Connect with us

Educação Financeira

Esquema da pirâmide

Published

on

Já ouviu falar de empresas como Xtagiarious Finance, pessoas particulares, algumas vezes próximas de nós que estão numa plataforma que entrando com um valor em dinheiro pode ganhar uma quantia alta, com uma taxa de juro muito mais alta que o normal. Estas situações acontecem-nos na vida real e no mundo virtual, geralmente pelas redes sociais: Whatsapp, Facebook, Instagram, etc. É sobre este tipo de empresas e plataformas que me dedico esta semana, por uma necessidade de esclarecer e, principalmente, alertar todos para uma realidade que é intemporal. Desde o início do mundo que tem havido fraudes financeiras e mais outras tentativas de fraudes. E quando se trata de valores altos que se pode receber, as pessoas não olham a meios para investir e é aqui também que se encaixa a educação financeira.

Nos Estados Unidos, o esquema de empréstimos em pirâmide chama-se Ponzi, em homenagem ao homem que o tornou famoso, em 1920. Em Angola, recentemente, conhecemos a empresa Xtagiarious Finance, que tem um longo processo em curso pelas entidades judiciárias e o seu líder: Edson Caetano de Oliveira, à data que escrevo este artigo, a 23 de Agosto de 2022, continua foragido das autoridades, desconhecendo se se encontra em Angola ou não. Em Portugal, a título de exemplo também,
tiveram uma situação semelhante, na década de 1980, com a famigerada Dona Branca. Além destes, burlões sempre existiram e, como muito bem sabemos, continuam a existir, com fórmulas várias. Mas, que se saiba, nenhuma enganação chegou, nem de perto, ao valor atribuído a Madoff:  HYPERLINK “https://www.nytimes.com/2021/04/14/business/bernie-madoff-dead.html?campaign_id=2&emc=edit_th_20210415&instance_id=29197&nl=todaysheadlines&regi_id=57334929&segment_id=55603&user_id=276c630ffddbb834a6839edcc5d1125e” \t “_blank” 64,8 mil milhões de Dólares (USD 64.800.000.000, números redondos).

Recebe o nome de “esquema de pirâmide” uma prática fraudulenta de captação de dinheiro, previsivelmente não sustentável, e que depende do recrutamento progressivo de outras pessoas, até que se atinja um nível insustentável de dependentes. A principal característica de um esquema de pirâmide é que os participantes só ganham dinheiro atraindo novos membros, mas é matematicamente impossível que todo mundo obtenha vantagem com esta prática.

O nome de Esquema de Ponzi advém de um modelo de esquema de pirâmide desenvolvido ainda na década de 1910 nos Estados Unidos, por um golpista ítalo-americano: Charles Ponzi.

Ele criou um negócio fraudulento baseado não na venda de produtos ou serviços próprios, como é o comum no meio empresarial, mas na captação de novos investidores. Em tese, o dinheiro dessas novas aplicações seria tomado como “lucro” pelos investidores mais antigos. Dentre as formas mais famosas de se atrair um investidor para as operações de esquema Ponzi, vale destacar a promessa de pagamento de altos juros em um curto espaço de tempo. Dessa forma, acreditando estar diante de uma oportunidade única (principalmente quando comparado aos demais produtos do mercado) o indivíduo se expõe aos riscos de sistema (por vezes sem estar completamente ciente de que se trata de uma pirâmide financeira).

A título de curiosidade, saiba que após ir do luxo a bancarrota na década de 1930 e acabar deportado para a Itália, Charles Ponzi desembarcou no Brasil em 1941 e morreu no Rio de Janeiro, cerca de 7 anos depois. Contudo, a sua fama como um golpista do mercado financeiro já estava feita e, quase um século depois, o esquema que leva seu nome ainda faz vítimas ao redor do mundo – tirando agora, no entanto, na casa dos milhares de milhões de UDSD.

Esquemas de pirâmide existem há pelo menos um século e meio, e tal nome deriva da figura geométrica pirâmide, que ilustra perfeitamente como se estrutura a fraude. Supondo que uma pirâmide comece com uma pessoa no topo e que reúna, por exemplo, 10 pessoas abaixo desta, estas mais 100 debaixo destas, até que se atinjam dez níveis subsequentes, a pirâmide acumularia mais integrantes que a população total do planeta, com um único golpista no topo.

Mesmo que não haja a intenção velada do iniciador do esquema de fraudar os aliciados, o desenrolar da operação acaba por extrair dinheiro ou benefícios através de um fluxo sem fim de novos “recrutas”, sendo que alguém no final da pirâmide eventualmente pagará (sem nenhum benefício em troca) pelos lucros dos que estão acima.

Existem muitas variedades deste esquema, mas os dois mais frequentes são aqueles baseados em produtos e o chamado esquema de pirâmide nu.

Em um esquema de pirâmide nu, não é vendido produto algum:

Uma pessoa convence dez outras a participar de uma “oportunidade infalível de investimento”.
Os dez recrutados pagam cada um 1.000 Kz ao recrutador inicial, num total de 10.000 Kz.

O recrutador assim incita seus recrutados a atrair, cada um, dez novas pessoas para fazer o mesmo e desta forma vai multiplicando pelo número de novos aderentes.

No caso do sucesso de cada recruta, o lucro é de 9.000 Kz, com um investimento individual de 1.000 Kz.

Note que os dez primeiros recrutas já lucraram 100 a menos que o iniciador do esquema. Os que estão abaixo irão ganhar gradualmente menos, até que o lucro seja nulo em níveis mais inferiores da pirâmide.

Um esquema de pirâmide baseado em produto reúne o mesmo conceito, disfarçado de oportunidade legítima de vendas diretas. As principais características desta modalidade são:
Um distribuidor reúne 10 vendedores, cada um pagando 5.000 Kz pelo seu kit inicial de produtos.

O distribuidor recebe 10% do valor de cada kit inicial.

O distribuidor também fica com 10% das vendas de cada produto, incluindo novos kits iniciais.

Os recrutas são informados de que a maneira mais rápida de ganhar não é com a venda dos produtos, mas com o recrutamento de pessoas que comprem os kits iniciais.

As pessoas no topo da pirâmide recebem comissões de todos seus subalternos.

De certeza que conhece algumas empresas de produtos de cuidados de saúde, de beleza e que funcionam como marketing multi-nível, na lógica que apresento em cima. Toda a atenção a este tipo de esquemas de empresas de produtos para emagrecer, para o cabelo, pele, etc etc.

O problema com a maioria desses esquemas baseados em produtos é que os produtos não vendem muito bem ou oferecem margem de lucro baixa. A única maneira de ganhar dinheiro é obter novos recrutas, e por fim, de maneira surpreendentemente rápida, o mercado se torna saturado, com gente demais tentando vender os mesmos produtos nada atraentes, não restando qualquer pessoa a ser recrutada.

O caso mais recente de um esquema como esse, no ramo financeiro, foi o de Bernard Madoff. O investidor americano captava dinheiro de pessoas, prometendo retornos acima da média. O problema é que os juros elevados eram pagos com dinheiro de novos investidores. Quando estourou a  HYPERLINK “https://www.infoescola.com/economia/crise-economica-global-de-2008/” crise de 2008, muitas pessoas começaram a pedir resgates dos investimentos, e, com a captação baixa de novos investimentos, não havia dinheiro para pagar esses resgates. Estima-se prejuízo em mais de 64.8 mil milhões de Dólares norte-americanos (USD).

Para alertar a população em geral e o sistema bancário, o Banco Nacional de Angola (BNA) avisou em 2022 que havia/há três novos esquemas fraudulentos, pelo que a publicação da Carta-Circular n.º 01/DCF/2022, aos bancos a informarem de imediato ao cliente, por escrito, sobre os factores de suspeição que levam a não execução da operação. Esta postura do banco central de Angola é prudencial e muito positiva. Quando o BNA tem este tipo publicações é por que os casos são graves e impactantes na vida das pessoas, sempre em torno de esquemas Ponzi, Pirâmide, marketing de multiníveis e operações análogas.

Qualquer investimento requer riscos. O risco é inerente à vida humana. Agora quando se trata de lucros fora do comum e de empresas sem nome no mercado, sem as devidas certificações legais e regulatórias, seja do BNA e da Comissão de Mercado de Capitais, como são os casos das fraudes financeiras, deve redobrar a sua atenção e deve fazer pesquisas em instâncias legais, na internet e por via dos seus contactos. Investir sem segurança pode implicar a perda do valor investido. Para não fazer parte de investidores que perderam tudo, sem grande esperança de recuperar o que investiu, em processos em tribunais que parecem não ter fim e a seu favor, em caso de dúvida, não invista. Pelo seu dinheiro. Pela sua família e pelo seu futuro e da sua família.