Politica
Corredor do Lobito: países devem tirar proveitos da cooperação norte-americana
Os analistas da Rádio Correio da Kianda defendem que Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia devem traçar bem as suas estratégias para melhor tirar proveitos no Corredor do Lobito.
Sobre o assunto, o nosso jornal conversou com quatro especialistas: Daniel Pereira, Eurico Gonçalves, Domingos Palanga e Deodato Francisco.
Leia abaixo as intervenções
De que forma esses países podem usufruir do Corredor do Lobito?
Daniel Pereira: Os americanos quando vão, quando estabelecem uma relação, em concreto já têm na folha o que é que eles querem, o que é que eles pretendem, mais do que os outros, por exemplo, no nosso caso, que estamos ainda na emoção, na euforia. Eles já sabem o que é que querem e, aliás, essa, ou seja, a vinda do Joe Biden, tal como eu disse que é uma agenda de Estado, não vem de hoje e nem sequer até de 10, 15, 20 anos, não. Uma das razões é o Corredor do Lobito, tendo em conta que Angola, Zâmbia e o Congo Democrático são países muito ricos do ponto de vista de recursos minerais, sobretudo ferro, cobre, dentre outros.
Então, a ideia de criação desse corredor não é algo novo.
Daniel Pereira: A transportação desses minerais por via, tendo em conta que o Congo Democrático e a Zâmbia não têm mar, a transportação ou o despacho dessa mercadoria será por via do Corredor do Lobito. E essa agenda do Corredor do Lobito não é de hoje, estamos a falar do século XIX, a agenda do Corredor do Lobito estamos a falar do século XIX. Os americanos já tinham a pretensão de criar um corredor desde o século XIX, obviamente com a participação de alguns países europeus.
Daniel Pereira: Vai se traduzir em alguns ganhos reais, da criação de mais postos de trabalho, enfim, e também o desenvolvimento nessa área. Numa relação entre Estado, há vantagem mutuamente, há o princípio da reciprocidade de vantagem, mais do que nos prestar vassalagem.
Em que baseia-se a cooperação entre Angola e os Estados Unidos?
Eurico Gonçalves: Um país com a dimensão demográfica e a dimensão geográfica de Angola precisa de ter aliados estratégicos, cooperar com países mais avançados do ponto de vista de experiência e de sabedoria, no caso dos Estados Unidos da América, para poder também dar robustez à própria economia angolana, o sistema financeiro angolano, as instituições políticas angolanas e obviamente as liberdades e outros direitos fundamentais do povo angolano.
Joe Biden vai visitar Angola este mês. Quais questões essa visita levanta?
Eurico Gonçalves: Esta visita está a levantar duas questões fundamentais. Primeiro, existem muitas dúvidas, existem muitas formas de questionamento no que diz respeito à cooperação entre Angola e os Estados Unidos. A nossa Constituição, no artigo que eu citei, o décimo segundo, dispõe o seguinte, o Estado angolano, ou seja, a República de Angola, respeita os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e da União Africana e mantém relações de cooperação e de amizade com todos os Estados e povos, obviamente baseando-se nos princípios da igualdade, nos princípios da independência e autodeterminação, bem como também em outros princípios que a própria Constituição consagra.
Há algum risco?
Eurico Gonçalves: Uma outra questão que é relevante, que a miúde se é tratada com muita consistência na esfera pública é de que a nossa soberania provavelmente estará em risco com esta cooperação. A resposta que eu trago aqui é não, não porque os Estados Unidos da América é um país democrático, é um país que, pela sua história, respeita os direitos fundamentais de todos os povos e a sua forma de governação. E a nossa Constituição consagra de que o Estado angolano não permite a instalação de bases militares estrangeiras no seu território.
Quais elementos estão na base do interesse dos Estados Unidos em Angola.
Domingos Palanga: O país natural, o Corredor do Lobito e a bacia do Namibe estão na base dos interesses estratégicos e económicos portanto do Biden. Agora, Angola, República Democrática do Congo e a Zâmbia, em certa medida, são desafiadas a estruturarem agendas não de governo, tal como referiu o doutor Daniel Treira, mas agenda de Estado para poderem tirar proveitos desta cooperação americana e surgirem daí vantagens mútuas para o bem-estar, o progresso e o desenvolvimento dos povos destes três países, mas também do parceiro americano.
Pensa que a nova parceria dos Estados Unidos visa criar um contrapeso em relação ao gigante asiático, a China?
Deodato Francisco: Como sabemos, existem as chamadas parcerias para infra-estruturas globais, para infra-estruturas de investimento global. Esta parceria para infra-estrutura de investimento global é uma estratégia que o Ocidente terá criado para contornar a política chinesa de afirmação em África e nos países em via de desenvolvimento, porque se verificou que a China continua a ter um grande posicionamento nesses países por via de financiamentos, então, os ocidentais, ou seja, a Europa, os Estados Unidos da América, que o grupo G7 criou essa parceria para infraestrutura de investimentos globais, que visa reunir 600 mil milhões de dólares para acelerar então o desenvolvimento, ou seja, para conseguir intervir juntos os países em via de desenvolvimento e continuar e contrabalançar, criar aqui o contrapeso para o investimento chinês.
E nesse domínio, por exemplo, aqui para África e propriamente para Angola, eles conseguem mobilizar financiamento para o Corredor do Lobito, que foi mobilizado um bilhão de dólares para se poder financiar esse projecto.