“As necessidades de financiamento e os riscos de liquidez são os maiores desafios do ponto de vista do crédito”, lê-se numa análise às vulnerabilidades económicas e financeiras de Angola e Nigéria, os dois maiores produtores de petróleo da África subsariana.
“As necessidades de financiamento podem chegar a 20% do PIB neste e no próximo ano”, escrevem os analistas da Moody’s na análise enviada hoje aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.
Para além das necessidades de financiamento, que vão levar a dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB) para 73%, este ano, a Moody’s diz que “a subida dos juros continua a consumir mais receitas” e alerta que “o serviço da dívida é altamente vulnerável a desvalorizações adicionais da moeda”, o que é ainda mais preocupante porque “grande parte da dívida [de Angola] é devida ao estrangeiro”.
Na análise à economia angolana, a Moody’s reconhece que os esforços de criação de um ambiente mais favorável ao investimento levados a cabo pelo Governo de João Lourenço, e sublinha que “a subida dos preços e os esforços de consolidação orçamental vão reduzir o défice orçamental para 2% do PIB este ano”.
O problema, acrescentam, é que “o peso da dívida vai continuar a aumentar com a desvalorização do kwanza”, por isso “será difícil para Angola reduzir o já de si significativo volume de dívida”, cujo valor é devido em 75% em moeda estrangeira.
Comparando com a Nigéria, a Moody’s diz que “Angola é mais susceptível a riscos externos” e acrescenta que “apesar de Angola dever melhorar o défice da conta corrente para 1,9% do PIB este ano, a sistemática utilização das reservas reflecte os persistentes desequilíbrios externos”.
A dívida externa angolana representa 52% da dívida total do Governo, com cerca de 75% da dívida total a ser denominada ou ligada a emissões em dólares, nota a Moody’s, sublinhando que apesar das vulnerabilidades, “o país deverá continuar a confiar nas linhas de crédito bilaterais para cumprir as necessidades de financiamento externo, o que mitiga alguns dos riscos”.
O executivo, salienta, “deverá endividar-se mais junto de instituições multilaterais como o Banco Africano de Desenvolvimento ou o Banco Mundial, cujo total de empréstimos estava nos 2,1 mil milhões de 2017”.
Angola é o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, com a produção a rondar os 1,65 milhões de barris por dia no ano passado, menos do que no ano anterior, mas também abaixo da previsão da Moody’s para este ano (1,8 milhões).
“A produção de gás e petróleo vai permitir que o valor permaneça em cerca de 1,8 milhões a médio prazo e vai compensar o efeito descendente dos campos em final de produção”, escreve a Moody’s.
As autoridades angolanas, elogia a agência de ‘rating’, “criaram um ambiente transparente e previsível para o sector petrolífero”, sendo o maior desafio nesta área “os custos de produção mais elevados, o que significa que preços mais altos são cruciais para desbloquear investimentos futuros” neste sector.