Crónica

Do balde de ginguba à magoga moderna

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O Afrobasket que terminou este domingo, 24, em Angola, ficará gravado na história como o torneio do 12º título continental, mas também como o palco onde brilhou a força criativa e empreendedora das mulheres angolanas. Dentro do Pavilhão, a bola quicava, os jogadores vibravam e a nação sonhava. Mas do lado de fora  e até nas áreas reservadas para restaurantes no interior acontecia outro campeonato, igualmente fascinante: o da economia popular.

Entre tantas protagonistas, destaco a dona Suza, do bairro da Fubú. Com o seu inseparável balde de ginguba, medido em recipientes de massa de tomate, transformou cada jogo da selecção numa oportunidade de negócio. A mil kwanzas por medida, as filas não paravam, e ela contou-me que conseguia vender entre dez e seis quilos por partida. Cada cesto de Angola parecia ecoar também no seu bolso, em forma de clientes satisfeitos.

Outra estrela dessa arena paralela foi a jovem Marcelina, moradora da Vila Flor, no município do Kilamba. O seu prato de eleição era a “magoga”, apresentada de maneira ousada e moderna. Os preços variavam entre 2000 e 3000 kwanzas, esta última opção com todos os molhos e um refrigerante incluído. E para surpresa de muitos, Marcelina aceitava também pagamento por transferência express, mostrando que o pequeno negócio já dialoga com a inovação tecnológica.

Não foram apenas elas. Outras vendedoras, já mais organizadas, ocuparam as zonas internas do pavilhão, sobretudo os espaços reservados para restaurantes. Ali, o público encontrava opções diversificadas de gastronomia nacional, provando que o Afrobasket foi também um festival de sabores.

Este torneio provou que o desporto é muito mais do que jogo e emoção. É motor de rendimento, é espaço de criatividade, é palco para o talento feminino. O Afrobasket trouxe medalhas, trouxe orgulho, mas trouxe também pão para muitas mesas.

E assim, entre cestos e temperos, ginguba e magoga, ficou claro: o outro grande triunfo deste Afrobasket foi a vitória silenciosa da mulher angolana que sabe transformar o momento em oportunidade.

No meio de tantas histórias de luta e criatividade, eu e o colega Domingos Ambrósio, também nos rendemos: degustamos juntos a magoga de Marcelina, saborosa e feita com carinho. Durante o intervalo, desci novamente para buscar a ginguba, e logo o Manuel da Costa e até uma colega jornalista do Senegal, em serviço no Pavilhão, perguntaram curiosos: “Já não há? Onde compraste?” ao que respondi, entre risos, que a fila parecia interminável.

São estas memórias, estes sabores e encontros que marcam o lado humano de uma grande competição, e que a Rádio Correio da Kianda teve o privilégio de vivenciar de perto, registando não só os pontos no marcador, mas também as histórias que dão sabor à nossa Angola.

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