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Opinião

Corrupção e adversidade: a urgente reflexão sobre o futuro de Angola em 2025

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Como cidadão e especialista em Relações Internacionais, sinto-me na obrigação de expor e analisar, com rigor técnico e perspetiva crítica, a realidade que se impõe em Angola. Num país com imenso potencial, assistimos a um cenário em que os recursos do Estado são sistematicamente desviados para fins ilícitos, em detrimento de políticas públicas que poderiam transformar a vida dos angolanos. Os casos recentes de roubo na Administração Geral Tributária (AGT) e os desvios no Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE) evidenciam a falência ética de um sistema que privilegia interesses individuais sobre o bem comum.

A prática da corrupção, que tem sido perpetuada ao longo dos anos, permite que uma minoria se enriqueça às custas do povo, desviando fundos que poderiam ser aplicados na melhoria da infraestrutura, na criação de emprego e na promoção do desenvolvimento sustentável. O que mais agrava a situação é que, enquanto esses recursos desaparecem para paraísos fiscais, os créditos que o governo continuamente solicita, com o intuito de financiar projetos de desenvolvimento, servem para mascarar a profunda falência na gestão dos fundos públicos. Assim, em vez de verem as suas ruas, bairros e municípios a serem revitalizados, a população é forçada a conviver com estradas esburacadas e serviços públicos em condições precárias.

A lógica subjacente a estas práticas revela um individualismo extremo e uma ausência de patriotismo que minam as bases do progresso nacional. Os recursos desviados não são utilizados para o desenvolvimento das comunidades, mas sim para sustentar um estilo de vida luxuoso, que é frequentemente ostentado nas redes sociais. Os responsáveis pelos desvios, que desfrutam de casas em condições ideais e veículos de luxo, ignoram deliberadamente as mesmas dificuldades que afligem a maioria dos cidadãos. Este comportamento, além de ser eticamente condenável, reflete a desconexão entre as prioridades dos dirigentes e as necessidades reais da população.

Num contexto em que Angola tem sido historicamente desafiada por conflitos e na construção de uma identidade pós-independência, a persistência deste modelo de gestão corrompida acarreta sérias consequências para o futuro do país. A cultura da impunidade, que permite que os prevaricadores escapem à justiça, cria um ciclo vicioso no qual o desvio de fundos públicos se torna uma prática habitual. Este fenómeno compromete a confiança nas instituições e fragiliza a capacidade do Estado de promover políticas que fomentem a justiça social e a equidade. Ao mesmo tempo, a constante procura de créditos para financiar projetos que, na verdade, são inviáveis sem uma real gestão dos recursos, apenas aprofunda o abismo entre o que é prometido e o que é efetivamente realizado.

O contraste entre a vida dos que desviam os recursos e a realidade da maioria dos angolanos é brutal e emblemático. Enquanto os responsáveis pelos desvios enriquecem em paraísos fiscais e exibem, com orgulho, o seu luxo nas redes sociais, o cidadão comum permanece refém de um sistema que nega oportunidades de crescimento e dignidade. As mesmas estradas esburacadas e a precariedade dos serviços públicos são um constante lembrete do fracasso de um modelo de gestão que privilegia o individualismo e a impunidade. Esta situação é, sem dúvida, um entrave para o desenvolvimento sustentável, impedindo que Angola alcance níveis de progresso comparáveis aos dos países desenvolvidos.
Face a este cenário, urge uma reflexão profunda sobre os rumos traçados pelo país. É imprescindível que se instaurarem mecanismos de fiscalização rigorosos, que a Justiça seja aplicada de forma equânime e que os recursos públicos sejam geridos com transparência e responsabilidade. O futuro de Angola depende, acima de tudo, de uma mudança de paradigma, em que o compromisso com o desenvolvimento coletivo e a ética pública prevaleçam sobre os interesses pessoais. Apenas assim será possível construir uma sociedade mais justa, onde os créditos solicitados pelo governo se traduzam em investimentos reais na melhoria da qualidade de vida da população, e não em artifícios para mascarar um sistema de corrupção arraigado.

A transformação do país passa necessariamente pela responsabilização dos prevaricadores e pelo resgate do patriotismo perdido. É preciso que cada angolano se interroge sobre o impacto destes desvios na sua vida quotidiana e na evolução da nação. Se continuarmos a permitir que os responsáveis pelo saque dos recursos públicos vivam num luxo que contrasta abissalmente com a realidade das comunidades, estaremos, de facto, condenados a um futuro de estagnação e desigualdade. O desafio que se impõe, portanto, é reverter este quadro, instaurando uma cultura de transparência e responsabilidade que coloque o interesse público acima de qualquer ambição pessoal. Só assim Angola poderá, enfim, alcançar o desenvolvimento sustentável e conquistar o reconhecimento de um país verdadeiramente moderno e justo.




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