Em nota enviada à Bolsa de Valores de São Paulo, a rede de supermercados de origem francesa indicou que a receita obtida em todas as lojas que mantém no Brasil na sexta-feira, 20, quando o país comemorou o Dia da Consciência Negra, será destinada a projectos de combate ao racismo.
“Essa soma obviamente não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar a evitar que isso aconteça novamente”, frisou a empresa.
O anúncio aconteceu cinco dias após a morte de um homem negro, de 40 anos, por dois seguranças brancos no estacionamento do Carrefour na cidade de Porto Alegre, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
A empresa “lamentou profundamente o ocorrido” e informou que rescindiu o contrato com a empresa de segurança responsável pelos vigilantes que cometeram o crime, frisando também que está a adoptar “todas as medidas possíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso”.
“O Grupo Carrefour Brasil reforçou que trabalha diariamente a cultura de respeito e valorização de todas as pessoas”, afirmou a rede de supermercados.
A morte brutal de João Alberto Silveira Freitas chocou o Brasil e desencadeou uma onda de manifestações antirracistas em várias cidades.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), as acções do Carrefour Brasil lideraram as perdas da sessão na segunda-feira, caindo 5,35%.
Em valor de mercado, a empresa perdeu mais de 310 milhões de euros no país sul-americano.
Apesar de os negros representarem 56% da população do Brasil, os casos de racismo são recorrentes e graves no país.
Vítimas
O Atlas da Violência, levantamento elaborado a partir de uma parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto de Económica Aplicada (Ipea) que recolhe e analisa números produzidos pelo Governo brasileiro, indicou que em 2018 (dado mais actualizado) os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios praticados no Brasil.
Os negros brasileiros têm maiores taxas de desemprego, representam a maior percentagem da população dentro da força de trabalho precária e tem piores condições de vida se comparados com a parcela da população branca.
Segundo o estudo “Síntese de Indicadores Sociais”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego registada no mercado de trabalho do Brasil em 2019 foi de 9,3% para os brancos e de 13,6% para os negros.
Por Lusa