Sociedade
“Fui subestimada, mas nunca desisti e tive os 20 valores”, diz jovem que estudou na Rússia
Júlia Sebastião, jovem angolana que estudou na Rússia no curso de Construção Civil, formou-se em Junho deste ano, com a nota máxima, 20 valores. Júlia era a única negra da sala e passou por imensos desafios para chegar a Rússia, um deles foi a testagem positivo para COVID-19 em vésperas da sua partida para aquele país.
Em declarações à jornalista Judith Costa, no programa Ligação Jovem, da Rádio Correio da Kianda, Júlia confessou que não foi fácil: nos primeiros meses não teve apoio, sobretudo por ao chegar a Rússia, em 2020, já no segundo semestre do primeiro ano, ter encontrado a turma dividida em grupos.
Logo que entrou na turma conta ter sentido os olhares de desdém. “Senti algo como a estranha chegou”, disse, e foi durante as aulas práticas de geologia que conseguiu uma interação boa com os seus colegas.
Questionada se pelo facto de ser negra sentiu alguma pressão em aplicar-se mais nos estudos, Júlia revelou que sempre esteve em desvantagem, pois a universidade apenas tinha disponibilizado aulas de línguas no ano zero e quando a universidade arrancou não houve disponibilidade do ensino da língua russa, e para entrar no ritmo, Júlia teve que estudar dois a três semestres ao mesmo tempo, e assim foi até ao final, e ficava sem tempo para descansar, contou, alinhado ao facto de ter chegado muito atrasada na turma por conta da COVID-19.
Mesmo com todos obstáculos, conseguiu ser a melhor aluna de línguas da sua turma, e recebeu uma menção honrosa.
“O maior desafio foram os colegas e os professores, porque eles de princípio, quando veem uma pessoa que vem de África eles acham que a pessoa não sabe nada, e subestimam demais, tanto que quando o professor lança uma questão ao grupo ele exclui o aluno negro na hora da resposta, e quando eu fizesse bem um trabalho era questionada a quem paguei para fazer o trabalho por mim”, disse.
Júlia contou do impasse que surgiu quando a sua instrutora foi trocada e o seu instrutor novo a dificultou bastante: “ele fez-me vida cara”, contou, dizendo a Júlia que ela tinha apenas um mês para terminar o diploma e frisando de antemão que ela seria incapaz de fazer, uma vez que Júlia tinha apenas quatro semanas para apresentar seis monografias, pois assim exige o seu curso.
“Apresentei a preocupação a minha família e eles disseram, vamos orar, e abrir um jejum, e pedimos que Deus amolecesse o coração do instrutor e fui compensada com 20 valores”, frisou.
A estudante lamentou o facto de haver muitos jovens angolanos inteligentes, que postos na Rússia acabam por perder-se, no desleixo e na distração e acabam expulsos do país.
Júlia explicou que no dia da sua defesa, ela era a única menina negra, e apenas ela e um colega russo tiveram nota máxima.
Júlia Sebastião acrescentou que espera agora por oportunidades de emprego, pois quer sair da experiência de estudante para a experiência de Engenheira de Construção Civil. Neste momento mostra-se aberta para oportunidades.
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