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Opinião

Ciberespaço: A Cibersegurança como factor de equilíbrio geopolítico?

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A Cibersegurança é um domínio cada vez mais preponderante para a Segurança internacional e para o equilíbrio geopolítico.

Assistimos, hoje, na arena internacional a um conjunto de ameaças não tradicionais que emergem e transferem alguns conflitos para o ciberespaço.

O ciberespaço e a tecnologia que o vai moldando e expandindo representam aspectos que alteram de forma significativa as relações internacionais entre os Estados, tanto no quadro político como no quadro da segurança.

Assim como os ataques terroristas dos últimos anos trouxeram um sentimento de insegurança, a evolução da tecnologia tem provocado aspectos negativos à volta do factor de segurança.

Observamos vários países a exercerem tipos de poderes distintos, o que em comparação com o paradigma do início do século XX representa um cenário oposto ao da multipolaridade daquela época.

Depois de várias guerras de escala mundial, de outros conflitos regionais, surgiu então um sistema unipolar. Ainda dentro dessa sequência, a guerra fria trouxe ao cenário internacional uma transição da bipolaridade para a unipolaridade- um sistema dominado pelos Estados Unidos da América.

Hoje, o poder e relações internacionais tornam-se cada vez mais difusas e o contexto de não polaridade traz uma série de questões importantes.

De que forma a não polaridade afecta o equilíbrio geopolítico? Como devem responder os Estados perante ameaças difusas no Ciberespaço? Perante esta nova realidade, existe a tendência e necessidade de afirmação das soberanias no ciberespaço.

As forças Armadas e Serviços de Segurança tornam-se, mais uma vez, fundamentais na prossecução do grande objectivo de prosperidade e segurança nacional. Face a este contexto, os desafios do espaço cibernético e a resolução dos conflitos nele gerados tornam-se axiais para a condução da política interna e externa, num contexto de relação com outros Estados.

Destarte, as grandes potências mundiais têm definido novas prioridades estratégicas: direccionar mais recursos para a cibersegurança e criar modelos adequados dentro das estruturas dos aparelhos de segurança, de forma a combater as ameaças cibernéticas.

Tal como disse Xi Jinping, “sem cibersegurança não há segurança nacional, sem tecnologias de informação não há modernização”. Ora, a modernização pode ser também um factor que chama às infraestruturas algumas vulnerabilidades e ameaças. Antes de qualquer conceptualização da segurança no ciberespaço, em momento algum deve ser esquecido que o sector público e privado se esbate cada vez mais.

Ataques a empresas privadas de sectores como o da banca, energia e cadeias de fornecimento alimentar, podem causar severas disrupções e afectar a segurança nacional e bem estar da sociedade. O aumento da procura de serviços comerciais na era da tecnologia converteu as redes no motor da economia global. Mas o que importa analisar, é a forma como as relações entre Estados é afectada e como isso desequilibra os tabuleiros geopolíticos.

A interacção entre os vários actores do sistema internacional está cada vez mais facilitada. No entanto, isso pode ser feito de forma anónima. Um dos grandes exemplos, a Lockheed Martin, um grande fornecedor de equipamento militar do Departamento de Defesa dos EUA, viu os seus documentos que continham informação sobre a construção dos aviões F-35 e F-22 a serem obtidos através de actos de ciberespionagem, supostamente por hackers chineses.

Essa mesma actividade de ciberespionagem conbtribuiu significativamente para o avanço e desenvolvimento do caça chinês J-31. No domínio da ciberespionagem, torna-se muito mais dificil o apuramento de provas recolhidas no ciberespaço. Não há certeza! Gera-se assim desconfiança entre líderes, o que mina a confiança entre os governos.

Na lógica da responsabilização política, surgem dois cenários: As sanções económicas ou um conflito. Conflitos esses que têm variado entre bits e balas… O ciberespaço levanta questões fulcrais na forma como se trata o conceito de poder e como se resolvem as questões de soberania e conflito.

Deste modo, levanta-se a seguinte questão: corresponde o ciberespaço a uma nova forma de poder, ou trata-se de um elemento de enfraquecimento ou auxílio das formas de poder existente?

De acordo com Joseph Nye Jr. O ciberpoder corresponde à “capacidade de obter os resultados preferenciais através do uso dos recursos de informação electronicamente ligados ao ciberespaço”. Joseph Nye Jr. Defende que o ciberespaço torna o poder mais difuso, na medida em que o número de actores com objectivos políticos, económicos e ideológicos é cada vez maior.
No contexto africano e particularmente em Angola, devemos analisar a problemática da Cibersegurança na vertente da ameaça às cadeias de abastecimento alimentar, à segurança da informação e às infra-estruturas críticas.

Temos um exemplo recente, onde um ataque cibernético interrompeu as operações do porto de Cape Town, na África do Sul.

Numa fase em que o desenvolvimento tecnológico é cada vez mais uma realidade, inerente à aposta no comércio electrónico, digitalização da banca e de outros serviços, a aposta deve ter uma incidência forte na qualidade de softwares e na formação do capital humano.

Se a abordagem a nível do sistema internacional deve ser estendida aos conceitos do ciberespionagem, ciberguerra e cibercrime, em Angola devemos hierarquizar as prioridades no combate às ameaças no ciberespaço de forma diferente.

Para além de todas as recomendações que vão sendo dadas por especialistas da área, as entidades competentes deverão seguramente definir prioridades estratégicas para combater as três ameaças acima mencionadas.

Importa referir que a diferença entre as três ameaças são sempre contextuais e relacionam-se com a forma como determinado incidente é interpretado: autoria, intenção e quais as consequências.

Deste modo, sendo o cibercrime uma dos conceitos mais tangíveis, urge ter uma Estratégia Nacional de combate ao cibercrime ou estratégia nacional de cibersegurança que abarque os demais conceitos(ciberguerra e ciberespionagem) de forma a apoiar o bom trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo SIC.

Nos restantes domínios, da ciberguerra e espionagem comercial, uma estratégia nacional de cibersegurança pode tornar-se de igual forma fundamental para o desempenho da actividade da recolha de informações estratégicas.

Importa referir que a formulação de estratégias nacionais de cibersegurança e de combate à espionagem comercial torna-se cada vez mais importante.

A antecipação das ameaças e dos cenários adversos configura-se fulcral em ambientes de incerteza.

Destarte, importa também obedecer a modelos de reflexão estratégica onde o pensamento e planeamento estratégico ditará o caminho a percorrer.

No domínio das relações internacionais e no equilíbrio de poderes, a definição da estratégia no ciberespaço será fundamental para a projeção no cenário internacional no domínio de política externa.

Daniel Lara
Licenciado em Estudos de Segurança
Mestrando em Estratégia