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Empreendedorismo digital: salvação para a juventude sair do desemprego?

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Vivemos num momento histórico em que as tecnologias digitais não apenas modificam comportamentos, mas reconfiguram radicalmente a economia global. Neste novo cenário, o empreendedorismo digital destaca-se como uma força propulsora de transformação, criando oportunidades económicas, sociais e culturais, sobretudo em países emergentes, como Angola.

Ao contrário dos modelos empresariais tradicionais, o empreendedorismo digital reduz barreiras de entrada, expande os mercados para além das fronteiras físicas e favorece a criação de soluções adaptadas aos contextos locais. O empreendedor digital já não precisa de um espaço físico caro ou de uma estrutura complexa para começar – precisa, sobretudo, de uma ideia viável, acesso à internet, criatividade e uma mentalidade orientada para a inovação.

1. O Que é o Empreendedorismo Digital e Por Que é Importante

O conceito de empreendedorismo digital pode ser entendido como a criação de negócios que têm como base plataformas digitais, tecnologias de informação e canais de comunicação online. Trata-se de uma vertente do empreendedorismo tradicional, mas com dinâmicas próprias.

Segundo Joseph Schumpeter (1942), “o empreendedor é aquele que introduz novas combinações produtivas, que rompem com o modelo anterior e criam inovação”. No universo digital, essa ruptura acontece constantemente: negócios como Uber, Airbnb, Spotify e Netflix mudaram por completo os paradigmas dos sectores onde actuam.

No contexto africano, onde os desafios estruturais e o desemprego juvenil são gritantes, o empreendedorismo digital é visto como uma alavanca de desenvolvimento e inclusão. Como refere o Relatório da ONU sobre Juventude e Emprego (UNCTAD, 2022), “os jovens africanos têm no digital a principal ferramenta para criar o seu próprio emprego e transformar as economias informais”.

2. Exemplos Internacionais de Referência

China – O Império do Comércio Digital

Jack Ma, fundador da Alibaba, iniciou o seu império numa sala modesta com acesso precário à internet. Hoje, o grupo movimenta mais de 1 trilião de dólares por ano. O segredo? Uma visão empreendedora aliada à compreensão da lógica digital. O Alibaba não apenas vende produtos, mas também fornece soluções logísticas, serviços financeiros e inteligência de dados.

Brasil – Inovação em Serviços Financeiros

O Nubank, criado por David Vélez, é uma startup brasileira que revolucionou o sistema bancário tradicional, oferecendo serviços digitais acessíveis, transparentes e simples. O impacto social é evidente: milhões de brasileiros antes excluídos passaram a ter acesso ao crédito e à gestão financeira.

Nigéria – O Caso da Flutterwave

Em África, a fintech Flutterwave, criada na Nigéria, tornou-se uma das maiores plataformas de pagamentos digitais do continente. Operando em mais de 30 países, demonstra que a inovação africana pode ser competitiva e relevante a nível global.

3. Oportunidades e Potencial de Angola

Angola possui uma população jovem, criativa e conectada. As redes sociais como Facebook, WhatsApp, TikTok e Instagram são amplamente utilizadas, inclusive para promoção de produtos, prestação de serviços e criação de marcas pessoais.

Iniciativas como Startup Angola, Angotic e os Centros de Empreendedorismo Universitários são sinais de que existe um ecossistema emergente. Contudo, os desafios estruturais permanecem: os custos elevados da internet, a falta de políticas públicas integradas, o acesso limitado a financiamento e a fraca formação em TIC.

Por isso, urge promover um Plano Nacional de Empreendedorismo Digital, com enfoque na formação de jovens em competências digitais, estímulo à criação de startups, parcerias com empresas globais de tecnologia, incentivos fiscais e acesso facilitado a microcréditos para inovação.

4. O Papel da Educação e da Cultura Empreendedora

Nenhum país pode aspirar a ser competitivo no século XXI sem uma aposta séria na educação digital. O empreendedorismo não nasce do acaso – ele é resultado de estímulos educacionais, culturais e institucionais.

Conforme afirma Peter Drucker (2006), “o empreendedorismo é uma disciplina que pode ser aprendida”. Assim, os currículos escolares devem incluir disciplinas como pensamento computacional, literacia digital, gestão de projectos e inovação.

É fundamental também fomentar uma cultura de experimentação e tolerância ao erro, pois inovar pressupõe riscos. Ambientes escolares e universitários devem incentivar os estudantes a criar protótipos, testar ideias e trabalhar em rede.

5. Empreendedorismo Digital como Instrumento de Inclusão

O impacto social do empreendedorismo digital vai para além da economia. Ele permite a inclusão de grupos tradicionalmente marginalizados: mulheres, pessoas com deficiência, jovens desempregados, moradores de zonas rurais e até reformados com conhecimento acumulado.

Exemplo disso é a She Leads Africa, uma plataforma digital que empodera mulheres empreendedoras no continente africano através de cursos, mentorias e feiras de negócios. Outro caso é o Digital Green, que forma agricultores através de vídeos educativos via WhatsApp em comunidades rurais da Índia e Etiópia.

Em Angola, é possível aplicar modelos semelhantes nos sectores da agricultura, comércio informal, turismo, educação, cultura e saúde comunitária.

6. Caminhos para o Futuro Digital de Angola

Para transformar o potencial em realidade, é necessário agir em múltiplas frentes:

Infra-estrutura digital: Expandir o acesso à internet, especialmente nas zonas rurais e periféricas;

Formação digital: Criar centros de capacitação em competências digitais em todos os municípios;

Políticas públicas integradas: Apoiar as startups, simplificar o acesso a financiamento e proteger os direitos dos empreendedores digitais;

Internacionalização: Estimular parcerias com plataformas e empresas internacionais, promovendo produtos angolanos no mundo digital;

Fomento à investigação e desenvolvimento (I&D): Estimular universidades e centros de investigação a desenvolverem soluções tecnológicas adaptadas ao contexto angolano.

7. Conclusão: Uma Visão Estratégica para o Século XXI

O empreendedorismo digital é, sem dúvida, a mais promissora fronteira de desenvolvimento económico e social do século XXI. Ele tem o poder de transformar vidas, dinamizar economias e posicionar nações inteiras no mapa da inovação global.

Angola não pode perder esta oportunidade. Ao investir em empreendedorismo digital, o país estará a investir na juventude, na criatividade nacional, na diversificação da economia e na afirmação de uma identidade digital própria.

Como disse Manuel Castells (1999), “o poder, no mundo em rede, pertence àqueles que controlam os fluxos de informação”. Está na hora de Angola se tornar não apenas consumidora, mas também produtora e exportadora de soluções.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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