Politica
Estado da Nação: o que se espera do discurso de João Lourenço?
O Presidente da República, João Lourenço, discursa, nesta quinta-feira, 15, à nação, pela terceira vez desde que ascendeu ao poder, em Setembro de 2017. Este é o terceiro dos cinco anos do seu primeiro mandato à frente do país, um ano marcado pela estagnação da economia, agravada pela pandemia da covid-19, que assola o mundo, perda do poder de compra pelas famílias, taxa de desemprego acentuada, principalmente pela juventude, que diz estar esquecida dos 500 mil postos de trabalho prometidos há três anos.
O Correio da Kianda ouviu vozes de diferentes extractos sociais, com destaque para os políticos, a saber da sua expectativa a volta do que João Lourenço tem a dizer aos angolanos, depois de três anos à frente dos destinos da nação.
Manuel Fernandes, do partido PALMA, uma das forças políticas que compõem a coligação CASA-CE, disse esperar do discurso do Presidente da República “uma radiografia real e correcta que corresponda com a situação factual do país, a situação social das famílias”, bem como “as perspectivas para a concretização das autarquias em 2021”, inicialmente previstas para 2020, “que passos concretos estão a ser dados para a concretização da verdadeira diversificação da economia e para a massificação da produção nacional”.
Para o político, para que se avalie positivamente o desempenho do PR é necessário que as políticas que têm sido feitas se reflictam em benefício da vida do cidadão, “mas quando pede-se ao cidadão para abrir mais um furo no cinto, claro que a avaliação só pode ser negativa”. Manuel Fernandes diz ainda que “estamos num quadro trágico difícil com duas realidades, uma discursiva por parte dos dirigentes e outra, aquela que é a real” vivida pelos cidadãos.
Quem alinha do mesmo pensamento é o Presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel, que espera um “esclarecimento do que se tem feito para a estabilização da economia e a recuperação do poder de compra das famílias”.
Outra preocupação apresentada por Benedito Daniel é a degradação do tecido social em Angola, que ao entender daquele líder partidário, deve-se à falta de moralização por parte dos dirigentes angolanos, por isso espera que o Presidente da República anuncie as medidas que estão a ser feitas para a recuperação económica do país, bem como para a criação de postos de trabalho para a juventude.
Já o académico Carlinhos Zassala espera do presidente João Lourenço um discurso de unidade nacional, através do qual demonstre que é presidente de todos os angolanos, independentemente das filiações partidárias.
O jovem Anacleto da Conceição, residente no município do Cazenga, em Luanda, disse esperar do discurso do mais alto mandatário da nação uma explicação concreta sobre a luta contra a corrupção, apresentação do que já se melhorou no país em justificação ao lema do partido, “Melhorar o que está bom e corrigir o que está mal”.
O jovem, de 26 anos, espera também que o “presidente justifique que tratamento estão a ser dados aos activos que Estado tem vindo a recuperar, sem esquecer dos 500 mil postos de trabalho, pois somos muitos que estamos à espera destes empregos para sairmos desta penúria em que nos encontramos, mesmo tendo formação superior”.
Adiamento das autarquias
Em 2017, aquando da realização da sua campanha eleitoral, enquanto candidato do MPLA, João Lourenço prometeu a realização das primeiras eleições autárquicas no país, para o ano de 2020, acto que não se realizou.
Manuel Fernandes, da CASA-CE, entende que a não realização, em 2020, das primeiras autarquias locais em Angola, anunciadas em 2017, deve-se a factores alheios ao Executivo, tendo atirado a responsabilidades à Assembleia Nacional, porque esta “não fez bem o seu papel” na aprovação de todo o pacote de leis sobre as autarquias “por ter aprovado apenas nove das 12 leis do pacote legislativo autárquico”.
Reconhece, por outro lado, que o maior peso de responsabilidade atribui-se ao executivo, que deve criar as condições infra-estruturais para a realização do pleito eleitoral autárquico.
Já Benedito Daniel espera que no discurso desta quinta-feira o Presidente da República anuncie a data para a realização das autarquias bem como o respectivo calendário.
Pré-Balanço dos três anos
Manuel Fernandes termina fazendo um pré-balanço do consulado de João Lourenço como Presidente Da República olhando para a vida económica dos cidadãos, dando nota negativa, “porque quando o presidente chegou ao poder, o saco de arroz custava a volta dos três mil kwanzas, e hoje custa cerca de 15 mil, a nota de 100 dólares estava a 23 mil ao passo que hoje custa 90 mil kwanzas.
Convidado a fazer um pré-balanço dos três anos do consulado de João Lourenço, Manuel Fernandes avança que está-se longe de se concretizar as promessas feitas, com o destaque para os cerca de 500 mil empregos prometidos. “o presidente havia levantado muito a fasquia das suas promessas e está longe de os concretizar e “não estamos em crer que o presidente venha a público nos próximos dias a pedir perdão aos angolanos pelo não cumprimento das promessas”.
O presidente dos renovadores sociais diz que o discurso desta quinta-feira já não se pode considerar um pré-balanço, mas “é mesmo um balanço, pois estamos já há cerca 36 meses de poder de João Lourenço em Angola.
Benedito Daniel esperava também que o problema de falta de vias de comunicação para o escoamento da produção agrícola para os principais centros de consumo, bem como da indústria transformadora, tivessem sido ultrapassadas no mandato de João Lourenço.
A UNITA, maior partido na oposição em Angola convocou, na ultima terça-feira, uma conferência de imprensa, através da qual manifestou a sua posição sobre o que deve ser o discurso do Presidente da República. Adalberto Costa Júnior instou João Lourenço a usar o seu discurso sobre o Estado da Nação para trazer mais dados aos angolanos e lamentou que a falta de transparência nos negócios do Estado continue a ser a regra.
A respeito, o líder dos “maninhos” disse estar preparado para mostrar um “cartão vermelho” ao chefe do executivo angolano face ao estado em que Angola se encontra que, no seu entender, é “bem pior do que há três anos, quando o presidente iniciou o mandato”.
Adalberto Costa Júnior espera, por isso, que João Lourenço apresente “um discurso coerente, que reflicta o verdadeiro estado em que o país se encontra”, menos centrado em promessas e mais focado num diagnóstico da situação económica e social do país.
O MPLA, na voz do seu secretário para a Informação, Albino Carlos, diz que o que os “camaradas” esperam do discurso do Chefe de Estado é a reafirmação da sua vontade em estabilizar a economia nacional, prosseguir com firmeza no combate à corrupção e à impunidade e, sobretudo, vincar as medidas mais adequadas possíveis no sentido de melhorar os efeitos causados pela covid-19 na economia Nacional e da vida dos cidadãos.
O secretário para a Informação revelou que a expectativa do país e dos cidadãos a volta do discurso do presidente aumenta ainda mais as responsabilidades do seu partido sobre os desafios do país.
“Vamos saber corresponder com a expectativa da sociedade na luta contra a impunidade e a corrupção, uma vez que estes dois fenómenos prejudicaram a reputação do país a nível interno e também internacional, o que criou um espírito de desesperança por parte dos cidadãos”, afirmou.
Albino Carlos disse que o MPLA faz um balanço positivo dos três anos de João Lourenço como Presidente da República, “por ter inaugurado uma nova forma de governar com o povo e para o povo, por ter restituído a ética republicana no exercício de cargos públicos, pelo alargamento da liberdade de expressão e da manifestação política”.