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Guerra na Russia: Próxima “grande aposta” de Putin será “forçar um cessar-fogo”

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Leonid Volkov, aliado de Alexei Navalny, considera que Putin “recorre à fome e à chantagem do frio” porque “a sua aposta militar falhou” e está “rapidamente a perder apoio dentro da Rússia”.

Leonid Volkov, um dos principais aliados do opositor russo Alexei Navalny, considerou, no domingo, que a “próxima grande aposta” do presidente russo, Vladimir Putin, na guerra na Ucrânia “é uma operação especial para forçar um cessar-fogo” e que o líder russo “sabe que tem apenas dois ou três meses para assegurar um cessar-fogo em condições favoráveis”.

Numa thread publicada na rede social Twitter, o opositor começou por explicar que “a guerra do século XXI consiste em mais do que apenas batalhas em campo” e que, nesse aspecto, o “exército de Putin mostrou tudo o que pode fazer” e “não impressionou. Agora, “a única tática que a Rússia tem à sua disposição é a tática da terra queimada, baseada na superioridade de artilharia”.

Segundo explicou, a tática consiste em sujeitar “uma área fortificada das Forças Armadas da Ucrânia” a bombardeamentos destrutivos.

“Depois, o Ministério da Defesa russo envia ‘wagners’ [grupo de mercenários] ou milícias, que não consideram pessoas e não incluem na contagem de baixas; se houver fogo de retorno, eles retiram-se e o bombardeamento continua até que as Forças Armadas da Ucrânia tenham de se retirar”, elucidou Leonid Volkov.

Esta nova abordagem permite às tropas russas “avançar lentamente e evitar perdas significativas no exército regular”, contudo o envio de sistemas ‘High Mobility Artillery Rocket Systems’ (HIMARS) à Ucrânia está “a alterar dramaticamente o equilíbrio de poder, nivelando a superioridade da artilharia russa”.

“É por isso que Putin anseia agora ansiosamente por um cessar-fogo. Não só para constituir reservas e dar um fôlego às tropas (o que a Ucrânia também fará), mas principalmente para assegurar o status quo”, considerou o político.

Esta trégua “significaria traçar uma linha de demarcação no mapa, que determinaria a realidade política para os próximos anos”. “Uma vez estabelecida esta trégua, o partido ‘a paz má é melhor do que a guerra boa’ vencerá na Europa”, frisou, considerando que “os políticos dirão aos eleitores as boas notícias: ‘conseguimos parar a guerra e o fluxo de refugiados, os preços dos combustíveis estão a descer’”.

No entanto, Putin “não irá a lado nenhum” e irá, “uma vez mais, reunir forças e raiva para o próximo ataque mortal e sangrento dentro de alguns anos”. “Vastas áreas da Ucrânia permanecerão sob ocupação, milhões dos seus habitantes serão deslocados, e o mal permanecerá impune…”, reiterou.

Reconhecendo que a Ucrânia atualmente “goza de um apoio considerável (embora insuficiente e não incondicional) por parte do Ocidente”, Volkov afirma que, “se prevalecer uma ‘paz má’’, a situação irá mudar radicalmente”.

“Retomar as hostilidades quando os eleitores europeus já tiverem dado um suspiro de alívio por a guerra ter terminado será infinitamente mais difícil politicamente. Uma tentativa de desocupar Kherson ou Izium será percebida de forma muito diferente pela sociedade ocidental. ‘Tudo acabou de se acalmar, e agora estão a disparar novamente’, é o que muitos eleitores europeus irão pensar”, afirmou.

Assim, “a próxima grande aposta de Putin na guerra ucraniana é uma operação especial para forçar um cessar-fogo, que formalizaria a anexação, proporcionando uma pausa de vários anos para se preparar para a próxima fase da guerra”.

Para conseguir um cessar-fogo, Putin – que “compreende que a Ucrânia não vai concordar com qualquer tipo de tréguas” e que “a opinião pública na Ucrânia exige de forma absolutamente inequívoca que o [presidente ucraniano] Zelensky continue a lutar” – irá recorrer à “chantagem”, tal como fez com o bloqueio de cereais ucranianos.

“A mensagem de Putin em junho foi simples: “Caro Scholz, Macron, Draghi, ou vocês forçam Zelensky a aceitar a paz ou eu mato à fome o Norte de África, vocês recebem milhões de novos refugiados na Europa, e os vossos governos são assumidos pelos radicais de direita (que eu próprio financiarei)”, explicou Volkov, que acrescentou que a chantagem não resultou e vários líderes ocidentais reiteraram o seu apoio à Ucrânia, nomeadamente na atribuição de estatuto de país candidato à adesão da União Europeia.

Mas, “se Putin aprendeu uma coisa durante os seus 22 anos no poder, é a seguinte: se não se pode lidar diretamente com políticos ocidentais, é preciso trabalhar com o seu eleitorado”. A próxima ameaça surgirá com o inverno, quando o líder russo “tentar assustar os europeus com a perspetiva de congelar até à morte nas suas casas” e para o fazer “utilizará todos os agentes e recursos que acumulou ao longo dos anos: políticos e jornalistas corruptos, partidos marginais e ‘especialistas” que dirão profundamente: ‘Claro que temos pena da Ucrânia, mas temos de fazer o que Putin quer para que a Europa não congele’.

Na publicação no Twitter, o russo pede às pessoas que “não se deixem enganar” e reconhece que “a Europa pode ter um inverno difícil pela frente”, sendo este o “preço necessário dos últimos oito anos de indiferença e inação”, numa referência à anexação da Crimeia em 2014 e ao início da guerra no leste da Ucrânia.

“Temos de passar este inverno: se cedermos agora e cedermos às condições de Putin, então dentro de 6-8 anos a Europa enfrentará quase certamente outro inverno, o nuclear”, alertou.
Na ótica do aliado de Navalny, Putin “recorre à fome e à chantagem do frio” porque “a sua aposta militar falhou” e está “rapidamente a perder apoio dentro da Rússia”.

“Ele também sabe que tem apenas dois ou três meses para assegurar um cessar-fogo em condições favoráveis. Estes serão provavelmente os dois/três meses mais difíceis, mas depois Putin perderá. Ele já perdeu, claro, mas agora é necessário esmagá-lo, não deixá-lo arrastar-se. Para resistir ao seu golpe final”, concluiu.

Assinala-se, esta segunda-feira, o 144.º dia de guerra. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), pelo menos 5.024 civis morreram e 6.520 ficaram feridos no conflito.




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