Ligar-se a nós

África

Guerra. Etiópia e Eritreia podem representar mais um desafio para João Lourenço

Publicado

em

A julgar pelos seus discursos, o Presidente angolano, a quem a União Africa atribuiu o título de “Campeão da Paz”, está empenhado em deixar um legado de estabilidade no continente, entretanto, enquanto vai colocando os tijolos para a paz nos conflitos já conhecidos, eis que surge mais uma vaga de tensão entre a Eritreia e a Etiópia, cuja guerra entre ambos de 1998 a 2000 deixou um rasto de destruição, sofrimento e centena de milhares de mortes.

Diferentes estudiosos avisam que os antigos rivais do corno de África, precisamente a Eritreia e a Etiópia encontram-se à beira de um conflito militar, o que a se concretizar, representará mais um desafio para o consulado de João Lourenço na presidência da União Africana, que tem uma duração de apenas 12 meses.

O conflito representaria igualmente um golpe fatal na histórica reaproximação pela qual o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2019, além de arriscar criar outro desastre humanitário na conturbada região do Chifre da África.

Os alertas dos especialistas sobre a iminência de uma guerra entre os dois países surgiram devido à nova instabilidade na região de Tigray, no norte da Etiópia, onde uma guerra civil entre 2020 e 2022 resultou em significativas baixas humanas.

Durante a referida guerra, forças eritreias, antes inimigas da Etiópia, cruzaram a fronteira para Tigray para lutar ao lado do exército federal da Etiópia contra os rebeldes liderados pelo partido governante da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF).

Entretanto, a Etiópia chegou a acordo com os rebeldes, sem a participação da Eritreia, situação que acabou por deixar zangado o Governo da Eritreia. No momento, o grupo que administra Tigray, e que alegadamente conta com o apoio da Etiópia, está a ser confrontado por dissidentes, que o acusam de ter traído os interesses da região, enquanto a referida administração interina acusa os dissidentes de colaborar com a Eritreia.
Para diferentes especialistas, o impasse pode levar a Etiópia e a Eritreia a apoiar facções rivais em Tigray e, por fim, entrarem em conflito directo.

De referir que a Eritreia ordenou uma mobilização militar nacional em meados de Fevereiro, segundo um grupo de direitos humanos, e a Etiópia enviou tropas para a fronteira com a Eritreia, disseram fontes diplomáticas e autoridades de Tigray à Reuters, enquanto ambos os Governos optam pelo silêncio.

O que é facto é que mais um conflito militar no continente deverá representar mais um complexo imbróglio para o Presidente angolano João Lourenço, que, a julgar pelos seus discursos, está empenhado em deixar um legado de estabilidade em África, um continente conhecido pela pobreza, terrorismo, golpes de Estado, e guerras quase sem fim.

Na sua intervenção do dia 12 deste mês, na cerimónia de passagem de pastas entre a presidência cessante e a nova presidência da Comissão da União Africana, João Lourenço, na qualidade de Presidente da organização, manifestou indignação com as constantes guerras no continente, tendo lamentado o facto de a União Europeia fazer mais em comparação aos líderes africanos, no sentido de se pôr fim aos conflitos em África.

No seu discurso, João Lourenço fixou-se aos conflitos do Sudão e o da República Democrática do Congo (RDC), que, para alguns segmentos, têm sido, no momento, os mais violentos do continente.

No período em que o estadista angolano proferiu este discurso que está a ser bem acolhido em Angola e noutras partes de África e do mundo, ainda não se vislumbrava um possível conflito militar entre a Eritreia e a Etiópia. Uma guerra entre estes dois antigos rivais tem potencial de causar milhares de mortes, e devastar a região, e, consequentemente, contribuir negativamente para uma avaliação do consulado do Presidente João Lourenço.

Radio Correio Kianda




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD