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Funcionária do Ministério da Saúde confessa que desviou fundos para combate a malária
A sessão de julgamento, que decorre no Tribunal Provincial de Luanda, foi caracterizada pela apresentação da acusação por parte do Ministério Público e o consequente interrogatório da ré Sónia Carla de Oliveira Neves.
O Mininistério Público acusa Sónia Carla de Oliveira Neves, Nilton Saraiva Francisco e Mauro Filipe de desvios de fundos destinados ao combate à malária, avaliados em mais de 160 milhões de Kwanzas e cerca de 500 mil dólares americanos (USD).
Segundo a acusação, inicialmente, Sónia Neves transferiu 125 milhões de Kwanzas para a conta da empresa Soccopress com o objectivo de efectuar a compra de material informático, o qual, de acordo com ela, foi gasto em beneficio pessoal.
Questionada sobre o montante, Sónia Neves informou que “usou para seu beneficio, porque em momento nenhum o Ministério da Saúde reclamou desses valores”.
Esta informou ter exercido a função de consultora da Unidade Técnica de Gestão do Fundo Global de Combate à Malária e Paludismo, sendo encarregue da sua gestão financeira.
De acordo com a acusação, em Março de 2014, o Ministério da Saúde constatou “operações financeiras injustificadas, irregulares e fraudulentas”, supostamente praticados por Sónia Neves, enquanto gestora financeira da Unidade Técnica do Fundo Global.
Consta dos autos que a ré organizava processos de pagamentos não autorizados e transferia valores monetários para as empresas EM-Gestinfortec e Soccopress, sem que estas tivessem prestado algum serviço à Unidade Técnica de Gestão do Fundo Global ou ao Programa de Combate e Controlo da Malária.
Segundo ainda a acusação, inicialmente, Sónia Neves transferiu 125 milhões de Kwanzas para a conta da empresa Soccopress com o objectivo de efectuar a compra de material informático, o qual, de acordo com ela, foi gasto em beneficio pessoal.
Posteriormente, foram transferidos 108 milhões de Kwanzas, valores que se destinavam ao Programa Nacional de Combate e Controlo da Malária.
É ainda acusada de transferir 3.100.077 ( três milhões , cem mil e setenta e sete) Kwanzas para a empresa Armazéns Continental, onde adquiriu material de escritório , para benefício pessoal.
Igualmente, é acusada de realizar operações de levantamento com cheques calculados em 30.800.000 (trinta milhões e oitocentos mil ) Kwanzas.
Diante destes factos, a empresa Gestinfortec , pertencente a Mauro Gonçalves, 31 anos, esposo de Sónia Neves, confirmou ter recebido da Unidade Técnica em causa 584.850 dólares americanos (USD).
Segundo ainda a acusação , Mauro Gonçalves usou documentos falsos para justificar uma falsa devolução do referido montante ao Ministério da Saúde.
Em declarações ao Tribunal, Sónia Neves afirmou que dos 130 milhões de dólares disponibilizados pelo Fundo Global de Combate à Malária e Tuberculose, seis milhões eram destinados para trabalhos de propaganda a favor da campanha de combate a esta enfermidade, argumento rejeitado pelo juiz da causa, José Sequeira.
Os autos constam ainda que Mauro Gonçalves e sua esposa, com os valores retirados da Unidade Técnica de Gestão do Fundo Global , transferiram para a conta de um cidadão chinês, que dá pelo nome de Chong Qianz Zaio, 18.450.000 ( dezoito milhões e quatrocentos e cinquenta mil ) Kwanzas, para a construção de uma residência e efectuaram uma transferência de 1.204. 500 ( um milhão duzentos e quatro mil e quinhentos ) Kwanzas, para o pagamento de um contentor com mercadorias diversas, vindo da República Popular da China.
Sónia Neves, questionada sobre quem recaia a gestão da conta bancária do Fundo Global, informou que estava sob responsabilidade de José Van-Dúnem, na altura ministro da Saúde, Caetano da Silva, então secretário geral do Ministério da Saúde, Daniel António, director do Gabinete de Estudos e Planeamento e de Fátima Saiundo, coordenadora da Unidade Técnica de Gestão.
Referiu que para o processamento dos levantamentos dos valores monetários, eram necessárias apenas duas assinaturas e nas três transferências dos valores, tanto o então ministro da Saúde e a coordenadora da Unidade Técnica, encontravam-se ausentes do país.
No término da audiência desta segunda-feira, o advogado de defesa, Mateus Paulo Cristina, em declarações à imprensa, afirmou que cabe ao Ministério Público apresentar as provas da acusação, tendo enaltecido a colaboração da ré Sónia Neves, a qual respondeu a todas as questões apresentadas pelo Tribunal.
Referiu que por enquanto se está na fase de produção das provas, havendo a presunção de inocência dos acusados até a conclusão das sessões .
Questionado sobre os bens confiscados à Sónia Neves, por parte do Ministério Público, o advogado disse caber neste momento a esta instituição provar que os mesmos foram adquiridos de forma fraudulenta.
Por insuficiência de dados no processo para a localização dos demais declarantes, não foram notificados Gregário António Fernandes Cafumo, Peng Xue Cong, Francisco dos Santos Ventura Chagas, Eugénio Luís Dias, António Simão Bernardo Ribeiro , Silva Ernesto Manuel de Castro, Ana Eduardo Valente Gomes e Tomaz Dowbor.
Estes cidadãos deverão comparecer no Tribunal Provincial de Luanda (TPL) na próxima sessão, a realizar-se no dia 20 do corrente mês, na 7ª Secção dos Crimes Comuns.