Diversos
Caso George Floyd e a Insensibilidade das Lideranças Africanas
Por: Yandi Benge*
“Black Lives Matter” é o slogan que consensualmente os líderes da Premier League Inglesa (Campeonato Inglês de Futebol da 1ª Divisão) concordaram em exibir nas camisolas de cada jogador em substituição de seus respetivos nomes como forma de solidarizarem-se e manifestarem o seu apoio a grande Comunidade Afro-americana e em particular a família de George Floyd, condenando dessa forma aquele tão bárbaro e inaceitável acto que levou a morte a um filho da grande nação americana pelo excesso de zelo e uso abusado das forças policiais deixando transparecer que, o ódio e o racismo continua ainda bastante acentuado naquela multicultural sociedade que se assumem como sendo o Mundo Livre fazendo crêr ao mundo que se trata de uma sociedade modelo que devia inspirar e servir de modelo a ser seguido pelo resto da humanidade. Quanto ao nobre gesto do povo inglês, em particular dos futebolista, aqui fica os nossos mais calorosos abraços, reconhecendo assim que este sim é gesto inspirador e digno de ser imitado pelas demais federações desportivas e não.
Com a condenável e inaceitável morte (considerado assassinato pelo relatório médico) desse norte-americano de descendência africana de 40 anos de idade, asfixiado pela policia por cerca de oito (8) minutos, no dia 25 de Maio do corrente ano (curiosamente dia consagrado a África) seguiram-se uma onda de manifestações em várias cidades dos Estados Unidos da América incluindo algumas cidades Europeias com realce a do seu grande e tradicional aliado o Reino Unido (Inglaterra) concretamente a cidade metropolitana de Londres, que viu manifestarem-se centenas de pessoas que igualmente mostraram-se indignadas pelo sucedido no outro lado do oceano atlântico, perante o olhar impávido e indiferente do corpo policial, revelando claramente aquilo que é o sentimento e a vivência no interior da multicultural sociedade americana.
O que de certo modo me chamou a atenção foi justamente o facto de, na sociedade onde vivo não se ter verificado nem ouvido dizer que a Instituição política a ou b na abertura de sua actividade fez o habitual gesto que condenasse aquele acto bárbaro que levou a morte ao filho de origem africana, como foi o caso dos Congressista Americanos liderados por Nancy Pelosi que mantiveram-se de joelho por cerca de oito (8) minutos como protesto e condenação àquele acto inaceitável assim como dos jogadores da Premier League Inglesa.
Penso que seria um acto louvável se os nossos Deputados assim o procedessem, e quiçá mesmo o nosso Conselho de Ministros antes de dar início de sua Sessão com um minuto de silêncio, para não dizer de um pronunciamento público e oficial das autoridades Angolanas condenando veementemente aquele acto em solidariedade aquela comunidade em particular a família.
No nosso humilde entender pensamos que a questão da discriminação racial contra a Comunidade afro-americana nos EUA que se tem verificado nos dias de hoje para além de ter sua origem no princípio da doutrina xenófoba da Supremacia Branca, podemos igualmente enquadrar no facto da África (neste caso particular a África subsariana) que é a terra de origem dessa comunidade continuar a apresentar ao resto do mundo uma imagem pouco digna e que em nada engrandece e orgulha esses filhos que se encontram fora dela. A África e os africanos por incrível que pareça, continuam incompreensivelmente a emitirem ao resto do mundo a imagem de uma sociedade fracassada, desacreditada, sem qualquer perspetiva e que continua sendo aquela região que pouco ou nada tem contribuido para as grandes revoluções políticas, económicas e sociais da nossa actual sociedade humana globalizada.
É chegado altura dos filhos deste tão lindo, rico e maravilhoso continente mudarem a sua forma de pensarem, sentirem e agirem. A África tem de definir determinantemente o que quer para si e para o resto do mundo. Jamais o racismo contra o homem Africano e seus descendentes irá reduzir caso a África não se elevar a outros níveis nos dominios da politica, economia, tecnologia e social assim como seus filhos serem capazes de apresentarem soluções aos vários problemas que assolam a sociedade humana de modo global.
É fundamental que se compreenda que a África enquanto não deixar de emitir ao resto do mundo a imagem negativa e fracassada que até aos dias de hoje lhe caracteriza, jamais será digna de merecer o respeito que tanto pretende granjear, contagiando deste modo este negativismo psico-social, económico e tecnológico aos seus ilustres filhos que forçadamente foram levados para as outras regiões deste lindo e maravilhoso globo terrestre, nomeadamente para as Américas e Asia. Importa salietar ainda que, para além dos EUA, existem igualmente outras sociedades onde a presença de afro-descendentes é bastante considerável e como tal o fenómeno do racismo também é uma realidade bastante sentida e vivida, como são os casos da brasileira e indiana. Nestas sociedades, só pelo facto de uma pessoa ser de natureza dermatológica africana por si só, já constitui um autêntico desafio perante as mesmas.
Aqui fica claramente um recado as lideranças africanas que sega e lamentavelmente não têm ajudado o continente e seu povo a se libertarem desta triste realidade que tristemente tende a piorar cada vez mais. Os postulados da Ciência Política nos ensinam que os Estados Soberanos são constituidos por três grandes elementos que são: Território, População e Poder Político (Soberano) mas devo acrescentar mais um quarto elemento que é justamente a Missão deste Estado no contexto das Nações.
Em termos de território a África tem do melhor que há no mundo, o que de certo modo tem constituido motivo de grandes conspirações contra si e de seu amado povo. Quanto a população devo dizer que já foi muito melhor comparativamente a de hoje, visto que os jovens de outrora com sua determinação e firmeza conquistaram as independências de suas respetivas nações. O que não se compreende é como é que, justamente agora que a conquista é um facto não conseguem elevar o continente a um patamar que seria motivo de orgulho para os seus filhos. O mesmo acontece com as Elites políticas que parecem não terem noção do que devem fazer, revelando aqui um paradoxo uma vez que a dura e sangrenta luta pela liberdade foi conquistada a custa de imensas perdas de imensas vidas humanas, no que tornou possível a conquista dos lugares de gestores de suas próprias causas, que hoje conforme se pode ver são uma autêntica realidade mas que por razões que até ao presente momento ainda são desconhecidas não se compreende como é que a elite africana não consegue conquistar o resto da sociedade humana como tem acontecido com os outros povos que também estavam na mesma condição de colonizados mas que deram uma auténtica reviravolta em seus Processos sociopolíticos e económicos, revolucionando desse modo as suas economias para orgulho da côr da pele de seus povos como são os casos dos famosos Tigres Asiáticos, sem esquecer a revolucionaria nação árabe que são os Emirados Arabes Unidos…
Segundo estudos feitos, mostram que em África existem alguns Estado que face as suas posições estratégicas por um lado e pelas suas já evoluidas economias por outro lado, podem ser definidos como Estados Directores que estariam em condições de darem início ao processo revolucionário económico africano que dentre os vários destacam-se os seguintes: South Africa, Nigéria, RDC, Angola, Kenya, Cotê D´ivoire, Senegal, Ghana e muitos outros que acreditamos que, uma vez devidamente estruturados política, económica e socialmente, onde os seus cidadãos podiam meter em prática o seu saber, certamente que fariam com que o rumo dos acontecimentos político e social do continente mudaria para melhor em função da revolução económica e industrial posto em marcha.
Segundo um outro estudo, mostra que a África se evoluir para uma potência económica ao ponto de ter uma voz determinante na balança do comércio internacional, ela seria capaz de contribuir na economia mundial com um peso na ordem dos 25% ou seja a África albergaria ¼ de toda economia mundial e caso isso viesse acontecer certamente que o resto do mundo olharia para este miserável continente com outros bons olhos e para ser franco olharia com muito mais respeito, consideração e com sentimento de gratidão pelo contributo deste continente na resolução dos crónicos problemas que enfermam o nosso mundo como são os casos da fome, das doenças, das guerras, o que certamente faria com que a discriminação racial que pesa sob as pessoas de raça negra e seus descendentes iria com toda certeza ver reduzida consideravelmente ao ponto de ser elevado a um nível de equilíbrio favorável ao homem africano e seus descendentes.
Deve ficar claro que ser negro não é condenável, não é desvantajoso do ponto de vista social mas antes pelo contrário deve-se compreender que é divino, que ela por si só repesenta uma das expressões da vontade dos Senhores da criação que vejam na multiplicidade racial como um meio pelo qual permitiria ao homem comum apreender a viver e a conviver na diferença com outros tipos de sua espécie mas dermatologicamente diferente.
Portanto, a morte do afro-americano George Floyd veio mais uma vez fazer despertar a mente das elites africanas e não só, no sentido de se perceber que só com a elevação do continente berço da humanidade a um nível de desenvolvimento extraordinario é que o fenómeno do racismo que pesa sob as pessoas de raça negra de modo geral vai provavelmente reduzir e equilibrar-se com os demais povos deste maravihoso mosaico multiracial universal deixando deste modo claro que, cabe ao povo africano definir o seu lugar no contexto das nações caso contrário estará sujeita a passar constantemente por estes tipos de humilhações.
Boa Reflexão!
*Licenciado em Ciência Política, Mestrando em Governação e Gestão Pública pela UAN e Chanceller do Clube da Inteligência Política.