Mundo
Fortalecimento do BRICS aumenta risco da tirania tomar o mundo
Além da ambição mundialmente conhecida de quebrar a influência política e militar do ‘mundo livre’, em especial dos Estados Unidos da América, o BRICS demonstra claro descaso à necessidade de prosperidade dos governados, sendo que a liberdade e a boa-governação não são aspectos rigorosamente exigidos para adesão de países pretendentes. E um grande ‘exército’ de governantes que se sentem especiais nos seus países, humanamente superiores a outros cidadãos, e que em face disso julgam que apenas eles devem governar, fazem fila para inclusão de seus Estados no bloco.
O BRICS, grupo das economias emergentes composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul, segue marcha imparável rumo ao seu desejo de ‘nascença’ de quebrar a influência do Ocidente.
Ontem, foi notícia em vários portais do Médio Oriente o anúncio de que a Arábia Saudita tornou-se membro de pleno direito e obrigações do BRICS, um processo que iniciou juntamente com outros grandes actores da política internacional, como o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, o Egipto, bem como a Argentina, este último desistiu da pretensão por decisão do novo governo de Javier Milei, que aquando das eleições presidenciais já havia alertado que retiraria o pedido de Buenos Aires de adesão ao bloco, pelo facto de, na sua visão, a referida organização estar repleta de “ditadores”.
Ainda então composto por cinco países, em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) do BRICS já superava o dos Estados Unidos ou o da União Europeia. E em 2017, de acordo com dados disponíveis, correspondia a 50% do crescimento económico mundial. Agora com a entrada de mais países, o grupo passou a corresponder a 27% da economia mundial e 43% da população do planeta.
Em 2001, renomados economistas internacionais já previam que uma possível união entre estes países do chamado ‘Sul Global’ representaria um risco para as economias ocidentais, mas a nossa preocupação não se circunscreve na perda económica dos ocidentais face ao BRICS, mas pretende-se com o risco de o fortalecimento desse bloco servir de oxigénio para as ditaduras, e o desrespeito aos direitos humanos.
Por exemplo, os EUA (democracia) e a Arábia Saudita, uma monarquia absoluta, estavam a construir uma relação próspera de amizade e cooperação, mas as relações azedaram quando em 2018 surgiram informações de que o jornalista Jamal Khashoggi, então crítico do governo de Riade, tinha sido morto de forma bárbara no consulado da Arábia Saudita na Turquia.
E apesar das investigações apontarem o príncipe herdeiro de Riade, Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, como o autor moral da execução, as capitais democráticas não olharam para o lado, e criticaram fortemente Riade pela postura em vários fóruns internacionais. A Arábia Saudita ameaçou, mas o Ocidente, sob liderança dos EUA, não se deixou intimidar, e investiu na busca da verdade desse facto oculto. Dos BRICS, em bloco ou de forma isolada não houve uma posição clara na defesa de uma vida, que ao longo de sua carreira profissional, procurou unicamente exercer o seu direito de existência.
Diferente de Riade, em Moscovo tem havido eleições. Mas são copiosamente vencidas por Vladimir Putin ou por quem represente os interesses deste, que, soberbamente, são considerados como interesse da ”mãe Rússia”. Apesar de realizar eleições regulares, quadros que se despontam na oposição acabam em muitos casos na prisão.
Alexei Navalny é o exemplo mais recente. O homem não tem tido paz desde que decidiu retirar o poder a Putin. E do BRICS não se conhece uma palavra de solidariedade para com esse político cuja única arma é a palavra, ou um acto de pressão visando demover a Rússia dessa saga.
Entretanto, começa a ficar claro que, além da ambição mundialmente conhecida de quebrar a influência política e militar do ‘mundo livre’, em especial dos Estados Unidos da América, o BRICS faz descaso à necessidade de prosperidade dos governados, sendo que a liberdade e a boa-governação não são aspectos rigorosamente exigidos para adesão de países pretendentes. E um grande ‘exército’ de governantes que se sentem especiais nos seus países, humanamente superiores a outros cidadãos, e que em face disso julgam que apenas eles devem governar, fazem fila para inclusão de seus Estados no bloco.
Militares que decidiram subverter a Constituição desencadeando golpes de Estado contra seus governos civis têm hoje na Rússia, país que preside o BRICS, um grande parceiro, dado que a referida potência do Leste Europeu dá-lhes cobertura com a protecção no terreno do Grupo Wagner.
Esperava-se que o Brasil, a Índia e a África do Sul, democracias reais, fizessem mais, visando impelir o BRICS a eleger também a boa-governação e os direitos humanos como bandeira da organização, ao invés de concentrar energia no combate à hegemonia norte-americana no mundo.
Continua…