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“Desencorajamos esta forma de forçar a alternância do poder”, diz João Lourenço sobre golpe no Mali

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O Presidente da República, João Lourenço, manifestou hoje, repúdio pelo golpe de Estado contra o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, ocorrido nesta terça-feira, 18.

Na sua conta no Twitter, João Lourenço diz estar a acompanhar “com atenção os últimos acontecimentos no Mali” e que, “independentemente das razões na base das quais o presidente eleito foi deposto, repudiamos e desencorajamos esta forma de forçar a alternância do poder”.

O ataque de ontem é uma repetição dos acontecimentos que levaram ao golpe de 2012, que lançou o país no caos quando os extremistas islâmicos aproveitaram o vazio de poder para se apoderarem das cidades no norte, antes de uma operação militar liderada pela França ter expulsado os terroristas dessa região.

De acordo com a agência de notícias AP, a queda do presidente, Ibrahim Boubacar Keita, segue de perto os acontecimentos que levaram à queda do seu antecessor, Amadou Toumani Toure, que também foi forçado a demitir-se depois de uma série de derrotas militares, mas nessa altura os ataques foram feitos pelos rebeldes separatistas tuaregues, ao passo que agora foram os militares a expulsar Keita do poder.

“Os mediadores pediram a Keita para partilhar o poder num governo de unidade nacional, e ele até disse que estava aberto a convocar novas eleições legislativas, mas isso não foi suficiente para os líderes da oposição, que disseram que não descansariam até o afastar do poder”, lê-se no artigo da AP.

Histórico

Keita anunciou a sua saída num discurso transmitido pela televisão nacional, no qual apareceu de máscara devido à pandemia de covid-19 e explicou que se demitia para evitar um banho de sangue.

“Em pleno século XXI, África deve seguir o exemplo da América Latina, que conseguiu ultrapassar, com sucesso, o trágico período dos sucessivos golpes de Estado dos anos 70”, exemplifica João Lourenço.

Eleito democraticamente em 2013 e reeleito cinco anos depois, Keita tinha, na verdade, poucas alternativas, depois de os soldados se terem armado na cidade de Kati e avançado para a capital, detendo o primeiro-ministro, Boubou Cisse, e o próprio Presidente.

Os acontecimentos de terça-feira surgem depois de vários meses de protestos e agitação social na sequência das eleições renhidas, e acontecem numa altura em que o Governo estava a ser criticado pela maneira como lidou com a insurgência dos últimos meses, que atirou para a instabilidade um país até então apresentado como um modelo de estabilidade na região.

Durante o último ano, os militares foram várias vezes vencidos por grupos islâmicos ligados ao Estado Islâmico e a grupos afiliados à al-Qaida, nomeadamente no norte do país, no ano passado, o que levou inclusivamente a uma reorganização das forças armadas para combater esta ameaça.

A notícia da detenção de Keita foi recebida com celebração na capital pelos protestantes contra o Governo, que começaram as manifestações logo em junho, exigindo a demissão do Presidente.

“Todos os malianos estão cansados, atingimos o limite”, disse um manifestante citado pela AP, demonstrando a mudança sentida nas ruas face à esperança com que Keita foi recebido em 2013, quando venceu mais de duas dúzias de candidatos para ascender ao poder, com 77% dos votos.

O impasse político das últimas semanas manteve-se, mesmo com a intervenção da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o que deixou antever uma nova intervenção militar que poderia conduzir a uma queda do Governo.

“Esperamos que com o envolvimento directo da União Africana, se encontrem os melhores caminhos para a saída da crise. Neste momento crítico para o Mali, nossa total solidariedade para com o povo maliano”, finaliza o presidente angolano.

Mali

O Mali é um país da África Ocidental, fazendo fronteira com a Argélia, a Norte, a Mauritânia, Senegal, Gâmbia e Guiné, a Oeste, Costa do Marfim e Burkina Faso, a Sul, e com o Níger, a Leste.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o Mali deverá ver o crescimento económico de 5,1% do ano passado abrandar para 1,5% este ano, mantendo-se, apesar dos efeitos da pandemia, em território positivo.

Com quase 20 milhões de habitantes, mais de 60% dos quais com menos de 25 anos, este país francófono é o oitavo em área no continente africano.

Por Correio da Kianda com Lusa




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