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Coreia do Norte passa todas as linhas vermelhas com míssil a sobrevoar o território do Japão
Ao disparar um míssil balístico para o Japão, atravessando o norte do país, a Coreia do Norte trespassou todas as linhas vermelhas que lhe foram desenhadas no mapa da paciência dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e do Japão.
E sim, nas próximas horas pode acontecer aquilo que todos temiam mas ninguém esperava ver suceder: um ataque directo à Coreia do Norte como resposta aquilo que é já foi definido como ir longe demais para poder passar sem uma resposta à altura.
Na memória de todos está a frase do Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, quando, há menos de duas semanas, afirmou que a Coreia do Norte, caso fizesse aquilo que acabou de fazer ao disparar um míssil balístico para os céus do Japão, seria alvo de “fúria e fogo como o mundo nunca antes vira”.
E agora? Agora, como diluente para aquilo que pode ser o despoletar de uma catástrofe global, os analistas admitem que o Japão não accionou propositadamente o seu sistema de defesa antimíssil porque isso tornaria difícil de explicar que o projéctil norte-coreano que sobrevoou o território nipónico foi apenas um teste perigoso… mas apenas um teste e não ainda uma agressão declarada e o início de uma guerra que pode saber-se como começa mas ninguém pode adivinhar como acabará.
O projéctil norte-coreano foi disparado pouco antes das 22:00 (hora de Luanda) de ontem pelo sistema de defesa da Coreia do Sul e confirmado pouco depois pelo Governo do Japão, que emitiu de imediato um alerta geral à população para se manter nos abrigos, informando a seguir que não foi feita qualquer tentativa para abater o míssil.
Trump e Abe conversam ao telefone
Depois do disparo do míssil, que atravessou o norte do arquipélago japonês, caindo ao largo da ilha de Hokkaido, após ter voado mais de 2 000 km”s e atingido uma altitude de 550 km”s, o Presidente norte-americano e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, estiveram 40 minutos ao telefone a decidir o que fazer.
Para já, sabe-se que os dois líderes estão de acordo sobre o que fazer, mas não o disseram na íntegra, ficando apenas a certeza de que a pressão sobre Pyongyang vai aumentar, devido ao extremar das preocupações.
A Rússia, a China e a Coreia do Sul, o país mais exposto a eventuais agressões militares da Coreia do Norte, juntaram-se na condenação e no assumir das preocupações sobre aquilo que é “algo sem precedentes” e uma “ameaça gravíssima”, estando, como adiantou o primeiro ministro do Japão, a ser já preparada mais uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Estou a 100 por cento com o Japão”, disse Donald Trump.
Dúvidas sobre capacidade de defesa japonesa
Uma das questões mais salientes deste novo patamar de ameaças sobre os vizinhos por parte de Kim Jong-un foi a rápida polémica que se instalou no Japão, porque a ausência de reacção do sistema de defesa antimíssil, constituída essencialmente por baterias de mísseis terra-ar Patriot, de origem norte-americana, pode pressupor uma ineficácia ou uma falha grave.
E também porque o que a Coreia do Norte pode ter, com este teste, demonstrado as fragilidades do sistema de defesa nipónico, que é fornecido por Washington, servindo como fonte de informações importantes para países como a China ou a Rússia, que estão por norma em tensão permanente com os EUA, seja por causa de conflitos como o da Síria (Rússia) ou do Mar do Sul da China.
Recorde-se que a Coreia do Norte, segundo as agências de inteligência norte-americanos, já tem ogivas nucleares em miniatura que podem ser transportadas pelos mísseis balísticos ou intercontinentais (ICBM) do seu arsenal.
E também que a Coreia do Norte, que já é de facto uma potência nuclear, tem mantido um registo de testes, há vários meses, a novos mísseis sujeitos a interdição pelo Conselho de Segurança da ONU, que não parece ter sofrido com as sanções económicas decret6adas pelas Nações Unidas e que é comummente aceite pelos analistas que Kim Jong-un entende como dado garantido que o seu arsenal nuclear é a sua única forma de garantir a manutenção no poder e a dissuasão mais eficaz contra a “agressão” dos EUA.