Economia
Falta de sistema ou de liquidez nas agências do BPC?
Banco estatal cede apenas até 500 mil kwanzas nos levantamentos solicitados por empresas nos balcões. Administração admite falta de liquidez e restrições, mas garante que não vai deixar de dar dinheiro. Empresários acumulam dívidas com fornecedores e ficam com salários por pagar.
As empresas com contas domiciliadas no BPC só podem levantar, diariamente e nos balcões dos centros de empresas, entre 200 e 500 mil kwanzas, quando solicitam valores acima de um milhão, o que tem dificultado as operações, segundo apurou o VALOR.
A crise nos levantamentos começou há já várias semanas, mas foi entre finais de Fevereiro e a segunda semana de Março que várias queixas chegaram ao VALOR, com o BPC a estabelecer limites nos levantamentos aquém das necessidades correntes das empresas.
Um do empresário contou ao jornal que, num determinado centro, em Luanda, lhe foi comunicado para não se dirigir a outras agências para pedir mais valores, com a explicação de que o banco teria activado “o sistema de único levantamento no dia”, para quem já tenha recebido o limite numa primeira agência. “Estamos nessa luta há já várias semanas. O grave é que os próprios funcionários estão a dizer-me que não adianta ir às demais agências. Os da Ilha estão sintonizados com os do Baleizão, Morro Bento e os do Largo do Ambiente”, descreve o patrão de uma empresa prestadora de serviços na capital.
Contactado pelo VALOR, o conselho de administração do BPC justifica a medida, sobretudo, com a redução de liquidez nos cofres da instituição. “Não podemos dizer que exista um limite pré-estabelecido no levantamento em moeda nacional, podemos, sim, afirmar que existe um método de racionalização de recursos existentes nas agências e centros de empresas”, explica o banco, acrescentando que, face à escassez nos centros de empresas, a gerência opta por não deixar de pagar nenhum cliente, redistribuindo o valor existente pelos diversos clientes, com um valor previamente definido no dia e adoptando, muitas vezes, o sistema de programação”. Na prática, precisa o banco público, ao cliente é dada a possibilidade de completar o levantamento da quantida requerida, com operações repartidas em dias diferentes.
Queixas de empresas e até de famílias sobre escassez de recursos no BPC são frequentes. Há menos de um ano, o VALOR reportou os dramas vivido por pensionistas, professores e militares que são obrigados a madrugar à porta do banco e ‘viajar’ em busca de uma agência que permita o levantamento de mais de 25 mil kwanzas ao balcão.
Escassez gera dívida
Vários empresários reportaram ao VALOR que a restrição está a causar “vários constragimentos”, desde atrasos no pagamentos de facturas com despesas correntes ao pagamento de salários a funcionários que “ainda recebem na folha”. Para o caso de Pedro Sangueve, empresário do ramo de distribuição, “a situação vai quebrar a confiança com os nossos fornecedores”. “Imagine que esse caso demore mais dois meses. É o caos. Vamos ter dívidas a aumentar, contas com trabalhadores por pagar, entre outras queixas”, desabafa.
Banco aconselha canais digitais
Para minimizar os prejuízos e contrapor a ‘crise’ de cédulas, o banco está a sugerir aos clientes, sobretudo empresas, que, em vez de se dirigirem aos balcões, façam pagamentos por via digital, pelos canais BPC Net e Multicaixa.
“O BPC tem estado a fazer um esforço gigantesco para poder satisfazer os clientes que acorrem aos nossos serviços. Para o caso de levantamento, é normal termos algumas restrições, pelo facto de pagarmos em função do valor existente em cofre, abrindo uma oportunidade na execução de transferências ou pagamentos via canais electrónicos, o BPC Net e multicaixa”, aponta a gestão do maior banco angolano em activo.
Também é indicado como escape às filas ou às limitações das agências o centro de empresas da Rainha Ginga, onde o banco garante “haver menos dificuldades”. “Em situações de força maior, os centros de empresas, na impossibilidade de satisfazer às necessidades de alguns clientes, remetem os clientes e as respectivas solicitações ao Centro de Empresas ‘Rainha Ginga’, que funciona como coordenador e, por esta razão, tem sempre mais disponibilidade de cédulas monetárias,”, remata o banco.