A Angop constatou hoje, segunda-feira, durante uma reportagem ao aludido hospital, localizado na zona da Eywa (Lubango), através do processo do doente, tratar-se de Domingos Fernando Jacob “Mexicano”, natural da província do Moxico, que está internado desde 1992, altura em que a unidade situava-se no bairro da Mapunda, tendo por essa razão os trabalhadores da mesma unidade sanitária o considerarem “presidente de longa estadia”.
Em conversa com a Angop, Domingos “Mexicano” confirma a sua naturalidade e apontou os nomes de Fernando e Luzia como seus pais. Afirma que nunca teve mulher, nem filhos e que anteriormente era militar das Forças Armadas Angolanas (FAA) e tem dois irmãos.
Já a enfermeira Maria António, que convive com o mesmo desde o seu internamento, descreve-o como alguém “calmo”, agita-se somente quando insistem-no a fazer algo que não quer, como cuidar da sua higiene pessoal e tomar os comprimidos.
“O doente fala sozinho, não aceita tomar banho, nem fazer a medicação, gosta de ficar só, no seu canto. Em relação ao banho não o obrigamos, mas os comprimidos trituramos na sua alimentação para que não perceba”, detalhou.
Ainda na condição de Domingos, encontram-se outros com diversas patologias, além da esquizofrenia, como o de mudança de humor ou transtornos bipolares, epilepsia e abuso excessivo de drogas, entre outras, com maior destaque para Veríssimo Nóbrega, de 41 anos, natural do Cuanhama (Cunene), que foi levado à instituição por duas vezes por um irmão, em 1999 e 2002, e até a data não se ouve falar dos parentes.
Outro é Francisco Cambinda, de 43 anos, do Cuando Cubango, com o diagnóstico de esquizofrenia, encaminhado ao hospital por membros do ex- Ministério da Assistência Reinserção Social (Minars), através da delegação na província do Cunene, há mais de dez anos, e de familiares também nada se sabe.
Na psiquiatria, José Liquembe, de 63 anos de idade, internado desde 2010, por abuso de drogas, está completamente curado, de acordo com a médica psiquiatra que o acompanha, “só precisa de encontrar os familiares e voltar para casa”.
Segundo ele, os seus pais chamam-se Sapalo e Angélica, saiu do Cunene e ingressou nas Forças Armadas Angolanas. Tem mulher e dois filhos naquela região.
A psicóloga Ana Ngueve realçou que a esquizofrenia não tem cura, é um problema congénito provocado pelo sistema nervoso, que ainda não foi identificado a sua real causa, mas um doente com a patologia apresenta alucinações, desorganização mental com discursos incoerentes, desconfiança de todas as pessoas, sem motivo aparente, ideias delirantes de grandeza, assim como a diminuição da vontade de realizar actividades.
O tratamento não é linear, de acordo com a psicóloga, é baseado em medicamentos anti-psicóticos, que varia de acordo com o estágio de cada doente e de como o seu organismo vai reagir, se for um doente agitado, começa-se com um tratamento injectável que deve durar três dias, depois o oral, com comprimidos.
Considerou fundamental o tratamento farmacêutico, pois sem os comprimidos o doente não se estabilizará e manterá os indícios e a doença vai progredir, pelo que que também é importante o uso da terapia e o apoio familiar para que o doente recupere mais rápido.
Por sua vez, o director administrativo da unidade sanitária, António Cavela, lamentou o comportamento de familiares que insisten em rejeitar os mesmos, com receio de que voltem a tornar-se “um perigo” para as suas residências, abandonando-os simplesmente a sua sorte, pelo que apelou a nessecidade de prestarem maior atenção aos seus, pela importância que o gesto representa a recuperação dos doentes.
Afirmou que a má gestão dos problemas pessoais e o consumo excessivo de drogas, continuam a ser as principais causas de insanidade nos seus pacientes, maior parte deles encontrados nas ruas e levados por autoridades locais para a instituição, outros levados por famíliares, que geralmente acabam por abandoná-los no hospital.
Explicou que o hospital tem um programa de localização familiar, quando o doente lembra da sua moradia, é levado para junto da família, caso contrário permanece na condição de residente da unidade sanitária, até que um parente decida aparecer.
Fez saber que existe acordo de intenções, firmado há um ano, com a Administração Municipal do Lubango e a Polícia Nacional, na Huíla, para a criação de um programa de recolha de pessoas nessas condições que deambulam pelas ruas da cidade para fazerem triagens, na unidade gratuitamente, caso o doente mostrar um quadro grave de demência é internado, se não, o mesmo é tratado na sua residência.
“O projecto, ainda não implementado, implicaria a ampliação da unidade hospitalar, porque existem muitas pessoas que vagueiam pelas ruas e nesse momento a nossa unidade é pequena para recebé-los todos” acrescentou.
O Hospital Psiquiátrico do Lubango tem uma capacidade de internamento de 42 doentes. Actualmente tem internado 22 pacientes, dos quais oito mulheres e 14 homens, todos em idade adulta, dos 20 aos 70 anos de idade. Conta ainda com dois médicos expatriados especialistas em psiquiatria, um cubano e outro francês, 20 enfermeiros e uma psicóloga.