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As várias exonerações que João Lourenço levou a cabo junto das várias empresas estatais do país abalou as estruturas do poder no país. Da indústria diamantífera ao petrolífero, passando pela comunicação social, banca comercial pública e o próprio Banco Nacional de Angola, o novo Presidente da República, empossado a 28 de Setembro, afastou vários nomes anteriormente nomeados por José Eduardo dos Santos, incluindo a filha do antigo presidente, Isabel dos Santos, da liderança da petrolífera estatal.
Mais de 30 oficiais generais foram retirados do seu cargo, assim como os nomes que compunham uma dezena de empresas públicas. Em sentido contrário, foi realizadas no mesmo período cerca de 250 novas nomeações.
Nas redes sociais não se fala de outra coisa. Partilham-se comentários, notícias (nacionais e estrangeiras) e fazem-se brincadeiras com a situação, surgindo comparações entre João Lourenço e o robô mais famoso do cinema de acção: há quem chame ao novo Presidente de O Exonerador Implacável”.
Quem foi às ruas, ouvir o que os angolanos pensam, escutou ecos de quem está contente por João Lourenço estar a fazer aquilo que, afirmam, prometeu nas eleições: “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.
O mundo já olha para Angola com “optimismo e esperança”
A crer num dos últimos relatórios do Grupo Eurasia, uma das maiores empresas do mundo em consultoria política de risco, com sede nos Estados Unidos, há optimismo em relação aos próximos tempos em Angola, com o documento a considerar que João Lourenço foi “mais rápido que o esperado a lançar as reformas”. Os analistas da consultora frisam também que “para além das mudanças de pessoal, incluindo a remoção da família e dos associados de Dos Santos de vários cargos no Governo, o novo Presidente está também a eliminar normas e regulamentos que beneficiavam a família e os seus interesses”.
Mais: a “rapidez com que garantiu o apoio dos militares” e “ao avançar rapidamente sobre a família dos Santos”, apontam, logrou que os críticos da família se tornassem nos seus novos apoiantes.
Cavalgando esta onda de optimismo e esperança em relação ao país, também as nações europeias, pela voz do embaixador da União Europeia em Angola, Tomáš Ulicný, salientaram que “estão a ser criadas as condições para que Angola possa superar alguns dos problemas que a afectam em matéria económica e social”. O embaixador explicou ainda que “apesar da difícil situação financeira que o país atravessa, a nova liderança está a dar provas de que existe um plano ambicioso, mas exequível para levar Angola e o seu povo ao patamar que merece”.
Os mercados, esses, parecem igualmente tranquilos em relação ao país. A Moody’s uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito do mundo, disse recentemente que “uma descida do rating é improvável nos próximos anos”, sendo que “o crescimento deve manter-se positivo, o sector petrolífero deve crescer moderadamente até 2022”, conseguindo “apoiar a gradual recuperação, ainda que abaixo da média da década passada”.
A agência frisa ainda que “o risco político baixou com uma sucessão presidencial pacífica e com sucesso”.
Uma “razia” a que nem Isabel dos Santos e irmãos escaparam
A razia às administrações escolhidas por José Eduardo dos Santos começaram a ser fortemente sentidas nos primeiros 50 dias de governação, com João Lourenço a aproveitar o 42º aniversário da independência angola para frisar, em discurso, que: “Existem inúmeros obstáculos no caminho que pretendemos percorrer, mas temos de reagir e mobilizar todas as energias para que esse cumprimento se efective nos prazos definidos”.
As chefias militares foram fortemente afectadas, com a exoneração de 19 oficiais generais, anteriormente nomeados, que ocupavam vários lugares-chave. Segundo a Casa Civil do Presidente da República, foram escolhidos, pelo novo chefe de Estado, outros 54 oficiais generais para várias áreas de confiança.
Também o comandante-geral da Polícia Nacional, assim como o chefe da secreta militar, foram substituídos, respectivamente, pelo comissário-geral Alfredo Mingas e o general Apolinário José Pereira.
Contudo, a grande “bomba” eclodiu a 15 de Novembro, quando o nome que veio à liça foi o de Isabel dos Santos, exonerada do cargo de presidenta do conselho de administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol).
Começava o processo de afastamento dos filhos de José Eduardo dos Santos.
Ainda no mesmo dia, o Estado angolano cessou o contrato que tinha com a empresa Semba Comunicação, responsável pela gestão do canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA), e que tem como sócios os irmãos Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos Santos ‘Coreon Du’, também filhos do antigo chefe de Estado. Pelo meio, os próprios conselhos de administração da TPA também sofreram uma remodelação total.
A Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), a segunda maior empresa nacional, foi também alvo de uma exoneração surpreendente, com a retirada do cargo de Carlos Sumbula. Esta mudança pode constituir outro golpe na família dos Santos, já que o sector diamantífero é uma área em que Isabel dos Santos e o marido, Sindika Dokolo, têm vários interesses comerciais. José Manuel Ganga Júnior, antigo director-geral da Sociedade Mineira de Catoca, responsável por 75% da produção diamantífera anual do país, foi o nome escolhido para se sentar no ‘cadeirão’ da Endiama.
Editorial do Jornal de Angola afastou cenário de conflito político
Victor Silva, escolhido por João Lourenço para ficar à frente do Jornal de Angola, escreveu um editorial no jornal onde dava uma versão sobre o que levou à exoneração de Isabel dos Santos. De acordo com o recém-empossado director (outro nome escolhido por João Lourenço), o afastamento da Sonangol aconteceu porque a filha de José Eduardo dos Santos era uma “pessoa politicamente exposta”, tendo depois afastado a ideia de que que haja um conflito político entre o actual Presidente e o ainda líder do MPLA.
“A questão não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República”, explica o director da publicação. “Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífera nacional não conseguia os financiamentos externos necessários ao seu desenvolvimento por saber-se que no combate ao branqueamento de capitais há pessoas politicamente expostas, as chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial”, justifica. Na visão de Victor Silva, esta situação “viu agravar a sua dívida [da Sonangol] e complicar as relações com as operadoras estrangeiras”.
“Tratou-se, portanto, de uma medida de gestão, pura e dura”, rematou, afiançando que o cenário levantado de que se estaria perante uma ‘caça às bruxas’ a pessoas próximas ao ex-Presidente e líder do MPLA mais não é um do que “um falso problema”.
‘Resposta’ de Isabel dos Santos não se fez esperar
Isabel dos Santos, por sua vez, contra-argumentou, divulgando um direito de resposta ao editorial – o Jornal de Angola não publicou o texto, segundo a mesma, porque lhe foi dito que o mesmo excedia os limites em tamanho.
Para a empresária, na origem de tudo está facto de a Sonangol “não ter conseguido refinanciar dívida há mais de dois anos”, frisando que quando assumiu a liderança da petrolífera esta tinha um serviço da dívida “incomportável”, na ordem dos 14 mil milhões de dólares, com pagamentos de sete mil milhões de dólares a desembolsar em 2016 e 2017.
“A situação com que o conselho de administração que liderei se defrontou em Junho de 2016 era de extrema gravidade e de ruptura financeira”, recorda.
Durante os 17 meses que esteve à frente da Sonangol, Isabel dos Santos garante que fechou um acordo de restruturação bastante vantajoso, “reduzindo substancialmente o serviço da dívida, e permitindo alargar os prazos de maturidades”. A empresária afiança que com a “reestruturação financeira” que encetou fez com que a dívida bancária baixasse para os sete mil milhões dólares em Junho de 2017, ao mesmo tempo que o serviço da dívida desceu para 2,6 mil milhões de dólares em 2017 e para os 1,4 mil milhões de dólares em 2018.
Mais recentemente, ficou-se a saber que a empresa pública Sodiam, responsável pela comercialização dos diamantes do país, saiu da sociedade que controla a holding do grupo De Grisogono, a joalharia de luxo suíça detida por Isabel dos Santos e o marido.
A Sodiam justifica a sua retirada com “razões de interesse público e de legalidade”.
“A participação da Sodiam EP na Victoria Holding Limited, e indirectamente no grupo De Grisogono, gerou, desde a sua constituição, em 2011, exclusivamente custos para a Sodiam, em virtude quer dos financiamentos bancários que contraiu, quer dos resultados negativos que têm sido sistematicamente apresentados pelo grupo, decorrentes de um modelo de gestão adoptado a que a Sodiam EP é e sempre foi alheia”, referiu através de comunicado.