Politica
Eleições 2027: UNITA e PRA-JA em combate destrutivo
Embora as lideranças evitem abordar publicamente o assunto, o divórcio entre o maior partido na oposição e o PRA-JA é bem evidente. Ambas organizações, a nível intermédio, face aos ataques recíprocos e constantes, transmitem a sensação de que terão se esquecido do MPLA, e passaram a ter uma a outra como alvo a abater. Abel Chivukuvuku, o mentor do PRA;JA, está a ser tomado por traidor, enquanto quadros do PRA-JA tomam a UNITA por ingrata para com Chivukuvuku, a quem atribuem parte do mérito pelo resultado eleitoral alcançado pelo partido em 2022.
A UNITA, maior partido na oposição em Angola, e o Partido do Renascimento Angolano – Servir Angola (PRA-JA), uma organização política recém-criada por Abel Chivukuvuku, estão num claro combate que pode ser destrutivo para a imagem de ambos, e fragilidade para a oposição.
Ambas organizações já estiveram amplamente alinhadas, em 2022, durante o período eleitoral daquele ano, altura em que, por iniciativa da UNITA, criaram a Frente Patriótica Unida (FPU), uma plataforma política informal que funciona com as cores e símbolos da UNITA, mas atrelando o PRA-JA e o Bloco Democrático (BD).
Desde 2019 até 2024, Abel Chivukuvuku lutava junto do Tribunal Constitucional (TC) para legalizar o seu projecto político PRA-JA, porém, via constantemente seu objectivo frustrado pelo referido órgão judicial responsável pela administração da justiça em matéria jurídico-constitucional.
E como o Correio da Kianda já escreveu há um ano, a manutenção daquele «status quo» beneficiava também a UNITA.
Importa sublinhar que a adesão pouco complexa de Abel Chivukuvuku com o seu PRA-JA nas fileiras da UNITA, sob capa da plataforma FPU, resultou, em parte, do facto de a referida organização não ter sido legalizada à época, facto que não oferecia outra opção aos mentores do projecto, que se manifestavam ávidos por participar no pleito eleitoral passado (2022), depois do «desenlace» com a CASA-CE.
A fragilidade de Abel Chivukuvuku, pelo facto de não ter uma força política, também foi reportada pelo Novo Jornal, na sua edição do dia 2 de Outubro de 2020, numa matéria intitulada:
“Adalberto vigiado e combatido até à exaustão”. Na matéria, o Novo Jornal sublinhou que as autoridades angolanas, a quem foi atribuído um plano de desestabilizar o presidente da UNITA, considerava Abel Chivukuvuku “fragilizado”, tendo em conta os constantes indeferimentos que vinha recebendo do Tribunal Constitucional.
Portanto, Abel Chivukuvuku não tinha outra opção, senão aceitar aderir a FPU nos moldes determinados pela UNITA e Adalberto Costa Júnior, que passava pelo não sacrifício dos símbolos e a bandeira do partido.
Entretanto, já depois das eleições, num evento organizado pelo MEA, um pouco antes da legalização do PRA-JA, Abel Chivukuvuku deixou claro que já não era possível ir às eleições de 2027 com a FPU, na condição de o PRA-JA atrelar à UNITA. Depois da legalização, essa perspectiva tornou-se ainda mais evidente.
O PRA-JA já fez saber que o seu desejo é que a FPU evolua para uma coligação política formal, uma exigência descartada terminantemente pela maioria dos militantes da UNITA.
E é em face dessa divergência que começaram os ataques recíprocos ao nível das redes sociais.
Quadros da UNITA, que antes defendiam e procuravam proteger Abel Chivukuvuku, que foi candidato a vice-Presidente da República pela lista do partido, hoje tomam Chivukuvuku por traidor, e muitos estão a partilhar vídeos em que Chivukuvuku aparece a receber dinheiro alegadamente resultante de corrupção. Entretanto, o vídeo passou a ser difundido em 2022, altura das eleições, tendo os quadros da UNITA referido, na altura, que o vídeo era uma manipulação do MPLA, visando desacreditar o candidato a vice-Presidente da República.
Entretanto, agora o vídeo voltou a ser partilhado, e os militantes da UNITA dizem ser real.
Por seu lado, militantes do PRA-JA acusam a UNITA de estar atrasada e preconceituosa. Para estes quadros do PRA-JA, a ordem dos ataques a Abel Chivukuvuku está a surgir do próprio Adalberto Costa Júnior, e muitos defendem o fim da FPU, face à falta de estratégia e unidade.
Continua…