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Opinião

Empreendedorismo social: a verdadeira solução ou um mero paliativo?

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O empreendedorismo social tem-se afirmado como uma poderosa ferramenta para a transformação das comunidades, promovendo soluções sustentáveis e inclusivas para desafios locais. A crescente desigualdade social e a falta de acesso a serviços públicos de qualidade são problemas estruturais enfrentados em muitas sociedades, incluindo Angola. Essas questões demandam novas abordagens e modelos de gestão que permitam maior protagonismo da sociedade civil na construção de soluções para as suas próprias necessidades.

Segundo Muhammad Yunus (2008), Prémio Nobel da Paz e pioneiro no conceito de microcrédito, “o empreendedorismo social é uma forma de transformar a sociedade ao gerar impacto económico e social, empoderando indivíduos e comunidades”. Dessa forma, o empreendedorismo social não apenas gera empregos, mas também fortalece laços comunitários e promove a inclusão social. Em Angola, onde as comunidades enfrentam vários problemas sociais e económicos, a criação de iniciativas inovadoras voltadas para o bem-estar colectivo tem-se mostrado essencial. No centro deste processo está o fortalecimento do sentimento de pertença, um factor determinante para a protecção e preservação dos bens públicos e a redução dos casos de vandalismo.

Historicamente, muitas sociedades desenvolveram-se a partir da colaboração mútua e da criação de mecanismos solidários de convivência. O sucesso desses modelos depende da percepção colectiva de que cada indivíduo tem um papel activo na gestão e manutenção do seu ambiente. Assim, é fundamental reflectir sobre como estimular a população a sentir-se corresponsável pelo desenvolvimento e protecção dos espaços públicos, reforçando os laços de identidade e pertencimento e prevenindo actos de vandalização.

A Importância do Sentimento de Pertença na Protecção dos Bens Públicos

O sentimento de pertença refere-se à ligação emocional e identitária que os indivíduos desenvolvem com o local onde vivem. De acordo com Etzioni (1995), “o senso de comunidade fortalece-se quando há uma interdependência entre os seus membros, criando laços de responsabilidade colectiva”. Quando a população se reconhece como parte activa da sua comunidade, tende a valorizar e proteger os espaços públicos, garantindo a sua conservação para as gerações futuras. A falta desse senso de pertença pode levar à negligência, depredação e ao abandono de infra-estruturas essenciais, como praças, escolas, hospitais e sistemas de abastecimento de água. Dessa forma, fomentar esse sentimento é uma estratégia eficaz para evitar a vandalização dos bens públicos, pois os indivíduos passam a ver tais espaços como extensão da sua identidade e história colectiva.

Formulação de Soluções Comunitárias

Para fortalecer o empreendedorismo social e estimular a protecção dos bens públicos, é necessário adoptar estratégias que envolvam directamente a comunidade. Algumas abordagens eficazes incluem:

1. Educação para a Cidadania – Amartya Sen (1999) destaca que “a educação é uma ferramenta essencial para expandir as liberdades individuais e colectivas”, o que inclui a consciencialização sobre a importância dos bens públicos.

2. Co-Gestão Comunitária – Criar mecanismos que permitam às comunidades participar activamente da gestão dos espaços públicos, como comités de bairro e associações comunitárias.

3. Empreendimentos Sociais Locais – Segundo Dees (1998), “empreendedores sociais actuam como agentes de mudança que criam e sustentam valor social de forma inovadora e responsável”. Portanto, fomentar cooperativas e startups sociais gera emprego e beneficia a colectividade.

4. Campanhas de Consciencialização – Promover iniciativas que reforcem a necessidade da manutenção dos bens públicos, por meio de acções culturais, artísticas e de engajamento cívico.

5. Uso da Tecnologia e Big Data – Desenvolver soluções tecnológicas para monitorização e gestão eficiente dos espaços públicos, utilizando plataformas digitais e aplicativos colaborativos.

Exemplos de Sucesso do Empreendedorismo Social

O impacto positivo do empreendedorismo social pode ser observado em diversos países. No Brasil, a empresa “Vetor Brasil” trabalha na capacitação de gestores públicos para melhorar a administração pública e reduzir desigualdades. Na Índia, a iniciativa “SELCO Solar” fornece energia solar acessível para comunidades rurais, promovendo desenvolvimento sustentável. Em Bangladesh, o modelo de microcrédito desenvolvido por Muhammad Yunus, através do Grameen Bank, tirou milhões de pessoas da pobreza ao oferecer pequenas linhas de crédito para empreendedores de baixa renda. Esses exemplos demonstram que soluções inovadoras e socialmente responsáveis podem transformar realidades e criar impacto positivo duradouro.

Portanto, o empreendedorismo social aliado ao sentimento de pertença pode gerar impactos positivos duradouros, promovendo a melhoria das condições de vida nas comunidades e assegurando a protecção dos bens públicos. Como defende Yunus (2008), “negócios voltados para o social podem gerar impactos sustentáveis e libertar comunidades da pobreza”.

A história mostra que a transformação social duradoura é alcançada quando a população se sente parte integrante das mudanças e assume um papel activo na gestão dos recursos colectivos. Dessa forma, estimular o senso de pertença pode ser um mecanismo fundamental para evitar a vandalização dos bens públicos, garantindo que as infra-estruturas comunitárias sejam preservadas e valorizadas como património comum.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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