Politica
“Conselho de Segurança das Nações Unidas já não reflecte realidade do mundo hoje” – João Lourenço
“A comunidade internacional não pode continuar a assistir impotente e, de alguma forma, indiferente ao crescente número de perda de vidas de seres humanos, na sua esmagadora maioria civis inocentes, velhos, mulheres e crianças, na Faixa de Gaza”.
Durante o seu discurso no jantar de boas-vindas oferecido esta quinta-feira, 27, pelo Presidente da República da Cote D’Ivoire, o Chefe de Estado angolano fez menção aos diversos conflitos existentes hoje em África, no Médio Oriente e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
“Estes dois grandes conflitos, que abalam o mundo e o colocam cada vez mais à beira de uma escalada de dimensões incontroláveis e de consequências trágicas, devem levar-nos a reflectir na necessidade de se encontrarem os melhores caminhos para se alcançar a paz definitiva na Ucrânia e na Palestina”, frisou.
Em África, o Presidente de Angola listou “a situação que se verifica no Leste da RDC”, onde, explicou “a República de Angola, no quadro da CIRGL e em articulação com os Estados Membros da SADC, tem realizado um papel de mediação, com resultados que dão esperanças animadoras quanto à resolução deste conflito, mesmo que por vezes algumas ocorrências pareçam deitar por terra todos os resultados alcançados nas diferentes etapas do processo de pacificação da região”, disse, fazendo menção à recente escalada no conflito, onde Kinshasa acusa Kigali de financiamento ao grupo terrorista M23, que tem ocupado boa parte do Leste da República Democrática do Congo.
Mostrou-se igualmente preocupado com “a situação do Sudão, a qual requer uma acção coordenada de todos os actores envolvidos na busca de soluções urgentes para este conflito que já provocou uma crise humanitária de proporções alarmantes, uma enorme perda de vidas humanas e a destruição de infra-estruturas de valor incalculável e que são fundamentais para o desenvolvimento desse país”.
“Há outras situações preocupantes no continente, nomeadamente as que ocorrem na região do Sahel, que devem continuar a merecer a nossa atenção e um permanente esforço em busca de soluções, pela influência nociva e desestabilizadora que exercem na região e em África de uma forma geral”, reforçou.
Com isso, diante do Chefe de Estado anfitrião, Alassane Ouattara, o Presidente João Lourenço justificou o facto de Angola voltar a defender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a fim de responder, de forma célere e eficaz, às crises e conflitos no mundo. Na ocasião, reafirmou a Posição Comum Africana do Consenso de Ezulwini e da Declaração de Sirte, que reiteram a necessidade de pelo menos dois assentos permanentes e cinco não permanentes para os Estados Africanos no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Por esta e outras razões, defendemos também a necessidade de reforma das Nações Unidas, em particular do seu Conselho de Segurança, que já não reflecte a realidade política, demográfica e económica do mundo de hoje, que clama pela entrada de novos actores que defendam os interesses dos povos de África, da América Latina, do Médio Oriente e da Ásia, portanto do chamado Sul Global”, ressaltou.
Acordos
Durante a visita oficial de dois dias a Cote D’Ivoire, foram assinados catorze acordos nos domínios da Agricultura, Minas e Hidrocarbonetos, Saúde, Desportos, Radiodifusão, Diplomacia (Consultas Políticas), Cooperação Intergovernamental, Enquadramento e Promoção da Juventude, Empoderamento da Mulher e Igualdade de Género, Recursos Hídricos, Economia Numérica (Tecnologias de Informação e Comunicação), Recursos Florestais e Fauna, Cultura e Comércio.
“Estou animado com a perspectiva que se delineou nos nossos contactos de hoje e que está em grande medida reflectida nos catorze instrumentos jurídicos que foram assinados, pois temos uma base consistente para empreendermos acções que nos levem a intensificar a cooperação bilateral com pragmatismo e com uma lógica de resultados concretos, nos sectores da agricultura, da formação de quadros, do comércio, da saúde, das minas e hidrocarbonetos, do turismo e de vários outros, em cujo âmbito nos cabe a responsabilidade de agirmos de modo assertivo, para recuperarmos o tempo perdido ao logo destes anos de relações entre os nossos dois países”, reforçou João Lourenço.
Homenagens
Nesta quinta-feira, João Lourenço foi condecorado com a “Grande Cruz da Ordem Nacional”, a mais alta distinção a que se elevam as personalidades que o Governo local entenda condecorar. Recebeu, igualmente, um nome tradicional:
“Numa cerimónia rica em tradição, com uma sequência de rituais, a João Lourenço foi atribuído um nome tradicional que representa firmeza e garra como guerreiro, passando a fazer parte (simbolicamente) da etnia atcham, destacada na história do país por ter sido invencível ao longo do tempo na defesa do território de Abidjan frente às sucessivas investidas de outros guerreiros”, destaca a página oficial da Presidência da República de Angola.