Politica
“Não posso dizer que sinto o retorno das viagens do PR porque a pandemia parou o mundo”
Nesta entrevista com o especialista em Relações internacionais, o Correio da Kianda olhou para Angola, do ponto de vista da imagem que o país vende ao mundo, da diplomacia angolana, bem como da sua posição a nível do continente africano.
Pedro Moreira é analista de assuntos políticos, especialista em Relações Internacionais, área em que é licenciado e mestre. Nascido em 1972, Pedro Moreira é pós-graduado em Gestão e resolução de Conflitos e está ainda a frequentar a sua segunda licenciatura, estando já no 2º ano do curso de Direito, na universidade Lusíadas de Angola, depois de Relações Internacionais.
Como é olha para a actual política externa de Angola?
Falando da actual política de Angola no contexto internacional, houve uma melhoria desde 2017, por conta da decisão do combate a corrupção e a melhoria da imagem da Angola fora do país. E esse combate à corrupção tem feito com que muitos países vêm Angola de um modo diferente, porque já existe um combate cerrado contra a corrupção, e na moralização da sociedade que fazem com que o ocidente e outros países do globo vêm Angola de maneira diferente.
Que comparação faz da política externa de Angola do tempo de José Eduardo dos Santos e a política que está a ser levada a cabo pelo presidente João Lourenço?
Olha, eu tenho a impressão de que são tempos totalmente diferentes. O presidente José Eduardo dos Santos é um presidente que governou o país durante 38 anos, em tempos de muitas dificuldades. Dificuldades em termos de guerra, em termos de evasão sul africana no nosso território. E de salientar que o Presidente José Eduardo dos Santos encontrou um país fragmentado, com guerra e com a ocupação dos sul Africanos. Eu digo sempre que a governação do presidente JES foi feito por etapas. Uma etapa que era de correr com os sul-africanos do país e depois uma etapa da consolidação da paz. Essa paz que veio se conseguir dos primeiros acordos de 1991, onde tivemos a adopção do monopartidarismo, que deu lugar às primeiras eleições, que infelizmente não foram aceites por Savimbi e voltamos à guerra de mais 10 anos. É dos piores tempos que houve, em que tivemos mais destruição de infraestruturas, e do tecido económico e social, até da nossa própria cultura.
Ou seja, depois disso houve um período em que tivemos um boom do petróleo, infelizmente houveram situações degradante que aconteceram e que infelizmente fez com que chegássemos a situações deploráveis. Devíamos ter feito muito mais neste período. Devíamos ter construído estradas boas, devíamos ter fortalecido a nossa economia. Mas é difícil comparar as duas gestões. O presidente João Lourenço tem levado uma política que vem melhorando a imagem de Angola internacional. Infelizmente teve de enfrentar uma pandemia a nível global que veio afectar o preço do barril de petróleo, por isso a nossa economia encontra-se numa situação muito deplorável…
Angola ganhou um prestígio militar a nível internacional, em função da sua história de guerra de cerca de 30 anos. Como olha actualmente para esse prestígio de Angola, a nível internacional?
Angola tem o prestígio por ter combatido um dos exércitos mais temido a nível da África, que é o exército sul africano. Naquela altura o país não tinha muitos do knowhow que hoje temos, como a escola superior de guerra, por exemplo, onde estão a ser formados especialistas de várias áreas e que estão a cimentar o seu statu quo a nível internacional.
Acha que Angola ainda mantém esse prestígio internacional?
Continua sim. Até porque nós somos os mentores da região dos grandes lagos, para a resolução dos conflitos. E o presidente José Eduardo dos Santos, enquanto esteve no poder, fez muito bem. Conseguiu mediar esses conflitos. E hoje o presidente João Lourenço – foi agora congratulado com uma medalha da região dos grandes lagos – continua a aumentar o status na região e também vai fazendo a manutenção do seu potencial.
Um dos grandes pontos notáveis é que vemos que o Ministério da defesa tem estado a se potenciar cada vez mais, com vista a manutenção do prestígio do país a nível da África austral.
Como olha para os constantes ataques com vítimas mortais em Moçambique? Recentemente, a cidade de Palma foi atacada e parece que a situação continua a agravar-se naquele país…
O recente ataque de insurgentes à cidade moçambicana de Palma ganhou manchetes globais porque estrangeiros foram mortos e porque o grupo Estado Islâmico disse que estava por trás disso, levando a divisões acentuadas sobre o conflito. Esse conflito de Moçambique deve ser interpretado de forma exagerada porque na verdade Moçambique, já vive um conflito de quase quatro anos e nunca a comunidade internacional teve esta preocupação. Com este ataque a vila de Palma. Talvez porque deste ataque houve mortes de estrangeiros tendo em conta o que a mesma vila representa neste momento com a descoberta do gás natural, e que a Total está presente nesta região, por isso é importante que o governo Moçambicano, receba ajuda de países da região com uma força de manutenção de paz da SADC, para poder acudir este problema que pode afectar alguns países vizinhos. Eu, acho que já é altura da SADC e UA, proporem em conjunto com o governo de Moçambique a sua ajuda para acudir esta situação e acabar com o problema dos conflitos naquele país irmão.
Quando vê-mos a reivindicação do estado Islâmico, ato bárbaro começa a se desenhar um cenário preocupante para o governo de Moçambique e sua população. Por tanto, deixa de ser um problema de Moçambique passar a ser um problema na região com o receio do crescimento do IS, nesta região. Por isso acho peremptório ajuda para Moçambique neste momento.
Na eventualidade de Moçambique manifestar publicamente necessidade de apoio da comunidade internacional, Angola está em condições de atender ao pedido para acabar com a guerra ou a experiência menos boa com a MISSANG, na Guiné-Bissau, faz com que Angola possa se resguardar?
A experiência que tivemos na Guiné Bissau foi um momento não menos bom, mas em termos de apoio aos países, por vezes dão o apoio e acabam por não ter o apoio que esperavam. Mas acredito que a guerra em Moçambique já não seja um conflito para um único país apoiar, em termos de busca pela solução. É um conflito para a região toda porque a instabilidade em Moçambique causa um problema na região e um dos países que pode sofrer muito é a própria África do Sul, devido a partilha de fronteira comum. Vejamos que em Moçambique já aparece ala do grupo Islâmico e pelo que a imprensa tem divulgado, do novo descobrimento de mercúrio e do gaz natural na região de Cabo Delgado, faz com que alguns países, ou grupos com interesses inconfessos, possam potenciar aquele grupo para criar uma instabilidade. Mas acredito eu que se Angola for convidada a prestar algum apoio, com alguns membros da comunidade da SADC e até podem criar um grupo de manutenção de paz e poder ajudar Moçambique.
Não existe o receio de se repetir a experiência não muito boa da Missang, em 2022?
Receio pode haver, mas acredito que é de uma falha que vem a experiência para poder melhorar a própria missão. E a acontecer, nesta missão Angola não irá sozinha. Terá a participação de outros países membros da região. Quando começa a aparecer o Estado Islâmico começa a preocupar a própria região. E havendo instabilidade na região afecta todos os países, porque sabemos que as células do Estado Islâmico funcionam em paralelo. E esta funcionalidade pode criar dificuldade para alguns países e afectar as actividades económicas em algumas fronteiras, como por exemplo a recém-criada Zona de Comércio livre do continente. Por esta razão, se não se encontrar uma solução conjunta para acabar com a guerra que se vive em Moçambique, o problema poderá vir a ser conjuntural e deixará de ser um problema só de Moçambique.
Como Angola está ser vista actualmente, a nível internacional, tanto por angolanos na diáspora, quanto por estrangeiros?
Olha, a actual situação económica de Angola deixa os angolanos lá fora um pouco cépticos, porque nós sabemos que o número de desemprego vai aumentando, a inflação chegou a atingir níveis assustadores, empresas a fecharem, e, para os angolanos que já estiveram aqui, naquele período de 2002, é normal que agora olhem para o país com um olhar céptico, por causa dos factores económicos que avancei. Mas nós que sempre vivemos em Angola vemos um país, com uma esperança, sempre de um país melhor amanhã. E isto requer paciência. Nós como angolanos é que temos de acreditar no nosso país, para que ele melhore. Não podemos esperar que o estrangeiro venha fazer por nós. Nós é que temos de fazer pelo nosso próprio país.
Que análise faz da nova estratégia politica do reino de Espanha que decidiu iniciar investimentos em África? A escolha de Angola como primeiro país de África a ser visitado pelo primeiro ministro Pedro Sanches tem algum significado?
A presença do Reino da Espanha em Angola, já vem desde o período de conflitos em Angola, em áreas como a marítima e tantas outras. No período de 1992, com o culminar dos acordos de Bissese, que pôs fim o conflito armado, que o Goveno angolano, recorreu ao Reino da Espanha para ajuda na formação de elementos da polícia em diversas áreas desta instituição governamental. A Espanha identificou Angola como uma das suas prioridades em África numa altura em que o país sofre ainda os abalos de uma grave recessão económica, o que se constitui uma oportunidade para atrair investimentos não só para relançar a sua economia mas também para a diversificar. Assim sendo, os dois governos parece terem decidido ignorar os casos de corrupção envolvendo a venda de material policial e a construção de um mercado de abastecimento em Luanda que segundo as investigações em Espanha custaram ao Estado angolano centenas de milhões de dólares. No meu entender os dois governos agiram com maturidade em priorizar o que é, de maior relevância neste momento para os dois governos ver o futuro em que os governos possam propiciar para os seus países. A cooperação bilateral entre os dois países, é importante neste período onde os dois governos vêm-se na necessidade de fortalecer ainda mais as relações bilaterais e alargar a cooperação em diversas áreas.
Esta cooperação é muito importante está relação para os dois países, principalmente para o lado dos empresários angolanos, que devem aproveitar os empresários Espanhóis que dispõem de um “knowhow” de grande relevância para ajudar no intercâmbio entre as partes. Para concluir Angola deve aproveitar esta oportunidade e procurar soluções para a saída da crise económica que Angola vive com parceiros fortes.
Nas suas relações sociais vê mais angolanos interessados em emigrar ou mais angolanos interessados em retornar ao país?
Infelizmente há mais angolanos interessados em emigrar, porque a conjuntura social e económica e social não dá para termos angolanos a virem para o pais. Mas numa conjuntura em que se encontra o mundo, às pessoas também não permite (…). Há muitos angolanos que estão a abandonar tudo aqui no seu país e a migrar.
As recentes fricções que envolveram o governo angolano e a embaixada americana, sobre a alegada investigação da consultora Pangea sobre os bens do Presidente João Lourenço, acha que terão beliscadas as relações entre Angola e os EUA?
É uma situação que não é bom para qualquer Estado. Até agora não vimos, ninguém provar se de por acaso é um facto. Mas devo dizer que não sei o que se terá passado de facto para que houvesse a tal fricção, em relação a entrevista, mas que tenho a dizer que nesta altura de pré-campanha tudo vale.
A serem verdadeiras, a pesquisa da consultora, belisca a imagem do Presidente João Lourenço?
Uma situação dessa não belisca só a imagem do Presidente. Belisca a imagem do próprio país. Portanto, uma imagem dessas não será nada bom para o nosso país,porque nós estamos a fazer com que consigamos atrair investidores estrangeiros para o país. Se nós tivermos a trazer uma imagem dessa, os investidores poderão demonstrar cepticismo se vale apenas acreditar ou não. E nós já tivemos um período muito triste que não devemos repetir. Começamos a fazer um bom trabalho e eu acho que devemos continuar para consigamos recuperar a nossa imagem internacionalmente.
Recorrentemente vemos jovens angolanos a se manifestarem, quer em Luanda, quer nas outras províncias. Para quem está fora, está a ver um país com uma juventude com maturidade politica ou está a ver um país, com muitos problemas ainda por resolver?
Olhe, a nossa democracia é muito jovem e a nossa constituição garante aos cidadãos o direito à manifestação. Então, é normal que todas as semanas os jovens se manifestem, por causa da situação económica que está a se viver agora, como da falta de emprego, e todo o tipo de manifestação. O importante é que isto demonstra claramente que o país vai se democratizar aos poucos. Não podemos, por exemplo, nos comparar à Namíbia ou à Cabo Verde, que não tiveram uma história de guerra como nós tivemos. Tenho dito que cada país tem a sua realidade. O importante é que façamos bem as coisas, para que possamos democratizar mais o país, e acreditar na sua melhoria. Estamos a viver o processo de democratização e o processo de democratização carece de um período de mudança…
Qual imagem de Angola que se está a vender la fora, do ponto de vista político?
A imagem que se está a vender lá fora é de uma Angola mais aberta, com debate politico, apesar de um ou outro assunto que possa aparecer, mas hoje, as pessoas conversam abertamente, falam de questões que os preocupam (…) não é que noutrora não houvesse, antes havia só que agora é mais aberta. E amanhã quando vier um outro presidente poderá ser uma abertura maior em relação a que se vive agora. É assim que são feitas as democracias.
Angola tem boas relações com os EUA, Rússia, China, que são entre si, países antagónicos. A estratégia de boas relações com esses países não periga a nossa estabilidade na relação com o ocidente?
Nas relações entre os países, só existe interesse. Não existe nada de graça (…) nesta altura acredito não beliscar, porque o que se pretende ou o que cada um procura são os seus próprios interesses. No período da Guerra Fria, sim, havia aquela crispação. Hoje vemos que Angola consegue fazer a gestão da relação com todos esses. Angola, por ser um país soberano tem o direito de ter boas relações, com quem quiser, sem que deixar que qualquer outro país interfira na sua situação interna.
Como é que olha para a relação entre Angola e Portugal, que volta e meia surge uma fricção cíclica. É preocupante ou é normal que assim aconteça?
Eu digo sempre que a relação entre Angola e Portugal nunca vai deixar de existir, por causa de factores históricos. Nós fomos colonizados por Portugal durante 500 anos e nesse tempo todo Portugal deixou raízes aqui em Angola, que ninguém poderá negar. o que deve existir é que Portugal continue a olhar Angola como um Estado soberano dentro dos marcos das relações entre os Estados, sem imiscuir-se nos assuntos internos. O que temos vindo a notar, são as diferentes formas de lidar, a olhar pelos governos que dirigem o país num dado período. Por exemplo, quando Portugal teve Mário Soares como Presidente, a relação com o governo que dirigia o Angola desde 1975 era diferente dos períodos em que estiveram Cavaco Silva e José Sócrates. E era diferente por quê? Por causa da linhagem política que nós temos.E no meio de tudo isso existem interesses de cada governo (…), mas o que é certo e que eu continuo a defender é que não existe interferência directa de Portugal, nos nossos assuntos internos.
Que avaliação faz da diplomacia angolana com a Europa, Ásia, América e da própria África. Angola está geograficamente mais próximo dos países de África, mas em termos de relações parece estarmos mais ligado ao ocidente. Até que ponto isso é vantajoso?
Hoje o mundo é totalmente ocidentalizado, porque é o ocidente que praticamente domina as questões mundiais desde os finais da guerra fria. A nossa relação com o ocidente é aquela que nós vamos buscando, em termos de knowhow, em termos de financiamento, e em termos de cooperação. Já a nossa relação com a África é a mesma, só que em Alguns países. E essa assinatura da Zona de Livre Comércio da nossa região, começa já a dar sinais diferenciados do que nós fazíamos no passado. Hoje temos uma diplomacia mais aberta com vários países, até hoje temos uma diplomacia com os países árabes, como o Dubai, coisas que no passado não tínhamos. Hoje temos o Dubai como um parceiro económico muito forte. Então com países de cada continente vamos buscar o que é necessário à nossa economia para termos uma economia forte e termos uma solidificar a nossa economia.
Acha que temos um Ministério das Relações Exteriores firme no cumprimento das suas obrigações? Faço esta pergunta a olhar para os vários factores. Um dos quais, por exemplo, é o facto de recorrentemente vermos cidadãos nacionais no estrangeiro a reclamar e a denunciar comportamentos e acções nas nossas representações diplomáticas…
O Grande problema é que, eu me lembro, no discurso do presidente João Lourenço Falou da Diplomacia económica. Ou seja, os representantes das nossas embaixadas têm de demonstrar agilidade, no sentido de atrair o investimento estrangeiro e melhor atender os cidadãos nacionais no estrangeiro, por eles foram colocados ai para isso. Eu sinto que falta esta agilidade. Daí que eu acho que o governo devia ser mais duros com os representantes do nosso país la fora, na maneira como lidam com os angolanos na diáspora e das estratégias a adoptar para que possam atrair investimento estrangeiro à Angola. aqui a atenção é para os representantes para a área económica, para a área de cultura, que devem fazer um trabalho lá para poderem trazer aqui. Vou dar um grande exemplo, que tenho estado a acompanhar é do nosso embaixador na Zâmbia, que durante a sua estadia já trouxe empresários para investirem aqui. Infelizmente estas acções têm estado a ser pouco propalado (…) não é que não aconteça. Acontece sim, mas tem sido menos propalado.
Nos dois primeiros anos de Governação de João Lourenço viajou muito para o exterior em busca de investimento estrangeiros. Sente que já estamos a ter um retorno das viagens do Presidente da República?
Realmente o Presidente João Loureço fez digressões. Fez viagens de diplomacia económica pelo mundo. Entretanto eu não posso dizer que sinto o retorno das viagens porque a pandemia parou o mundo. E parando o mundo, ao invés de sentirmos o efeito positivo estamos a sentir o efeito contrário e com a situação do mundo não se pode fazer uma análise económica enquanto o mundo estiver parado. Um ou outro empresário tem vindo cá, que vão comprando alguns empresas angolanas que andam paradas. Para mim este resultado poderá vir depois da pandemia (…) por enquanto não vemos os resultados que devíamos ver.
Angola está a receber muitos apoios de organizações internacionais, como o FMI, a União Europeia. Isto demonstra que a imagem do governo de João Lourenço inspira confiança à comunidade internacional?
Eu não sou muito apologista de uma interferência directa do FMI, mas para o FMI poder conceder os apoios financeiros que tem vindo a prestar tem fiscalizado a própria estrutura económica como se tem visto, o FMI começou a ver que o governo tem prestado regularmente os relatórios bem acompanhados e tem cumprido com as exigências do FMI. E esta receptividade que o FMI tem vindo a receber do governo angolano transmite confiança à Comunidade internacional, sobre os apoios que tem dado.
Se fosse nomeado Ministro das Relações Exteriores …
Por não estarmos dentro da casa não conseguimos ter uma ideia precisa…
Em função daquilo que sabe, que conhece e que vê…
A cooperação entre os países da África Austral devia ser mais alargada, mas estrita. Dar mais abertura aos empresários da nossa região. Eu sempre defendi que o empresário nigeriano Aliko Dangote deveria estar a investir em Angola. Talvez pediria um encontro com grupo de empresários angolanos a ver as áreas em que pudesse actuar, e expandir mais a cooperação com os países da América Latina e da Oceania para poder levar o nome de Angola para mais distante. Não é que o Dr. Tête António que lá está não esteja a fazer (…), mas o Ministério das Relações Exteriores não engloba só relações diplomáticas, mas uma série de coisas, e sectores, desde militares, económica, entre outras.
Como alguém que conhece e estuda as relações exteriores, que aspectos gostaria ver melhorados na diplomacia angolana?
Mais apoio às comunidades angolanas no estrangeiro, que é uma das coisas que sempre defendi, e melhorar mais a política económica. A relação económica com os outros países.
Acha que a comunidade angolana no estrangeiro está abandonada…
Não é que esteja abandonada, mas que precisa ser mais vista… nós ainda temos muitos recursos humanos fora de Angola que precisam ser atraídos para Angola, mas dificilmente vamos poder fazer isso, se nós não criarmos as condições para que possam cá vir.
De que condições está a se referir?
Falo de condições de trabalho, de oportunidades para que quando chegassem aqui se sentissem que estão aqui para colaborar para o seu país, dar o seu máximo porque aqui é a terra mãe. Falo isso porque eu conheço histórias de muitos angolanos que foram formados pela Sonangol e nunca voltaram para o país. É um dinheiro que o governo gastou e que não teve retorno. Então essa relação com a comunidade de Angolanos no estrangeiro devia ser mais ampla e cooperação com os outros países, para que possam tratar melhor a nossa comunidade em caso de necessidade de se defender melhor os nossos concidadãos, em qualquer situação. Outro ponto não menos importante é dar mais atenção a nossa diplomacia económica e cultural para poder atrair mais investidores e dar a conhecer mais a nossa cultura.
Que aspectos acha que seriam cruciais para se poder atrair ao país os angolanos que estão no estrangeiro?
Oportunidade com base na meritocracia. Dar mérito à quem tem capacidade. E deixar a questão cunha para trás. Eu converso com muitos angolanos la fora e eles reclamam disso. Da falta de oportunidades de emprego em Angola. mas atenção, que é normal que eles também reclamem por causa das condições sociais.
Ainda não se vive isso em Angola?
Vive-se em Angola, mas ainda não muito como gostaríamos ver. Eu digo que vive-se, buscando o exemplo do PCA do Porto do Lobito, dr. Celso Rosa que fez um teste a todos os funcionários e descobriu que existem pessoas que estavam em determinados cargos, mas que não tinham capacidade de lá estar.
Eu também sei de muitos angolanos com vontade de voltar à Angola para virem investir no país, mas não barrados. Existem uma série de burocracia nas nossas representações diplomáticas, que impede os cidadãos angolanos virem. É necessário mais eficiência no atendimento nas representações diplomáticas, porque é a burocracia que atrai a corrupção. Eu oiço muitos relatos de pessoas que dizem conhecer cidadãos angolanos no estrangeiro, mas que se deparam com o excesso de burocracia. Portanto, esta era uma situação que gostava atacar, caso fosse ministro das relações exteriores.
Quando olha para os outros países, o que anseia para Angola?
Uma Angola melhor para todos os angolanos, em todo os aspectos. Uma Angola em que se vê o outro como um adversário politico e não como um inimigo politico. É preciso aceitarmos a diferença para vivermos melhor e termos uma Angola melhor…
Acha que Angola está um país estável?
Em termos políticos não. Não estamos estável porque nós não estamos a conseguir a preservar a paz.
Os acontecimentos em Cafunfo não terão beliscado a imagem de estabilidade política de Angola a nível internacional?
Acredito que não. Existe um grupo independente que está a trabalhar no relatório. Mas a questão de Cafunfo são problemas sociais, que já deviam ter sido resolvidos há muito tempo…