Diversos
“Estamos abandonados ao nosso próprio destino”
A falta de alimento e de electrificação, os amontoados de lixos, a ausência de água potável, valas ao redor do bairro, a falta de policiamento e a criminalidade são algumas das razões que levam os moradores do bairro Chendovava, em Cacuaco, sentirem-se “abandonados ao seu próprio destino” pelo Estado angolano.
A equipa do jornal Correio da Kianda, deslocou-se nesta segunda-feira, 03, ao bairro Chendovava, na comuna do Kikolo, onde manteve contacto com alguns moradores desta localidade que, aos nossos microfones, lançaram um grito de socorro. Segundo eles, já não suportam mais a situação de pobreza extrema que vivem.
“A pobreza aqui é extrema”, disse uma das moradoras do Chendovava e acrescentou que o bairro tem sofrido inundações em época chuvosa, que permite o convívio com répteis perigosos, devido os amontoados lixos que espreitam as residências. Criação de pequenas facções criminosas e prostituição estão também entre os maiores problemas deste bairro.
Teresa Paulo fala que o bairro foi esquecido pelas autoridades angolanas. “Aqui quando chove as ravinas ou valas têm inundado as nossas casas e, todas as vezes que acontece, temos que nos abrigar em casa de outros familiares”, apontou e argumentou não ter condições para mudar de residência: “o meu trabalho é recolher cantis e metais para vender”.
Mãe de seis filhos, Teresa conta que o seu marido teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e passa por inúmeras dificuldades para sobreviver e conseguir medicamento para dar continuidade ao tratamento do esposo e sustento dos seus filhos.
José Pedro João é um menino com apenas 11 anos e já recolhe objectos para vender. Segundo ele, é para ajudar a mãe por que o pai está desempregado: “eu recolho bronze, cantis e banheiras para ir pesar. É a forma que batalho para ajudar a minha família e para ‘fazer bolso’”.
Intervenção do Estado
Os moradores apelam a intervenção do Estado na questão da vala que em época chuvosa tem acumulado lixo, mosquito e tem provocado várias mortes.
“Aqui está muito mal, não está bom, é lixo, água parada”, lamentam. Segundo os moradores, só neste ano a época chuvosa provocou três mortes, de duas senhoras e um de um senhor, que supostamente estava embriagado e que tentou atravessar a vala.
Para dona Rosa, a crescente onda de criminalidade na zona tem provocado o despovoamento: “a delinquência neste bairro não vele a pena. As pessoas não dormem, bandidagem aqui, é verdade, aquilo é assaltar as casas, até outras vizinhas, já não vivem mais aqui, mudaram de casa por causa da delinquência”.
Já para o senhor Eduardo Miguel, o maior problema que aflige os munícipes deste bairro é a falta de água. Segundo ele, o bairro nunca foi contemplado com o programa Água para Todos.
“O nosso maior problema aqui é a água. A administração não tem se preocupado com este problema”, disse e acrescentou que várias vezes a administração municipal prometeu resolver e até então não resolve a situação. Por outra, “o lixo nas valas a delinquência e a prostituição nesta fase da covid-19, são problemas que nosso governo devia tomar nota”, frisou.
Alguns moradores que preferiram não se identificar reclamam da falta de segurança, pois, segundo eles, há muita disputa e confrontos entre as gangues. “Segurança está bem complicado. A polícia não vem aqui, o que facilita o aumento da criminalidade na zona”, disse um morador.