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Baleia-Azul. O jogo na internet que está a levar jovens no Brasil a suicidar-se
Desafio do mundo virtual tem 50 níveis e incentiva ao suicídio e à automutilação. Já originou vítimas em oito estados do país. Polícia investiga origem do jogo que surgiu primeiro numa rede social russa.
O casal de namorados Luís Kafru-ne e Kaena Maciel, de 19 e 18 anos respectivamente, hospedou-se no Maksoud Plaza, hotel de luxo na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Horas depois, Luís matou Kaena com um tiro na cabeça e suicidou-se. As autoridades suspeitam que este crime é mais um episódio do macabro Baleia-Azul, jogo na internet que já levou ao suicídio ou à automutilação adolescentes em oito estados do Brasil.
“A culpa é da baleia”, escreveu no Facebook um rapaz de 17 anos de Bauru, cidade do interior do estado de São Paulo, minutos antes de se tentar atirar de um viaduto. Casos semelhantes aconteceram nos estados do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraíba.
A origem do Baleia-Azul, um jogo com 50 níveis de dificuldade que tem o suicídio como etapa final, é controversa. As primeiras informações datam de 2015 e estavam na rede social Vkontakte, o equivalente russo do Facebook. Os participantes são seleccionados de madrugada por um administrador – chamado de “curador” – que vai lançando desafios, cada vez mais difíceis e perigosos. Além do Brasil, há casos relacionados com o jogo, cujo nome deriva do mamífero dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico que procura praias para morrer por vontade, na Rússia, Ucrânia, Roménia, Espanha e França.
Além dos casos citados, também em Jaú (estado de São Paulo), um rapaz de 13 anos tentou matar-se cortando os braços com uma lâmina de barbear, após ser excluído da família das redes sociais por suposta determinação do curador. O site G1 teve acesso a um trecho do diálogo em que o curador começa por perguntar ao adolescente se quer jogar e se está disposto a ir até ao fim, para depois determinar a primeira de 50 tarefas que consistia em listar aquilo que o fazia sentir triste.
Uma jovem de 25 anos, do Paraná, estava preocupada com o comportamento da irmã, de 11, e resolveu investigar o computador dela. Contou ao O Estado de S. Paulo que não conseguiu chegar ao fim das mensagens enviadas pelo curador: “Incitam-nos a fazer o mal às pessoas que amamos, é agressivo, intenso, perigoso.” Ainda no Paraná, oito adolescentes dos 13 aos 17 anos deram entrada em hospitais da capital Curitiba após tentativas de suicídio por medicamentos e automutilação. Um deles admitiu à polícia jogar Baleia-Azul. “Vamos procurar os responsáveis por incitação ao suicídio”, disse o secretário estadual de segurança. A pena prevista pelo Código Penal para esse tipo de crime é de dois a seis anos de prisão.
A Polícia Militar da Paraíba identificou 20 participantes no Baleia–Azul que se tentaram mutilar ou matar na capital estadual João Pessoa e noutras cidades. Há dois casos de aliciamento ao jogo no Rio de Janeiro e nove de mutilações juvenis em Santa Catarina. No Mato Grosso, a polícia suspeita que o suicídio de Maria Olívia, de 16 anos, se deveu ao Baleia-Azul, identificando na sequência uma comunidade de 350 participantes do jogo. Em Minas Gerais, registaram-se mais dois casos de suicídio nas últimas semanas. Maria de Fátima, mãe de Gabriel (19 anos), um dos jovens que morreu, disse que ele “não aguentou a pressão. Dizia que eles têm os dados das famílias de quem tenta sair e fazem ameaças. Quem for mãe ou pai dê umas palmadas, mas olhe o telemóvel dos seus filhos, não quero que mais nenhuma mãe passe pelo que estou passando”.
Em Pernambuco, a polícia aposta na prevenção, com vídeos na internet e visitas a escolas. A Escola de Comércio Álvares Penteado (São Paulo), lançou o Coelho Branco, que consiste em 15 tarefas “do bem”, e a psicóloga Tamara Camargo, com dois publicitários, lançou o site Baleia Rosa, onde adolescentes podem desabafar. “Cerca de 20% são utilizadores de Baleia-Azul e outros sites”.