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Eleições: hoje é o último dia de campanha eleitoral

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As eleições de 23 de Agosto têm, no entanto, como registo maior para a história da democracia angolana, a saída de José Eduardo dos Santos do poder, ao fim de 38 anos como Presidente da República.

A chegada de João Lourenço como pretendente à continuidade do MPLA à frente da governação do país e, em caso de vitória, com lugar de destaque na história de Angola quando os historiadores se debruçarem sobre este momento e se referiram ao homem que sucedeu ao histórico José Eduardo dos Santos.

Mas também na UNITA existem elementos relevantes para as páginas que vão descrever estas eleições nos compêndios da história de Angola.

São as últimas disputadas por Isaías Samakuva, como o próprio já garantiu, à frente do partido que dirige desde 2003, a partir do 9º Congresso do “Galo Negro”, realizado no ano seguinte ao cair do pano do conflito armado com a morte em combate do seu líder histórico e fundador, Jonas Savimbi.

Para trás ficam ainda alguns pontos que sublinham a juventude da democracia angolana, como as sucessivas acusações feitas pela oposição e por algumas organizações da sociedade civil quanto à forma como as estruturas do Estado foram colocadas ao serviço da campanha do partido que dirige o país desde 1975.

Os meios do Estado usados para transportar muitos dos milhares de pessoas que encherem os comícios do candidato do MPLA nestas quatro semanas de campanha é um dos pontos sublinhados nas críticas, mas o grande destaque vai para a forma como os meios de comunicação social públicos privilegiaram de forma “clara e inequívoca” a candidatura de João Lourenço.

Um dos exemplos apontados pelos partidos da oposição é o que aconteceu no Domingo, ontem, dia em que a CASA-CE realizou o seu último grande comício, tendo os media públicos, os únicos que por lei estão obrigados à imparcialidade, embora existam razões de queixa de alguns dos privados, atribuído mais tempo de antena a uma passeata do candidato do MPLA pelos mercados de Luanda que às palavras finais de campanha de Abel Chivukuvuku, líder do 3º maior partido no país.

A campanha oficial… e a outra

Com relevo no campeonato das críticas fica ainda a calendarização de dezenas de inaugurações para os últimos dias da campanha, sendo que estas foram quase na íntegra o palco para José Eduardo dos Santos dar brilho aos seus últimos dias como Chefe de Estado, garantido por horas a fio de transmissões televisivas em directo, tal como aconteceu com os actos de massas realizados pelo seu provável sucessor à frente da Presidência da República.

João Lourenço, recorde-se, começou a sua longa caminhada para a Cidade Alta em Fevereiro deste ano, após ter sido escolhido pelo Comité Central, que deu corpo à decisão do Congresso de Agosto do ano passado.

Mas das centenas de acções de pré-campanha e campanha eleitoral, que no conjunto já levam quase oito meses na estrada, João Lourenço e José Eduardo dos Santos surgiram em cima do palco, unidos pelas mãos, apenas um vez, no último Sábado, onde o presidente do MPLA discursou por breves minutos para reafirmar o seu apoio ao candidato à sua sucessão na Cidade Alta e seu vice-presidente no partido.

Para o último dia de campanha, algo de relativamente pouco comum em campanhas eleitorais, apenas uma das três grandes formações políticas angolanas, a UNITA, guardou o trunfo do “último acto de massas”, com Isaías Samakuva a dirigir-se aos esperados milhares de apoiantes pela última vez nesta campanha.

Isto, porque o MPLA fê-lo no Sábado, mais de 48 horas antes do baixar do pano e a CASA-CE no dia seguinte.

A marcar ainda estas derradeiras horas de campanha, fica a ideia de que a APN, de Quintino Moreira, e o MPLA, pelo menos a olhar para as ruas de Luanda, tiveram a mesma ideia: colocar mais umas largas centenas de bandeiras nos mesmos postes e árvores, grande parte delas nas imediações das assembleias de voto

Daquilo que se espera para o “day after” da ida às urnas, por entre as habituais críticas ao processo de contagem de votos, às acusações de irregularidades… e às expectáveis manifestações de regozijo pela vitória, fica ainda uma provável polémica em banho-maria, dependendo da expressão do voto na APN de Quintino Moreira.

Isto, porque as semelhanças entre a bandeira da APN e da UNITA são por demais evidentes, tanto na forma gráfica como no conteúdo, com destaque para as cores comuns, sendo de esperar que seja realçada a eventual confusão dos eleitores menos escolarizados na hora de votar, caso a APN obtenha um resultado minimamente expressivo.

São muitos os rumores que apontam para uma intencionalidade na criação de uma bandeira semelhante à da UNITA, com objectivos que se resumem à eventual dispersão de votos da UNITA pela APN, beneficiando em primeira instância o MPLA, mas também a CASA-CE, aproveitando a iliteracia que os próprios partidos reconhecem existir entre uma grande parte dos eleitores.

A prova disso é o esforço que tem sido feito na “formação” quanto à forma de votar, recorrendo inclusive a boletins de voto simulados de grande formato com o próprio João Lourenço, mas também Isaias Samakuva, da UNITA, a explicar qual a forma correcta de votar.

Perante este cenário hipotético, onde a APN surge como ocasional benfeitor do MPLA, uma espécie de esforço conjunto não intencional, a UNITA e a CASA-CE resolveram marcar esta fase final da campanha com aquilo que pode moldar o futuro da política e do poder em Angola.

Em causa está uma possível coligação entre estas duas formações semelhante à “geringonça” que em Portugal juntou dois partidos no Parlamento (Partido Comunista e Bloco de Esquerda) para sustentar o executivo do Partido Socialista apesar de ter sido o Partido Social Democrata a obter mais votos nas últimas legislativas.

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