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Sociedade

Bebé concebido de abuso sexual a mãe deficiente vivem dias difíceis

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Num dia qualquer do ano passado, Faiusca Pitra estava em casa sozinha. A avó com quem vivia, no bairro Morro da Areia, em Viana, tinha saído cedo, como é de costume, para cuidar dos negócios no mercado.

A rotina da avó era a mesma, de segunda a sábado. Saía de manhã e regressava a casa no fim do dia. Esse período, em que Faiusca, com deficiência mental e física, ficava só, sendo abusada sexualmente por um indivíduo estranho.

Hoje, a rapariga não faz ideia de quem a terá violado. Só sabe que foi um homem adulto, que a encontrou na casa da avó e forçou-a sexualmente. Também não conseguiu confirmar se foi uma ou várias vezes que o agressor atacou-a.

Esses episódios de quebra de informações sobre si e das pessoas que a rodeiam são comuns, segundo, Efigênia Ventura, a tia que a cuida, agora. Por exemplo, na quinta-feira, quando a visitámos, Faiusca fazia alguma confusão em relação à idade dela.

Sobre isso, a rapariga disse ao repórter que tem 14 anos, mas a mulher do tio, com quem vive, actualmente, afirmou que já tinha 18. “Ela, às vezes, perde-se e não sabe de nada”, revelou a tia.

Por isso, a conversa com ela teve de ser auxiliada por uma tia e pelo irmão mais velho. No desenrolar da abordagem, um homem dos Serviços de Saúde da Polícia Nacional trouxe uma criança ao colo. Apresentou-a à equipa de reportagem: “este é o resultado dos abusos à moça”!

O referido homem, que evitou ser identificado, faz parte de um grupo de cinco elementos enviados à casa dos tios de Faiusca, para tomar contacto com a situação da jovem e da criança, que resultou do abuso sexual.

O representante da Polícia, instituição que colocou à disposição da família da rapariga duas viaturas, sendo uma ambulância, referiu que a ideia era de avaliar o quadro clínico da moça e do bebé, agora,com três meses de vida.

“Eles vão ficar sob nossos cuidados, nos primeiros cinco dias, e, em função da avaliação, podemos deixá-los voltar para casa ou encaminhar o caso à Maternidade Lucrécia Paim ou Pediatria de Luanda, para melhor acompanhamento”, esclareceu o efectivo da Polícia.

Voltámos à conversa com Faiusca, que já se encontrava no interior da ambulância e sentada numa maca, a comer pão com sumo. O repórter quis saber o nome da criança, mas a jovem teve uma branca. Olhou concentradamente, como que a pedir ajuda ao jornalista, e não pôde respondê-lo. A solução veio do irmão Mateus Pitra, ao dizer que o bebé era seu xará (Mateus).

O irmão acredita que, além da deficiência mental, a pessoa que a abusou aproveitou-se do facto de Faiusca ser paraplégica, dependendo, nalguns casos, de ajuda para a locomoção.

“Ela anda de joelhos, arrasta-se mesmo e apoia as mãos no chão. Não consegue fazer movimentos rápidos e, isso, mais a condição mental dela terão facilitado a vida dos seus agressores sexuais”, desabafou Mateus.

Em função dos problemas do foro mental, a jovem não conseguiu informar sequer à avó o que se passava com ela, daí esta nunca ter denunciado o abuso de que a neta era vítima.

Gravidez descoberta aos oito meses

O tempo passava. A barriga de Faiusca Prata crescia, mas como ela se rasteja para “andar”, a avó, que ficava mais tempo fora de casa, quase nem deu pela gravidez.

Um dia, dona Efigênia, mulher do tio, foi visitar a rapariga e reparou que ela tinha o abdómen muito saliento. Na pequena conversa com a sobrinha descobriu que se tratava de uma gestação.

Além da gestação, a senhora confessou não ter gostado das condições em que encontrou a jovem na casa da avó, ao realçar que ela passava o dia junto a um lugar onde dormiam os cães.

Por causa disso, a mulher conversou com o marido, o tio da rapariga, e decidiu ir à busca de Faiusca. Um mês depois, quando foi a casa da avó da jovem soube que esta já tinha dado à luz a um menino!

“Quer dizer que nós só descobrimos a gravidez dela aos oito meses”, disse a mulher, uma afirmação corroborada por Mateus, que confessou que a irmã nunca tinha feito qualquer consulta pré-natal.

Dias depois, a avó materna fez questão de ir pegar de volta a neta e o bisneto. Nessa casa, segundo conta a tia, “a jovem e a bebé partilhavam o mesmo lugar dos cães”, o que terá causado o nascimento de uma série de manchas e borbulhas no corpo da recém-nascida.

Essas manchas, até agora, ainda são visíveis no corpo da criança. Não se sabe o que são, ao certo, mas dona Efigênia Ventura desconfia que seja uma consequência da picada das pulgas dos caninos da casa da avó.

Cadeira de roda

Presentemente, a casa onde Faiusca está com a bebé vivem dez pessoas. Os dois mais novos integrantes da família dormem num canto da sala. É no colchão velho, onde eles passam as noites friorentas dos últimos dias.

Quando saíamos de dentro da casa, Catarina Ventura deixou uma mensagem no ar: “Por favor, senhor jornalista, seria bom que lhe conseguisse um especialista em doenças mentais e uma cadeira de rodas”.

Já fora do pequeno quintal improvisado com chapas, os jornalistas deste diário encontraram um grupo de crianças a brincar aos pneus. Afogamos, por segundos, a triste história de Faiusca e recordamos a infância.

Mas, essa viagem ao passado foi efêmera, quando Catarina reforçou a ideia de se divulgar a história da vítima, pois, além do tio não ter quase condições para sustentar a família, revelou que Faiusca é órfão de pai e mãe.

Tinha só dez anitos quando os pais partiram para o além, em 2014. Ficou, por isso, aos cuidados da avó. Mateus é irmão dela da parte do pai, enquanto o outro irmão anda metido na delinquência.

“Por isso, pedimos às autoridades que nos ajudem nesta campanha para ajudar a moça. Ela precisa de muito apoio, desde alimentos, vestuário e auxílio psicológico”, rematou Catarina Ventura.

Criança precisa de quase tudo

 

O problema da pele não é o único que a criança enfrenta. Os cuidados da mãe, por causa das debilidades mentais e da deficiência física, não são dos melhores.

Os familiares avançaram que Faiusca precisa de cuidados especiais e deixá-la a cuidar de um bebé é um perigo. Por isso, a tia, que já tem seis filhos, prefere sacrificar a família com mais dois novos membros; a sobrinha do marido e o filho desta.

O bebé tem tido dificuldades de se amamentar, porque a mãe está com pouco leite no peito. “Nós não temos muito para dar à ela e com o que comemos, às vezes, fica complicado ter condições para garantir o melhor para a criança”, disse a tia.

Para compensar a falta de leite no peito de Faiusca, a tia passou a dar kissângua (bebida caseira, feita a base de fuba de milho) ao bebé. Mesmo assim, o recém-nascido apresenta um aspecto de uma possível desnutrição.

Aliás, essa é uma situação que chamou a atenção do pessoal da área da Saúde da Polícia Nacional, quando esteve a fazer a observação inicial ao pequeno, que se encontrava forrado em trajes inapropriados para o tempo, que, ainda, estar frio.

Por isso, Catarina Ventura, uma das jovens que tem estado a divulgar, juntamente com a irmã, nas redes sociais a história de Faiusca, apelou para que se ajude a bebé na aquisição de enxovais e alimentação infantil.

Catarina realçou que as condições da jovem e da bebé não são das melhores, situação que se agrava ainda mais, por o tio com que vive não ter um emprego fixo e a mulher deste estar desempregada.

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