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Dinâmicas na Região do Sahel, com Senegal à testa, podem influenciar o rumo de boa parte de África

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O Sahel, que comporta entre outros países o Senegal, o Mali, o Níger, o Burkina Faso, a Mauritânia, a Nigéria, o Sudão, o Sudão do Sul, a Eritreia e a Somália, é um turbilhão. E o seu comportamento, face à dimensão da região e as línguas aí faladas, acaba por determinar o modo como o mundo olha para o continente no seu todo, mas também tem o potencial de influenciar o rumo da agenda e o modo de ser estar de boa parte das Nações africanas. E avisada, Angola parece estar a intensificar o estreitamento na relação com o Senegal, uma potência económica na região, e agora um exemplo democrático e de respeito aos direitos humanos.

As dinâmicas na região do Sahel está a ser tida, em diferentes sectores, como capaz de influenciar o comportamento africano. Enquanto os países de expressão portuguesa, Nações colonizadas por Portugal, têm não só Portugal como a porta de entrada para o mundo ocidental, os países do Sahel, na sua maioria colonizados pela França, estão a redefinir um novo normal nas relações internacionais.

E a aposta está a ser forte, ousada, mas também perigosa. O Mali, o Níger e o Burkina Faso, agora administrados por militares golpistas, formaram uma nova Aliança de Defesa mútua, marcando um esforço conjunto para combater insurgências e ameaças externas na região, e estão literalmente a livrar-se da influência francesa.

Estes países estão rompendo com acordos económicos com a França, mas também acordos militares. A nível do Sahel, não são só estes países. O Senegal, o Chade e outros estão igualmente a pôr fim a certos acordos rubricados no passado com a França.

E à medida que vão se distanciando de Paris, essas capitais da zona do Sahel começam a adoptar parcerias estratégicas com Moscovo, este que não exige questões ligadas a democracia, respeito aos direitos humanos, e entre outros.

No início deste ano, a Rússia e as juntas militares do Mali, Burkina Faso e Níger assinaram parceria estratégica nas áreas da segurança e da defesa. Para além da segurança, como noticiara o Correio da Kianda, os quatro países concordaram em cooperar no sector económico com objectivo de criar uma parceria benéfica e assim reforçar os contactos comerciais, bem como um mecanismo para monitorizar as consultas nesta área.

Porém, se o estreitamento das relações entre estes países e a Rússia é menosprezado pelo mundo liberal, tendo em conta que em muitos casos estes não reúnem o consenso popular, face à sua natureza ditatorial, o mesmo já não se pode dizer do Senegal, cuja democracia é agora tida como vibrante, e respeitada pelo mundo ocidental.

Senegal é um dos poucos países-chave para quem quer consolidar poder em África, tendo em conta a autoridade moral ao nível do continente e no mundo, a influência linguística e a situação geográfica.

Avisada, a República de Angola, que no momento preside a União Africana, sabe bem das vantagens de conjugação de esforços com o Senegal, e está empenhada nesta dinâmica diplomática. Na semana passada, por exemplo, Abdourahmane Sarr, enviado especial do presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, foi recebido na Cidade Alta, na Colina de São José, pelo Presidente João Lourenço.

À saída da audiência, Abdourahmane fez saber que transmitiu ao Presidente João Lourenço uma mensagem de seu homólogo Bassirou Faye, que expressou um sentimento de fraternidade e solidariedade, além de ter assegurado a disponibilidade do Senegal em apoiar a presidência angolana da União Africana.

De referir que a presidência de Angola na maior organização política no continente enfrenta vários desafios, entre os quais, os actos de golpes de Estado, a proliferação de guerras, e o alargamento de presença terrorista. O conflito entre a República Democrática do Congo e o Ruanda representa um dos grandes desafios de João Lourenço, na liderança da União Africana.

Há muito que João Lourenço vinha mediando o referido conflito, mas obteve resultados parciais. Entretanto, sem aviso a Angola, os dois países em conflito decidiram serem mediados pelo Qatar, o que acaba por desagradar alguns líderes africanos, mas apenas João Lourenço expressou publicamente essa irritação.

Para João Lourenço, só a União Africana pode, em colaboração com o Conselho de Segurança da ONU, indicar um mediador para os conflitos africanos, e não foi o que sucedeu com o Qatar, uma Nação distante.

E para manter valorização e respeito da União Africana como instituição, bem como a sua liderança, especialistas sugerem que Angola deve estreitar laços com Nações influentes como são os países do Sahel, em especial o Senegal, tendo em conta a sua situação actual de autoridade moral, e poderio militar.




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