Politica
Democracia, segurança e economia na agenda do encontro entre Biden e João Lourenço
Aguardado com bastante expectativa em Luanda, Joe Biden entra para a história como o primeiro Chefe de Estado norte-americano a visitar Angola. O líder da Casa Branca conseguiu afastar o Governo do MPLA do seu mais importante aliado à face da terra, a Rússia.
O Presidente dos Estados Unidos da América vem a Angola entre os dias 13 e 15 de Outubro do corrente ano. É já a visita de Chefe de Estado mais importante que Angola alguma vez registou, tendo em conta que se trata da Nação mais poderosa do planeta Terra.
De acordo com a informação constante no website oficial da Casa Branca, Joe Biden e o seu homólogo e anfitrião João Lourenço vão discutir o “aumento da colaboração em prioridades compartilhadas”, incluindo o reforço das “parcerias económicas” que mantêm a competitividade das empresas”.
Será, ainda fazendo fé na Casa Branca, assinado uma Parceria para Infraestrutura e Investimento Global (PGI) do G7, uma iniciativa que expressa a visão conjunta entre Luanda e Washington “para a primeira rede ferroviária transcontinental de acesso aberto de África”, que começa no Lobito, e que “conectará o Oceano Atlântico ao Oceano Índico”.
“[Vai-se igualmente discutir] o fortalecimento da democracia e do engajamento cívico; intensificar as acções em matéria de segurança climática e transição para as energias limpas; e aumentar a paz e a segurança”, lê-se na nota da Casa Branca, na qual refere que a visita do presidente Biden a Luanda “celebra a evolução da relação EUA-Angola, e sublinha o compromisso contínuo” daquela maior potência económica e militar” com os parceiros africanos.
Evolução da relação…
Aguardado com bastante expectativa em Luanda, Joe Biden entra para a história como o primeiro Chefe de Estado norte-americano a visitar Angola. O líder da Casa Branca conseguiu afastar o Governo do MPLA do seu então mais importante aliado à face da terra, a Rússia.
Embora Moscovo, a maior ameaça militar para Washington entre as outras capitais do mundo, tenha apoiado o MPLA desde a guerra de libertação nacional contra o colono português, bem como na guerra ideológica, que opôs o MPLA da UNITA, a Administração Biden contornou todo este facto.
Diferentes registos mostram que Joe Biden, enquanto ainda senador, já defendia ser possível contrariar a aproximação de Luanda e Moscovo a favor de Luanda-Washington. Entretanto, daquele período para cá, passaram à frente da Casa Branca vários presidentes, mas nenhum deles foi capaz de quebrar o elo de ligação entre essa importante potência da SADC e a maior potência nuclear do mundo, bem como a ligação com o gigante asiático, que também se tornara um actor relevante para Angola.
Subtil, contrariamente a Administração Trump, que pretendia uma aproximação forçada, Biden levou Angola a olhar para o lado, e ver que há um outro mundo para além da Rússia e a China.
Como enunciado em textos anteriores publicados no Correio da Kianda, nunca antes Washington mandou para Luanda os quadros mais importantes do governo e de outras instituições estatais norte-americanas, assim como fez Joe Biden.
O maior sinal de que Angola já não era o mesmo no quadro da relação internacional foi dado pelo próprio João Lourenço, a 15 de Setembro de 2022, durante o seu discurso proferido na cerimónia de investidura para o seu segundo mandato presidencial.
Diferente do apelo que fazia antes para que a Rússia e a Ucrânia devessem ambas cessar a guerra, o Presidente angolano juntou-se ao coro dos discursos ocidentais, referindo que a Rússia devia parar com a guerra, um sinal que se subentende que o Kremlin é o ente agressor. E mais: nas Nações Unidas, a maior tribuna política mundial, Angola passou a adoptar o mesmo sentido de voto ocidental, como foi o voto a favor do projecto de resolução que condenou a anexação de territórios ucranianos por parte da Rússia.