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“Crack” é a droga que mais tem destruído famílias em Luanda

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O Director do centro de reabilitação de toxicodependentes Remar, Florentino Coelho, revelou que o crack é o tipo de droga mais consumido e que tem destruido famílias angolanas.  Ao Jornal de Angola, o responsável daquele centro cristão revela que todos os dias a instituição recebe pedidos de internamento de viciados em drogas.

“Desde as primeiras horas da manhã, o nosso telefone não pára de tocar”. Inicia, assim, a conversa entre o Jornal de Angola e Florentino Coelho, da Remar, um centro cristão de ajuda e reabilitação de toxicodependentes, espalhado por vários países do mundo.

Florentino Coelho explica que, do outro lado da linha, surge sempre alguém a pedir ajuda à Remar, que, desde o início da sua actividade no país, em 1997, já conseguiu reabilitar e reinserir na sociedade mais de cinco mil pessoas, que estavam no mundo das drogas.

“Tem sempre um familiar que nos liga para internar o irmão, filho ou marido, porque já não aguenta ver esta pessoa a afundar-se no mundo das drogas”, conta Florentino Coelho.

Apesar de a procura ser elevada, a Remar alterou o método de atendimento, por força da pandemia da Covid-19. Hoje em dia, para um paciente ser internado na Remar, tem de ser feita, primeiro, uma marcação por telefone, para, depois, haver uma entrevista, na qual é feita uma avaliação psicológica, para se saber se aceita fazer o tratamento.

Diariamente, de acordo com Florentino Coelho, são entrevistadas cinco pessoas.

Aprovado o internamento, a pessoa tem de estar convicta de que, de agora em diante, vai ter de passar por um processo de avaliação contínua. “Não basta os familiares quererem que o seu parente fique internado”, acentua Florentino Coelho, que diz ser necessário que o paciente aceite ser tratado.

Quando o internamento é feito contra vontade do paciente, adianta a fonte, em menos de três dias, ele pode abandonar a Remar e “nós não conseguimos impedi-lo”.

O tratamento começa com a ida do paciente para a “quinta do oleiro”, onde é submetido a uma terapia ocupacional. A terapia, segundo Florentino Coelho, é feita com o objectivo de manter os pacientes ocupados, praticando várias actividades, entre as quais domésticas, recreativas, leitura e meditação da palavra de Deus.

O centro de reabilitação da Remar tem duas áreas de serviço, uma para mulheres e outra para homens. Quando o Jornal de Angola esteve no local, a ala feminina tinha 40 mulheres, sendo que 10 eram usuárias de “crack” e 30 eram dependentes de álcool.

Já na área masculina, estavam 86 pessoas, da faixa etária dos 14 aos 60 anos, muitos dos quais eram usuários de vários tipos de drogas ilícitas e outros consumiam, de forma excessiva, bebidas alcoólicas.

Forma de tratamento  

O tratamento feito no centro da Remar é totalmente natural e os pacientes devem ficar internados, pelo menos, durante um ano.

“O nosso tratamento é baseado no evangelho cristão e não usamos nenhum tipo de medicamentos”, relata Florentino Coelho.

Cada indivíduo, homem ou mulher, tem de ser capaz, com o seu próprio esforço, de ser o agente responsável pela sua melhoria, refere Florentino Coelho, que é o responsável da “casa masculina” da Remar, referente à segunda fase do projecto “Kikuxi II”.

A droga mais usada pelos jovens que procuram a Remar é a liamba, cientificamente conhecida como “cannabis”, mas o “crack” é a que mais destrói famílias na província de Luanda, revela Florentino Coelho.

“O crack é uma droga que vicia rapidamente”, explica Florentino Coelho, acentuando que o usuário de “crack” fica agitado, eufórico e com alucinações.

Depois de um ano de tratamento, a maioria dos doentes internados abraça a causa da Remar, revela Florentino Coelho, ele mesmo um antigo usuário de drogas, recuperado pela Remar.

 Tratamento paralisado

Florentino Coelho confirma ao Jornal de Angola a existência de pacientes que regressam à Remar depois de terem desistido do tratamento. Quando isto acontece, segundo Florentino Coelho, é feita uma nova entrevista e aberta uma nova ficha, para “tudo começar do zero”.

As famílias dos pacientes participam num programa psicossocial, por via do qual são submetidas a um trabalho de aconselhamento, para saberem lidar com os pacientes, depois de estes concluírem o tratamento.

“É necessário que o indivíduo seja inserido na sociedade e no ambiente familiar sem ser discriminado nem estigmatizado”, defende Florentino Coelho.

Cada indivíduo recuperado na Remar é um activista da luta contra as drogas, acentua Florentino Coelho.

“Cada um de nós, que trabalhamos na Remar, tem uma história ligada às drogas”, sublinha Florentino Coelho, que diz ser uma obrigação contar a sua história de superação.

Na província de Luanda, a Remar dispõe, actualmente, de cinco centros, sendo uma casa de apoio a adolescentes em situação de vulnerabilidade social, uma casa para homens, uma casa para mulheres, uma escola e um infantário para crianças de até cinco anos, todos localizados no município de Viana.

A escola, onde se dá aulas referentes ao ensino primário, atende crianças das comunidades vizinhas da Remar, sendo a própria Organização Não-Governamental quem suporta os gastos, desde a compra de material didáctico ao pagamento dos salários dos professores.

C/JA




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