Bastidores do Poder

Candongueiros: o poder nas mãos de quem não governa

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Os últimos acontecimentos em Luanda – e, de forma mais discreta, em outras partes do país – resultantes da paralisação dos taxistas, vulgo, candongueiros, são um grito de alerta. Um espelho incômodo sobre o país que estamos a construir.

Nos bastidores, comenta-se que a cúpula da ANATA foi politicamente manipulada. E a divisão foi clara: uns pró-UNITA, outros pró-Governo.

No fatídico 28 de Julho, o caos reinou. Empresários viram os seus negócios saqueados; trabalhadores, mesmo com viaturas próprias, foram impedidos de chegar aos seus postos de trabalho.

O que presenciamos expõe a fragilidade do nosso sistema económico e da nossa segurança pública. Ficou provado: os candongueiros têm o poder de parar o país. E pior: o Governo não tem controlo sobre este sector. O transporte público, que deveria ser um direito básico, é uma miragem. Enquanto não mudarmos este paradigma, continuaremos reféns de um volante.

Outro fenómeno perturbador foi a reação nas redes sociais. Parte da nossa sociedade aplaudiu o saque ao património privado, como se o empresário fosse culpado pelo fracasso das políticas públicas. Do conforto das suas casas, e até do estrangeiro, houve quem agitasse para que a pilhagem continuasse. Quando a barbárie encontra aplausos, a civilização começa a perder a voz.

Eu e a minha geração passámos grandes dificuldades nos anos 90 — fome, miséria, incerteza — mas isso nunca legitimou roubar. Ai de quem levasse para casa algo que não lhe pertencia! O respeito pela propriedade, mesmo na penúria, era uma lei silenciosa que todos conhecíamos.

O que vimos agora é perigoso. Perigoso para o país. Perigoso para qualquer governo. Porque revela um estado mental colectivo doente, mergulhado na falta de educação e de valores. E o que está em causa não é apenas a greve de um sector — é o modelo de sociedade que estamos a permitir que cresça.

Se não educarmos os adolescentes e jovens, amanhã será o caos — e não haverá polícia nem exército que nos salve.

O país precisa de transporte público confiável. Precisa de líderes que antecipem crises, não apenas que as apaguem. E, acima de tudo, precisa de cidadãos que saibam que a miséria não justifica a destruição.

Clique para ouvir a narração no Jornal da Rádio Correio da Kianda

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