Educação Financeira
Finanças domésticas e a mulher angolana
Uma reflexão e inquérito
Na maioria das famílias de baixa renda, dinheiro é gerido pela mulher; já nas famílias mais abastadas, a execução financeira segue a cargo do marido.
Nos últimos 20 anos, as finanças da família angolana sofreram grandes mudanças, enquadrando cada vez mais as mulheres na captação e aumento do rendimento da família.
Para muitas delas tornou-se comum que o dinheiro seja gerido pela mulher. Essa é a conclusão de um estudo sobre o orçamento familiar em que se baseia o meu estudo por via de um inquérito realizado há um mês num evento/actividade pública, em que se inquiriu 30 indivíduos, todos maior de idade, de ambos os géneros.
A diferença nos níveis de rendimentos dos homens e das mulheres, assim como mulheres donas de casa vivendo por conta de seus maridos ou maridos desempregados vivendo à custa de suas mulheres empreendedoras bem sucedidas, deixaram de ser algo extraordinário, mas real.
Vale notar que, na maioria das famílias de baixo rendimento, o orçamento doméstico é gerido pela mulher. Já nas famílias mais abastadas, a execução financeira segue a cargo do marido.
“O modelo de gestão financeira depende da estratégia escolhida pelo casal: se a família opta por cortar despesas, a responsabilidade pela execução do orçamento familiar é da mulher, porque ela sabe economizar. Se a prioridade é buscar um emprego de alto padrão remuneratório ou um rendimento extra, o orçamento, na maioria dos casos, é controlado pelo marido”, segundo o meu estudo.
Se ambos os cônjuges têm nível universitário, as finanças familiares são geridas geralmente em pé de igualdade. Na verdade, isso ocorre com as famílias em que ambos os cônjuges têm emprego. Se a mulher, ainda que com vários cursos superiores, é dona de casa, as finanças da família estão, em regra, concentradas nas mãos do marido.
Mesmo a co-gestão do orçamento doméstico significa, na maioria das vezes, que o marido não somente traz para casa o dinheiro ganho, mas concede a sua mulher os poderes para decidir como gastá-lo.
Numa pesquisa realizada em meados dos anos 1990 por especialistas britânicos, 80% dos entrevistados disseram que participavam da administração do orçamento familiar em condições de igualdade com seus cônjuges. Quinze anos depois, esse percentual diminui para 45,6%, enquanto 25% dos entrevistados deram prioridade ao cônjuge do sexo feminino e 23%, ao do sexo masculino.
Sociólogos britânicos também assinalam que a administração financeira conjunta nem sempre significa que ambos têm o direito de voto igual na execução orçamental. Mesmo quando todo o dinheiro da família se junta em um pé-de-meia comum, a última palavra cabe, via de regra, a um dos dois.
Voltando para o caso de Angola, a Mulher está a conquistar maior espaço de trabalho, contudo pode dizer-se que ganha cerca de -20% face ao Homem no mesmo lugar profissional. Além disso, mais de 50% da população de Angola é constituída por mulheres e mais de 60% das universidades é feito por mulheres. Há no meio disto tudo ainda um se não: as mulheres trabalham mais, em média 10 horas por semana em todas as suas responsabilidades e, ainda assim, felizmente, tem o sonho de atingir o topo da carreira e desejos de consumo.
Vamos a algumas conclusões deste inquérito:
1- Qual o maior desafio das mulheres em termos de finanças domésticas?
R: 90%: sobrar dinheiro no final do mês e como investir o dinheiro da poupança: 8%;
2- Que desafios se tratam?
R: Suportar aos custos da renda de casa: com 50% e restante distribuído pelas secções de alimentação e educação dos filhos.
3- Que situação familiar têm no momento:
R: 70% são casadas e vivem com o esposo; 17% solteiras ou divorciadas.
4- No caso de viver com o esposo, as despesas são partilhadas pelos dois?
R: 30%: as despesas são partilhadas; 70% são assumidas pelo esposo.
5- Qual o nível de formação académica têm as entrevistas?
R: 80%: formação académica média.
6- Já tiveram alguma dívida financeira na sua vida?
R: 72% das mulheres entrevistas já tiveram uma dívida num algum momento da sua vida. Deste total, cerca de 20% gastaram menos de um (1) ano para quitar/pagar na totalidade a dívida.
7- Qual é o seu padrão de consumo?
R: 53% das mulheres consideram-se consumistas. 47% ponderadas no consumo.
8- Tem orçamento familiar na gestão da sua vida pessoal/familiar?
R: 90% não tem.
9- Como controlam os seus gastos?
R: 100% controlam pelo saldo do extracto da conta bancária.
10- Tem conta bancária?
R: Sim, a 100% das entrevistas.
O estudo feito e as conclusões apresentadas revelam que há um grande caminho pela frente. As mulheres precisam de se «empoderar» por via da Educação e Formação Profissional. Este é um dos caminhos para a melhoria de condições de vida das mulheres e, por conseguinte, da famílias nacionais. Os esposos têm também um papel em querer mais e melhor para as suas esposas, ajudando-as nas tarefas domésticas e elas poderem estar mais. O homens devem ter a ambição de querer mais para si, mas também as suas esposas.
Dividir despesas é ainda algo que há muito por se fazer e já noutros artigos se falaram disto: as mulheres devem comparticipar mais nas despesas dos restaurantes, nas compras de supermercado. A mulher puxar do seu Cartão Multicaixa é também um motivo de orgulho feminino. É também desta forma que as mulheres evoluem e se tornam cada vez mais «poderosas».
Falar da economia sem mulheres é impossível. Vida financeira doméstica é feita de e com as Mulheres, de forma inclusiva e dialogante, pois com certeza que teremos um mundo melhor, para nós e para as gerações vindouras.