Opinião
Comunicação política digital em Angola: o Governo está realmente preparado para ouvir o povo?
A comunicação política digital tem assumido uma importância crescente no cenário mundial, refletindo as transformações no modo como os cidadãos interagem com as instituições políticas. Em Angola, um país em plena evolução no uso das tecnologias de informação, a comunicação política digital apresenta-se como uma ferramenta estratégica crucial para fortalecer a democracia e ampliar a participação do cidadão. A digitalização permite que a comunicação política transcenda os limites das formas tradicionais de mídia, oferecendo aos governantes e partidos uma nova forma de dialogar com o público.
O conceito de comunicação política digital vai além do simples uso das redes sociais ou de plataformas digitais. De acordo com Chadwick (2017), “a comunicação política digital envolve a utilização de tecnologias de informação para a produção e disseminação de conteúdos políticos que buscam influenciar a opinião pública, promover acções eleitorais ou governamentais e fortalecer a legitimidade das instituições.” Nesse sentido, a comunicação digital não se restringe apenas a um canal de transmissão de mensagens, mas busca estabelecer uma relação interativa e participativa entre os governantes e os cidadãos, permitindo que as duas partes se comuniquem de forma contínua e eficiente.
A Necessidade de Melhoria no Diálogo Governativo
Um dos maiores desafios da comunicação política em qualquer país é a qualidade do diálogo entre o governo e a população. Em Angola, a melhoria desse diálogo é fundamental para fortalecer a confiança nas instituições e promover uma maior inclusão política. A política digital, ao facilitar a comunicação directa e em tempo real, pode ajudar a reduzir a lacuna de comunicação existente entre o governo e o povo. Segundo Gomes (2020), “a comunicação política eficaz não se resume apenas ao envio de mensagens, mas envolve um processo dinâmico de troca de informações e construção de uma relação de confiança mútua.”
Neste contexto, a presença activa dos líderes partidários e do governo nos principais portais e redes sociais do país é crucial. Não se trata apenas de divulgar políticas públicas, mas de envolver a população de maneira constante e ouvir suas preocupações e sugestões. O uso de plataformas digitais permite que a comunicação seja mais próxima, directa e acessível, oferecendo aos cidadãos a oportunidade de participar activamente do processo político.
O Uso das Plataformas Digitais nas Últimas Eleições Americanas: O Exemplo de Trump
Nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, a comunicação política digital ganhou uma nova dimensão, especialmente com a estratégia de Donald Trump. O ex-presidente soube explorar de forma inovadora as diversas plataformas digitais para engajar os eleitores, especialmente os mais jovens. Trump não se limitou às tradicionais redes sociais, como o Twitter (onde teve uma presença marcante antes de ser banido), mas também utilizou outras plataformas emergentes, como o TikTok, podcasts e até o YouTube, para ampliar sua mensagem e mobilizar a base de apoio. De acordo com Enli (2017), “as redes sociais se tornaram uma arena essencial para a formação da opinião pública, e os políticos precisam adaptá-las como uma ferramenta estratégica para alcançar diferentes segmentos do eleitorado.” Com o uso dessas ferramentas, Trump conseguiu criar uma comunicação directa, sem filtros da mídia tradicional, ampliando o alcance das suas mensagens, muitas vezes de forma polarizadora, e mantendo um contacto constante com seus seguidores. Esse modelo de comunicação digital tornou-se um exemplo de como as plataformas podem ser utilizadas para campanhas políticas, permitindo um envolvimento mais directo e dinâmico com os cidadãos.
O Papel dos Líderes Políticos nas Plataformas Digitais
É imperativo que os principais líderes partidários em Angola compreendam a importância de estabelecer uma presença consistente e estratégica nas plataformas digitais. Isso vai além de uma simples postagem ou anúncio, sendo necessário um investimento contínuo na criação de conteúdo relevante e na interação com os cidadãos. Segundo Castells (2009), “a internet permite uma nova forma de mobilização e organização política, onde a voz dos cidadãos se torna cada vez mais relevante.” A presença digital não só fortalece a imagem pública dos líderes, mas também facilita o processo de construção de uma política mais inclusiva e participativa.
Uma das propostas mais interessantes seria a realização de entrevistas e interações públicas que saiam dos formatos tradicionais. Imaginemos o Presidente João Lourenço sendo entrevistado por Tiago Costa, humorista angolano e apresentador do programa GOZ’A’QUI, que tem se destacado pela sua abordagem irreverente e bem-humorada. Tiago Costa é conhecido pela sua habilidade em abordar temas sérios de maneira leve e envolvente, capturando a atenção de um público diversificado, especialmente os mais jovens. Seu estilo único de entrevista, com humor e profundidade, cria um ambiente que facilita a comunicação autêntica e o engajamento dos cidadãos, promovendo um diálogo mais aberto e acessível. De acordo com Oliveira (2018), “a utilização do humor na comunicação política pode ser uma estratégia eficaz para engajar o público e humanizar os líderes políticos, criando um espaço para o diálogo mais autêntico e acessível.”
Essa abordagem poderia trazer uma nova dimensão ao formato tradicional de entrevistas, proporcionando uma oportunidade para o Presidente não apenas expor sua visão e políticas, mas também para demonstrar sua humanidade e capacidade de dialogar com o cidadão comum. O uso do humor e da descontração poderia ajudar a criar um ambiente mais acessível e próximo das preocupações diárias da população.
A Transformação da Comunicação Política em Angola
Portanto, em um país como Angola, onde a juventude representa uma parcela significativa da população, a comunicação política digital tem um papel ainda mais crucial a desempenhar. A digitalização da comunicação política não deve ser vista apenas como uma tendência, mas como uma necessidade para os líderes políticos e partidos, especialmente no contexto da crescente utilização de redes sociais e plataformas digitais pela população angolana.
Como afirmam Pinto e Santos (2016), “o futuro da comunicação política reside na capacidade de os líderes se adaptarem ao novo cenário digital para aproveitar as oportunidades oferecidas pela internet para criar um diálogo mais eficaz e transparente com a sociedade.” Portanto, ao investir na comunicação política digital e no fortalecimento do diálogo governativo, Angola pode caminhar para uma sociedade mais democrática, participativa e inclusiva, onde a voz dos cidadãos é verdadeiramente ouvida e considerada na tomada de decisões políticas.
A melhoria do diálogo governativo através das plataformas digitais não só fortalecerá a relação entre o governo e a população, mas também contribuirá para uma política mais transparente e acessível, promovendo uma maior confiança nas instituições e um futuro mais próspero para o país.