cultura Nacional realizado também em Janeiro de 1985.
O objectivo é de reflectir sobre aspectos culturais da República de Angola, inspirados no poema ‘Havemos de Voltar’, do Presidente Agostinho Neto, e que, segundo fez saber, visava unir as várias Nações Pré Colonias Africanas para que se pudesse traçar um primado, de Unidade Cultural.
O dia é comemorado com várias festividades em várias partes do país, sobretudo estas festividades têm um marco institucional, e este ano a festa Central aconteceu na província do Huambo.
Filipe Vidal frisou que para o povo angolano a cultura é o aspecto mais importante para unificação, o desenvolvimento de qualquer povo, a cultura é sobretudo muito mais do que aquilo que Tailor define pois é muito mais virada para nós africanos, como muito mais do que complexos, valores, princípios, hábitos e costumes.
“A cultura é na verdade a ligação que um povo tem com o plano visível e com o plano invisível da vida que é traduzida segundo o professor “Dumbi Fakuli”, em três aspectos importantes que são, o nome, a língua, e a tradição”, afirmou .
A estes três aspectos, o académico Filipe Vidal, acrescenta, recorrendo aos conceitos do professor Cheikh Anta Diop, a identidade linguística, a identidade histórica, e a identidade psicológica, o que na sua visão a cultura se traduz na visão de mundo.
“Logo é a cultura quem controla a economia, orienta a política, as artes, o desporto, a segurança, e sobretudo a educação”, disse, sublinhando que enquanto africanos, “nos fomos e temos sido acometidos, por uma grande avalanche de aculturação, o que faz com que a juventude não esteja atenta, e os mais velhos não conseguem fazer o acto transfundidor dos aspectos culturais mais importantes, que são sobretudo a língua, a história, e a nossa identidade psicológica que é refletida nas nossas tradições, no nosso dia a dia, na nossa gastronomia, na nossa forma de vestir, na nossa musica, na nossa dança, no nosso teatro, na nossa forma de estar enquanto povos”.
Questionado sobre os símbolos da cultura, Filipe respondeu que estão representados em cada um dos aspectos que cita, sobretudo naquilo que é o chamado das autoridades tradicionais que, segundo saber, têm sido um ponto de inspiração para dar continuidade aos aspectos principais da cultura.
“E uma vez que a cultura é dinâmica e ao mesmo tempo estática, ela é local e ao mesmo tempo universal, ela é concreta e ao mesmo tempo subjectiva, logo a cultura Africana de Angola hoje, tem sofrido uma influência poderosa, de outros sectores do mundo, de outras geografias emocionais, económicas e politicas, mas ainda estão vivos os aspectos fundamentais, reflectidos na forma como casamos, como o alambamento, nas línguas locais, ou nas línguas regionais africanas, e na forma como fazemos a agricultura”, argumentou.
Para o historiador, a data deve ser vista como um marco de reflexão sobre aspectos culturais da República de Angola, reforçando aspectos como a língua, a história, a psicologia colectiva, bem como para a necessidade de descolonizar as instituições angolanas.
Edição: Manuel Camalata