Análise
Ensinar a não pensar: a verdadeira crise da educação em Angola
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” – Nelson Mandela
Em teoria, todos concordam com Mandela. Mas, na prática, a educação continua a ser uma das armas mais desarmadas do nosso tempo. É como se alguém, temendo o seu poder transformador, tivesse decidido retirar-lhe as balas da consciência crítica, da curiosidade e da liberdade de pensar.
Em muitos países africanos, e Angola não foge à regra, a educação é tratada como um luxo, não como um direito. As escolas multiplicam-se em número, mas não em qualidade. Faltam professores preparados, livros actualizados, laboratórios equipados e políticas públicas que compreendam a educação como base do desenvolvimento. O resultado é um sistema que ensina a repetir, mas não a pensar.
Combatem-se as ideias mais do que se combate a ignorância. E quando se combate a educação de verdade, o que se está a proteger é a desigualdade. Porque uma mente instruída questiona, exige, propõe. Uma mente educada não aceita a corrupção como destino nem a pobreza como natural. Por isso, há interesses que preferem a população mal informada, dependente e distraída, porque quem não lê, não percebe; quem não percebe, não reage; e quem não reage, é facilmente governado.
O combate contra a educação é silencioso e disfarçado. Apresenta-se sob a forma de salários baixos aos professores, de escolas sem carteiras, de currículos ultrapassados e de um ensino que forma executores, mas não pensadores. É a sabotagem mais perversa de todas: a sabotagem do futuro.
Enquanto a educação for fraca, o mundo não mudará, e a realidade local continuará a repetir os mesmos dramas: jovens sem oportunidades, líderes sem visão, sociedades sem rumo.
Por isso, é urgente recuperar a força dessa arma poderosa. É preciso rearmar a educação com valores, com ciência, com arte, com pensamento crítico. Só assim deixará de ser um instrumento decorativo e voltará a ser o que Mandela viu nela: a maior esperança para transformar o mundo e, sobretudo, para libertar o nosso próprio país das correntes da mediocridade
