Sociedade
Foto-jornalista obrigado a trocar imagens pela sua liberdade durante cobertura de protestos
Na primeira pessoa, em entrevista ao Correio da Kianda, Osvaldo Manuel da Silva, foto-jornalista da agência “France Press” contou, nesta segunda-feira, 26, a este jornal, os momentos difíceis vividos no sábado último, aquando da sua detenção no Largo Primeiro de Maio.
Credenciado e acompanhado da sua identificação, com o seu material de trabalho, Osvaldo Manuel da Silva fez-se presente ao Largo Primeiro de Maio muito cedo, com o propósito de cobrir a manifestação levada à cabo por um grupo de jovens da sociedade civil.
O desejo de cobrir um evento de interesse público foi frustrado, minutos depois de ter sido abordado pelos agentes da Polícia Nacional que, sem querer saber da identificação do jornalista, explica, lhe foi dada a ordem de detenção, acompanhado de agressão com uso da força, “usando porretes, que lhe foram chicoteados nas nádegas e no braço”, até ser convidado a subir no carro patrulha.
Deixando o Largo Primeiro de Maio, fez saber, já no carro da Polícia caminharam com o jornalista em direcção ao Comando Provincial de Luanda, e foi no decorrer desta caminhada, antes da chegada ao Comando Provincial, que os agentes da farda-azul, persuadiram o jovem fotógrafo a eliminar as fotografias tiradas no local, em troca de sua libertação.
“Mesmo depois de ter me identificado como jornalista, a Polícia não queria saber, empurraram-me, receberam-me o telemóvel e, no carro da Polícia, enquanto caminhávamos para o comando provincial, fui obrigado a eliminar todas as fotografias”, denunciou.
Mesmo após terem sido eliminadas as fotografias, conta, ainda assim a Polícia manteve o foto-jornalista em sua custódia, até que chegou um oficial do Comando Provincial, ligado ao departamento de comunicação institucional que pediu aos efectivos da farda-azul a sua libertação. Sorte, que não tiveram os quatro jornalistas da Rádio Essencial, que acabaram por ser libertados apenas na tarde desta segunda-feira, 57 horas depois da sua detenção, sem uma culpa formalizada, nem justificações plausíveis da detenção.
As sucessivas detenções de jornalistas no exercício das suas profissões, há muito que têm sido condenadas pelo Sindicato dos Jornalistas de Angola. E a propósito deste último episódio, registado neste sábado, 24, numa nota a qual o Correio da Kianda teve acesso, o Sindicado dos Jornalistas de Angola, para além de condenar o acto da Polícia, exigiu uma justificação pelo qual foram detidos os profissionais, que acabaram por ser libertados quase 60 horas depois.
Sindicato exige que Polícia justifique detenções de jornalistas