Diversos
Diplomacia dos Estados Unidos em Angola: O Petróleo e as multinacionais nas relações diplomaticas
A interacção entre as empresas petrolíferas e a Administração norte-americana não foi nova e, o acesso mundial ao petróleo sempre foi um objectivo importante da Política Externa norte-americana. Os interesses dos Estados Unidos pelos enormes lençóis de petróleo que existe nas águas da Guiné Equatorial, de São Tomé e Príncipe, Nigéria e até às de Angola. No caso de Angola, o petróleo fez uma combinação perigosa e despertando o interesse das multinacionais, com os diamantes. Entre 1985 e 1996, a produção mundial de petróleo aumentou para os 10 milhões de bpd, enquanto a dos Estados Unidos tinha decaído dois milhões de bpd e, no mesmo período, a participação de companhias norte-americanas na produção mundial, foram do seu país, aumentou de um terço para 50%. Portanto, os Estados Unidos importaram mais de 63% das suas necessidades petrolíferas.
O petróleo de Angola adquiriu uma especial importância para o Governo norte-americano, e jogou um papel importante para estabelecimentos das relações entre Angola e EUA. 40% do petróleo de Angola tem ou tinha destino para os Estados Unidos, elas importaram mais de 350 mil barris de petróleo angolano, representando 4 a 5% das importações totais de petróleo dos Estados Unidos e previu-se a produção angolana atingiu 1,6 milhões de bpd, em 2008. A importância estratégica do petróleo de Angola para os Estados Unidos e sobre isso serviu de moeda de troca para política interna angolano e externa. As descobertas de novos campos de exploração, por exemplo como «Campo Dália», determinaram as novas relações com Angola e Estados Unidos. Segundo o Director da ELF Explorations Angola nos finais da década de 1990, BERNARD ASTIER, afirmou que «não havia qualquer possibilidade dos americanos colocarem o apoio à UNITA acima dos seus poderosos interesses económicos em Angola».
A Política Externa americana caracteriza-se por um «empenhamento selectivo», baseando nos interesses e experiências geopolíticas e geoeconómicas dos EUA. Para cada país ou região, a Política Externa americana sempre teve uma mistura e complexidade de interesses económicos (como o petróleo em Angola), ideias (como a promoção da democracia e a defesa dos direitos humanos) e influência relativamente a determinados partidos políticos com afinidades programáticas. E neste sistema de funcionamento da Política Externa americana, os grupos empresárias exercem uma grande influência política para atingir os seus objectivos comerciais, através da contratação de agências de «lobby». E o petróleo angolano constitui 7% do crude importado pelos Estados Unidos, e o volume das transacções comerciais, cerca de 3 mil milhões de dólares/ano, representava mais de 5 mil postos de trabalho nos EUA. O petróleo foi, com efeito, uma peça chave no estreitamento das relações entre Angola e os Estados Unidos.
O presidente, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, percebeu na altura, a importância que o petróleo ia ou podia jogar para estabelecer as relações com EUA. E o aumento das concessões petrolíferas e a sua exploração em águas profundas, justificaram a relevância de Angola na agenda da Administração americana.
Aquando do reconhecimento do Estado angolano pela Administração Clinton, a Texaco desempenhou um papel extremamente importante de «lobbing» junto do Congresso americano para reconhecimento do Estado angolano e, EUA poderia sair mais a ganhar com a cooperação com governo angolano do que com a UNITA. E a empresa petrolífera Exxon usufruiu por parte de Governo angolano, um trato especial e, ela estava ligada directamente ao Administração Clinton. Embora, a Exxon só iniciou a sua actividade em Angola em 1996, mas desde de 1991 que se vinham encetando as conversações secretas com o Governo angolano para que a Exxon pudesse assumir uma posição importante na exploração petrolífera em Angola. E o próprio presidente Clinton esteve envolvido na acção do «lobbing» para a penetração da Exxon em Angola e o seu privilegiamento da sua acção negocial na exploração de petrolífera.
Toda a Administração Clinton estava envolvida em «petroleum business» em Angola. E esta postura caracterizou a forma de actuação de outros membros quer da Administração Clinton e alguns da anterior administração, a Administração Bush. A própria Secretária de Estado, MADALEINE ALBRIGHT, em reunião com o antigo presidente, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, durante o período de negociação da atribuição dos Blocos 31, 32 e 33, que representaria a moeda de empenho e contribuição para a Administração reforçar a presença das multinacionais norte-americanas no sector petrolífero em Angola. As multinacionais petrolíferas contribuíram significativamente para a criação de canais privilegiados de apoio à própria diplomacia económica do Governo angolano. Este relacionamento ajudou o MPLA (que percebeu isto mais cedo) a suprir os seus adversários internos, como a UNITA. A presença das empresas norte-americanas no sector petrolífero ajudou a financiar o esforço de guerra do MPLA e influenciou o desenvolvimento do conflito. As companhias de segurança privada, das empresas e as Força Armadas Angolana (FAA), asseguraram a exploração do petróleo e em consequência a continuidade do financiamento da guerra contra a UNITA.
Os Estados Unidos em 1995 a 1996, tinham multiplicado os sinais de amizade com o Governo angolano, com o qual tinham finalmente estabelecido laços diplomáticos. E Embaixador norte-americano em Angola na altura, JOSEPH G. SULLIVAN, tinha deixado claro no dia 24 de Fevereiro de 1999, junto da Câmara de Comércio Estados Unidos/Angola, que o «petróleo angolano era um catalisador importante das relações entre Estados Unidos e Angola». A normalização formal das relações entre o Governo angolano e a Administração Clinton, em Maio de 1993, foi o corolário de ingentes esforços diplomáticos junto da Casa Branca, do Departamento de Estado, do Congresso e da opinião pública norte-americana e internacional.
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* Politólogo