Connect with us

Politica

Cimeira da ONU demonstrou o desprezo que os blocos têm das vidas ucranianas e palestinas

Published

on

Caiu o pano sobre a sessão dos Chefes de Estado e de Governo na 79.ª Cimeira da ONU, que visou centrar a sua abordagem olhando para o futuro. Ao tomar da palavra no encontro, o presidente angolano optou por apelar aos seus homólogos e não só, para a construção de um “mundo equilibrado, seguro e sustentável”, e criticou os países que fazem resistência aos acórdãos dos tribunais angolanos, que determinam a devolução ao solo angolano dos activos que foram parar nestes países de modo considerado ilegal. Já os líderes do conhecido mundo livre criticaram a Rússia e prometeram mais apoio para Ucrânia, tendo os líderes dos BRICS e de outros Estados menos liberais concentrado suas energias ‘batendo’ sobre Israel, este que para os quais, está a cometer genocídio em Gaza.

O mundo está cada vez mais dividido. E a atmosfera da hipocrisia tomou conta da 79.ª Cimeira da Organização das Nações Unidas (ONU), subordina ao tema: ‘Cimeira do Futuro’. O desprezo à vida humana foi visível e perceptível no rosto e na fala de diferentes Chefes de Estado e de Governo, que, ao invés de olharem objectivamente para os factos, aproveitaram o campo da ONU para cerrar fileiras à volta de aliados, amigos e blocos.

Por exemplo, o discurso de Recep Tayyip Erdoğan, Presidente da Turquia, foi pouco digestivo para os ucranianos que se veem diariamente fustigados pelo exército russo, que iniciou uma guerra de invasão contra a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022.

De lembrar que a Turquia é membro da Aliança Atântica do Norte – a NATO, e durante vários anos vinha procurando ser um Estado membro da União Europeia, mas as suas posições, nos últimos tempos, têm convergido com as posições de países como a Rússia, a China e o Irão, adversários viscerais dos Estados Unidos da América (EUA), o país líder do mundo livre.

Na sua intervenção, Erdoğan, que se tem manifestado contra Israel sem olhar para como o conflito entre os hebreus e o Hamas começou, centrou seu discurso nos ataques israelitas em Gaza e não evitou críticas à ONU.

“Nos últimos anos, as Nações Unidas, lamentavelmente, não cumpriram a sua função internacional. Enquanto morrem crianças em Gaza, a comunidade internacional está a dar uma imagem muito negativa e fracassou muito. O que se está a passar na Palestina é sinal de um enorme colapso moral”, disse o presidente turco, para quem, em Gaza, “não estão a morrer só crianças, [mas] está também a morrer o sistema das Nações Unidas.

Além de crianças e o sistema da ONU, para Erdoğan, em Gaza está igualmente morrer “os valores que o Ocidente [EUA e a Europa] diz defender [os direitos humanos]”.

Lula da Silva, Presidente do Brasil, país membro do BRICS, um bloco cujos países membros mantêm divergências profundas em matéria ideológica, como eleições, verdade eleitoral, assim como ficou evidente na questão da Venezuela, até abordou sobre a situação da Ucrânia, mas numa perspectiva tida como fuga para a frente.

Lula da Silva criticou o fornecimento de armas relacionados com a guerra na Ucrânia, uma lógica que tem sido seguida por diferentes observadores e Chefes de Estado que se têm revelado contra o apoio que Washington e Berlim (capital da União Europeia) têm estendido a Kiev.

“Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo (…), estes recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima”, referiu o estadista brasileiro, que não deixou de criticar Israel, este que para Lula da Silva, transformou o “direito de defesa no direito de vingança que impede um acordo para a libertação de reféns”.

O Irão, como não podia deixar de ser, a sua posição talvez já nem seja notícia. O seu presidente, Masoud Pezeshkian, de acordo com uma matéria da CNN Brasil, também pediu por um cessar-fogo em Gaza.

Entre outras coisas, advogou que os ataques de Israel ao Líbano não podem ficar sem resposta.

“É imperativo que a comunidade internacional interrompa imediatamente a violência e promova um cessar-fogo permanente em Gaza, além de pôr fim à desesperada barbaridade de Israel no Líbano, antes que isso envolva a região e o mundo”, afirmou Masoud Pezeshkian, citado pela CNN Brasil.

Biden abre discurso a garantir apoio à Ucrânia

Do outro lado da barricada esteve Joe Biden, Presidente dos EUA. Peremptório, Biden começou por garantir mais apoio à Ucrânia.

“A guerra de Putin [presidente russo] fracassou. Queria destruir a Ucrânia, mas a Ucrânia continua a ser livre”, começou por dizer Biden, que deve deixar a presidência norte-americana no início de 2025.

“[Putin] dizia que queria debilitar a NATO, mas a NATO está mais unida e mais forte do que nunca — temos dois membros novos, a Finlândia e a Suécia”, acrescentou.

O líder da Casa Branca garantiu que o seu país não vai abandonar a Ucrânia. “Temos de tomar outra decisão: ou mantemos o nosso apoio para que a Ucrânia ganhe esta guerra e a sua liberdade ou vamos para o outro lado e deixamos que se destrua esta nação. [Portanto] não o faremos até que a Ucrânia consiga a sua liberdade”, assegurou.

Em relação ao conflito israelo-palestiniano, embora tenha sido pouco concreto para os palestinos, foi mais abrangente em relação a alguns de seus homólogos, tendo sublinhando para que o mundo não se deixe “render aos horrores de 7 de Outubro [período em que o Hamas invadiu Israel]”.

“Todos os países têm o direito de garantir que não volta a repetir-se um ataque. Não se pode invadir um Estado soberano, com numerosas mortes”, acrescentou.

Biden mencionou ainda que foram cometidos “actos inarráveis de abusos sexuais”, que “inocentes foram tomados como reféns” e ainda que “os civis inocentes em Gaza também estão a passar por um inferno”.

“As famílias [palestinianas] nunca pediram para começar esta guerra que foi começada pelo Hamas”, lembrou.

“Este é o momento para que as partes cheguem a um acordo para entregarem os reféns e garantirem que a liberdade de Gaza frente às garras do Hamas. É preciso acabar com esta guerra”. E apontou ainda a solução de dois Estados como solução do referido conflito militar.

João Lourenço pede foco para os pobres e Guterres apela à paz

Ao tomar da palavra na 79.ª Cimeira da ONU, João Lourenço, presidente angolano, optou por apelar aos seus homólogos e não só, para a construção de um “mundo equilibrado, seguro e sustentável”, e criticou os países que fazem resistência aos acórdãos dos tribunais angolanos, que determinam a devolução ao Estado angolano dos activos que foram parar nestes países de modo considerado ilegal.

Já António Guterres, secretário-geral da ONU, defendeu um acordo para cessar-fogo e libertação de reféns entre Israel e o Hamas e alertou que o “Líbano está à beira do abismo”, sendo que não se pode transformar “noutra Gaza”.

“Devemos todos ficar alarmados com a escalada. O Líbano está à beira do abismo. O povo libanês, Israel e o mundo não podem permitir que o Líbano se transforme noutra Gaza”, afirmou, lembrando que “nada pode justificar os actos de terror abomináveis cometidos pelo Hamas a 7 de outubro” e que “nada pode justificar a punição colectiva do povo palestiniano”.

O líder da maior tribunal política planetária não se esqueceu da Ucrânia, e observou que guerra que opõe Kiev e Moscovo não regista “sinais de abrandamento”, tendo referido que os “civis estão a pagar o preço do aumento do número de mortos e comunidades destroçadas”.

“Chegou o momento de alcançar uma paz justa, baseada na Carta das Nações Unidas, no direito internacional e nas resoluções da ONU”, considerou.

No discurso com que abriu a Assembleia Geral da ONU, Guterres disse que “2024 é o ano em que metade da humanidade vai às urnas e metade da humanidade será afectada”.

Radio Correio Kianda

Colunistas