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Clima de conflito marca eleições na RCA
A população da República Centro-Africana (RCA) elege hoje o presidente do país, com o actual chefe de Estado, Faustin Archange Touadéra, a surgir como o principal favorito à vitória para um novo mandato cinco anos.
A corrida presidencial, que conta com 17 nomes no boletim de voto, fica marcada pela ausência do antigo presidente François Bozizé, que viu a sua candidatura ser invalidada no início do mês pelo Tribunal Constitucional da RCA.
Entre os opositores, encontra-se Anicet-Georges Dologuélé, candidato do partido União para a Renovação Centro-Africana, que nas anteriores eleições disputou a segunda volta frente a Touadéra.
Na primeira ronda dessas eleições, realizada em 30 de Dezembro de 2015, Dologuélé recolheu 23,74% dos votos, tendo sido derrotado por Touadéra na segunda volta, com o agora Presidente cessante a conquistar 62,71% dos boletins.
Entre os candidatos encontram-se os “repetentes” da anterior eleição presidencial Désiré Kolingba, Martin Ziguélé, Sylvain Patassé, Abdoul Karim Meckassoua, Cyriaque Gonda e Jean-Serge Bokassa.
No boletim de voto constam também os nomes dos antigos primeiros-ministros Mahamat Kamoun e Nicolas Tiangaye, o antigo presidente do Conselho Nacional de Transição Alexandre-Ferdinand Nguendet, a antiga Presidente interina Catherine Samba-Panza, Augustin Agou, Crépin Mboli Goumba, Serge Djorie, Eloi Anguimaté e Aristide Reboas.
Além da eleição do presidente, que deve ser feita através de maioria absoluta, os centro-africanos irão decidir a composição da Assembleia Nacional.
As eleições realizam-se depois de uma crescente tensão nos últimos dias.
No passado dia 19, o Governo centro-africano acusou o ex-Presidente François Bozizé de uma “tentativa de golpe de Estado, algo que o partido do antigo chefe de Estado viria a negar no dia seguinte.
Os líderes dos três principais grupos armados, que ocupam grande parte do território da RCA e conduzem uma ofensiva no norte e oeste do país, anunciaram o estabelecimento de uma coligação entre si.
Esta coligação de grupos armados rebeldes declarou, na quarta-feira, um cessar-fogo no país, exigindo a suspensão das eleições presidenciais e legislativas.
No mesmo dia, a ONU afirmou que Bambari, a quarta maior cidade da RCA, está “sob o controlo” das forças de manutenção da paz e de segurança interna, depois de esta ter sido tomada pelos rebeldes na terça-feira.
Ainda no dia 23, a Presidência francesa declarou que, “a pedido do Presidente Touadéra, e de acordo com a Minusca” (força das Nações Unidas), o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, “ordenou a condução de uma missão de sobrevoo do território da República Centro-Africana por aviões de combate”.
A intervenção francesa surge também depois de um reforço da presença russa, que anunciou, na terça-feira, o envio de 300 instrutores militares adicionais para a RCA, sendo uma das apoiantes do Governo de Touadéra.
A República Centro-Africana foi devastada pela guerra civil depois de uma coligação de grupos armados dominados por muçulmanos, a Séléka, ter derrubado o regime do Presidente François Bozizé em 2013.
Os confrontos entre a Séléka e milícias cristãs e animistas anti-Balaka provocaram milhares de mortes.
A recém-criada coligação reúne agora grupos das milícias Séléka e anti-Balaka contra o regime do Presidente Faustin Archange Touadera.
Desde 2018, a guerra evoluiu para um conflito de baixa intensidade no qual grupos armados competem pelo controlo dos recursos do país, principalmente gado e minerais, e cometem regularmente abusos contra a população civil.
Portugal tem actualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a missão da ONU (Minusca) e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até Setembro de 2021.
Por Lusa