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Opinião

Cultura como motor de desenvolvimento de Angola

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O sector da cultura é a alma de uma nação. É nele que se guardam as histórias dos nossos antepassados, se celebram as conquistas do presente e se desenham os sonhos do futuro. Mais do que um elemento de entretenimento, a cultura é uma ferramenta poderosa de identidade, coesão social e desenvolvimento económico. Em Angola, ela pulsa nas músicas que nos fazem dançar, nas tradições que mantemos vivas e nos monumentos que contam quem somos. Contudo, para que esta riqueza seja preservada e promovida, é necessário aprender com exemplos internacionais e adaptar estratégias às nossas particularidades para criar um diferencial competitivo.

O sector cultural, tanto em Angola quanto no resto do mundo, enfrenta desafios que vão muito além da preservação do património. Em um contexto global cada vez mais marcado pela digitalização, globalização e crise climática, as nações se veem diante da tarefa de proteger suas identidades culturais enquanto se adaptam às mudanças do presente. No entanto, alguns países souberam transformar a sua cultura em uma vantagem competitiva. Na região da SADC, por exemplo, o sector cultural ainda é subvalorizado como motor económico, mesmo com sua vasta diversidade cultural. No continente africano, o desafio está em equilibrar a herança histórica com as demandas do progresso, enquanto no mundo inteiro a concorrência cultural é intensa, exigindo que os países inovem para preservar e promover suas culturas de maneira eficaz.

Angola, como parte da SADC, possui uma rica diversidade cultural que muitas vezes é pouco explorada. Para que o sector cultural se torne um diferencial competitivo, é essencial que a cultura seja entendida como um activo económico estratégico. Países como a África do Sul têm sido bem-sucedidos em transformar as suas expressões culturais em produtos económicos viáveis, através de uma integração entre cultura, desporto e arte, maximização de recursos e inclusão social. Em Angola, a criação de plataformas para promoção de festivais culturais, que incluam a música tradicional, o desporto e outras formas de expressão cultural, poderia gerar novos mercados na economia criativa e tornar o país um polo de inovação cultural.

Em comparação com países africanos como a Nigéria, que já exporta sua indústria cultural a nível global, Angola ainda carece de um modelo eficaz para promover sua identidade cultural internacionalmente. A criação de um instituto cultural, como o Goethe-Institut da Alemanha, poderia ser uma estratégia eficiente. Um “Instituto Agostinho Neto” ajudaria a promover a música, a dança, a literatura e o cinema angolanos, permitindo que o país se projetasse como uma potência cultural não só no continente africano, mas também no cenário global, tornando-se mais competitivo ao diversificar as suas exportações culturais.

Globalmente, a digitalização é um dos maiores desafios e oportunidades para o sector da cultura. Na Alemanha, o uso de tecnologias de ponta e Big Data e Inteligência Artificial (IA) para mapear, catalogar e promover o património cultural tem sido um modelo de sucesso. Este modelo, que garante a preservação e promoção digital do património cultural, poderia ser adaptado em Angola, por meio de plataformas digitais que registrem e disponibilizem a nossa história, festivais e tradições culturais. Essa digitalização contribuiria para o aumento da visibilidade e acessibilidade global da cultura angolana, criando uma vantagem competitiva no mercado cultural global.

Outro desafio importante para Angola, que também é comum na SADC e em muitos países africanos, é o financiamento do sector cultural. O investimento insuficiente e a falta de políticas públicas adequadas para o sector dificultam o seu desenvolvimento. A Alemanha, por exemplo, combina financiamento público e privado para garantir a sustentabilidade das suas iniciativas culturais. Angola poderia adoptar Parcerias Público-Privadas (PPPs) como um modelo de financiamento para incentivar a colaboração entre o governo e o sector privado, e criar um ambiente favorável para o financiamento de festivais, museus e programas educativos culturais. Esse modelo não só garante a viabilidade do sector, como também oferece uma nova perspectiva de desenvolvimento económico e social.

No turismo cultural, a África do Sul tem sido pioneira ao transformar o seu património cultural em uma atracção turística, gerando receitas significativas. O sector do turismo cultural em Angola tem um enorme potencial, dada a diversidade e riqueza cultural do país. Para criar um diferencial competitivo, Angola poderia desenvolver pacotes turísticos que incluissem visitas a monumentos históricos, festivais culturais, gastronomia local e experiências imersivas que mostrem a autenticidade das suas tradições. Com isso, Angola teria a oportunidade de gerar empregos, promover as comunidades locais e atrair turistas, tanto nacionais quanto internacionais, tornando-se uma referência no turismo cultural na África.

Por fim, a preservação do património cultural é um desafio global, mas, em Angola, a fragilidade das leis de protecção e a falta de conscientização dificultam o processo de preservação. A Alemanha possui um sistema robusto de protecção cultural, com políticas públicas eficazes e bem estruturadas. Angola precisa fortalecer suas leis de protecção ao património e implementar campanhas de sensibilização que incentivem o orgulho cultural e a responsabilidade colectiva pela preservação da história. Isso criaria um ambiente mais favorável para a valorização do património e contribuiria para o fortalecimento do sector cultural como um verdadeiro motor de desenvolvimento.

Esses desafios e comparativos demonstram que, embora a cultura seja uma força poderosa para a construção da identidade e do desenvolvimento, é necessário um compromisso estratégico para transformá-la em um motor de progresso social e económico. Ao aprender com as melhores práticas internacionais e adaptá-las ao contexto angolano, Angola pode criar um diferencial competitivo significativo no sector cultural. O país tem o potencial de se tornar uma referência regional, continental e global no campo da cultura, mas para isso, a hora de agir é agora.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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