Economia
Clima pesado toma conta do BCI por causa de despedimentos de trabalhadores
Decorre no Banco de Comércio e Indústria (BCI) um processo de despedimentos e dispensa de colaboradores, enquadrado na estratégia do seu plano de restruturação, com vista a reduzir os custos operacionais, no seguimento da privatização do banco. Entretanto, um clima de crispação interna é descrito numa carta aberta a que o Correio da Kianda teve acesso, escrita por um funcionário do banco, denunciando, entre outros, atitudes que considera de arrogantes, do Presidente da Comissão Executiva.
Depois de ter circulado nas redes sociais informações que levaram a comissão executiva do banco a emitir um comunicado, atravês do qual nega veracidade das referidas informações, garantindo aos colaboradores que aquela instituição financeira irá, atravês das vias oficiais, comunicar toda a situação relacionada com o banco e com os seus colaboradores e que eles serão sempre os primeiros a serem comunicados.
O comunicado do banco adianta ainda que foi constituído um grupo de trabalho com a incumbência de proceder ao levantamento sobre a situação real do Banco, cujas conclusões determinarão o rumo da nossa instituição.
“Os resultados deste exercício serão permanentemente comunicados e partilhados com todos os interessados, em particular, com todos vocês, que realmente tornam possível alimentar o sonho de um BCI mais próspero e o alcance dos objectivos estratégicos a que nos propusemos”, lê-se.
Garante ainda que serão mantidos os vários benefícios sociais, incluindo, mas sem se limitar, a protecção na saúde e as condições de crédito aos colaboradores, apesar dos resultados negativos que o banco obteve em 2021 e com perspectivas no curto prazo não muito animadoras, e faz fé de melhorias.
Entretanto, nesta segunda-feira, uma carta aberta de um colaborador do banco, denuncia um clima de crispação no Banco de Comércio e Indústria. Na carta denuncia atitudes intimidatórias do Administrador, que em nome dos demais colaboradores consideram de arrogantes, ameaças intimadas, prepotentes, bem como cortes dos subsídios, que segundo os colaboradores, os tem inibido os trabalhadores de ir atrâs de novos clientes para o banco.
“O senhor jovem menino Jardel, disse-nos que temos de andar atrás dos clientes, puxar clientes para o nosso banco crescer e sair da situação em que se encontra, como vamos fazer isto com o corte do incentivo? Cortaram os cartões de compras, este mês de junho os cartões não foram carregados, despediram directores, cortaram todos os subsídios que já tivera dito no primeiro artigo, e não comunicaram aos colaboradores como dizem no comunicado”, refere na nota datada de 27 desta segunda-feira de 2022.
O funcionário, que também se identifica como militante do MPLA desde 1969, mostra-se indignado com o facto dos alegados despedimentos à vista, estarem a ocorrer numa altura de eleições no país.
“Nem na época das eleições têm medo de fazer isto?!! Nós os funcionários do BCI só queremos que o PR JLO nos deixe em paz. Será mesmo que é angolano? Ninguém pode ser capaz de fazer tão mal ao próprio irmão da mesma pátria como JLO faz a nós. Já não é novidade para ninguém que este Grupo Carrinho e OMatapalo é de João Lourenço. Façam o vosso dinheiro mas nos deixem paz, com tudo isto so nos resta uma coisa: não vamos votar no MPLA. Nós temos filhos e famílias que dependem de nós”, desabafa agastado.
Entretanto o Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola (SNEBA) diz, num comunicado recentemente distribuido à imprensa, que está preocupado com as informações que tem vindo a receber, de actos praticados pela direcção do Banco de Comércio e Indústria (BCI), que considera não obedecerem às normas de gestão e repudia as pressões psicológicas e de coação, de que os colaboradores são alvo, por parte da direcção
“É com apreensão e desagrado que a direcção do SNEBA vem vindo a receber informações que, se confirmadas, levam-nos a concluir que os actos praticados pela administração do BCI são nulos e sem efeitos, por não obedecerem as normas e regras de gestão, em todos os seus aspectos técnicos”, lê-se no comunicado nº 005/SEN/SNEBA/2022, de 21 de Junho.
Com vista a ajudar da sua resolução, o Sindicato refere que, “na sequência das frequentes informações que dão conta de exonerações a chefias e despedimentos/dispensas de trabalhadores sem critérios aparentes, solicitou um encontro com o PCE do BCI, para que, formalmente, seja informado da real situação, estando neste momento a aguardar a resposta, uma vez que o sindicato deve ser informado”, tal como salvaguardado na cláusula 40º do Acordo Colectivo de trabalho em vigor.
Refere ainda que a tomada de qualquer posição que atente contra a estabilidade e salvaguarda da relação jurídico-laboral viola os artigos 68 e 69 da Lei Geral do Trabalho nº 7/15 de 15 de junho bem como do artigo 28º da lei nº 10/19 de 14 de maio – Lei de base das Privatizações.
Exorta, por outro lado, ao grupo de trabalhadores dispensados a continuar a comparecer nos seus postos de trabalho, quer por via da Direcção de Recursos Humanos quer por uso dos instrumentos de controlo de pontualidade e assiduidade existentes na instituição.
Aos trabalhadores do banco o sindicato chama atenção no sentido de “não cederem a pressões nem a qualquer tipo de intimidações feitas à margem da lei e aconselha ainda aos mesmos, a declinarem qualquer comunicação verbal que eventualmente venham a receber da direcção da empresa, sem antes o SNEBA ter sido ouvido”.
De recordar que o BCI é um dos activos abrangidos pelo PROPRIV – Programa de Privatizações do Estado angolano, estando neste momento a decorrer os trâmites para a finalização da sua alienação, na totalidade, à entidades privadas nacionais.