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Assaltou um banco, fugiu para Portugal e 30 anos depois entregou-se à polícia
Gilles Bertin começou ontem a ser julgado por um assalto que aconteceu há três décadas. Durante dez anos, teve uma loja de discos em Lisboa, a Torpedo
A história é contada pelo próprio à BBC e parece saída dos melhores livros de ficção policial: há 30 anos, Gilles Bertin, que então era vocalista da banda punk francesa Camera Silens, assaltou um banco em Toulouse. Com os seus companheiros de banda, Bertin saiu do banco com 12 milhões de francos (dois milhões de euros) e conseguiu fugir às autoridades, acabando por refugiar-se em Portugal.
Outros dos seus companheiros foram detidos e outros ainda, com um historial de uso de drogas injetáveis, acabaram por sucumbir a doenças como a SIDA. Gilles Bertin viveu durante uma década em Lisboa, onde abriu uma loja de discos, a Torpedo – “tudo pago em dinheiro, claro”, escreve a BBC.
Ocasionalmente reconhecido por fãs franceses que visitavam a loja, o músico negou sempre a sua identidade e confessa que vivia em pânico de ser identificado e detido. Ao cabo de dez anos, mudou-se para Barcelona com a namorada espanhola, onde começou a trabalhar num bar da família da companheira, com quem viria a ter um filho.
Além da namorada, ninguém conhecia o passado de Gilles Bertin, e o seu paradeiro era um mistério para a sua família em França. O músico foi mesmo dado como morto.
Foi quando recorreu ao serviço nacional de saúde espanhol para tratar uma hepatite que quase o matou que Gilles Bertin decidiu mudar de vida e entregar-se às autoridades francesas.
Impressionado pelo facto de a sua vida ter sido salva a custo zero, sem sequer ser necessário apresentar qualquer documentação, e arrependido por nada ter contribuído para a sociedade, o francês contactou um conhecido advogado do seu país e entregou-se às autoridades, que lhe permitiram aguardar julgamento em liberdade.
À BBC, Gilles Bertin garante que a sua vida nada teve “de romântico. Andar escondido, sem poder falar às pessoas, nem sequer ao meu filho, sobre o meu passado, estar sempre com medo que a polícia me apanhasse – e além disso estive gravemente doente”.
O antigo cantor, que hoje em dia diz preferir música soul a punk rock, arrisca-se agora a uma sentença de 20 anos de prisão.
“No final dos anos 70 e início dos anos 80 era um jovem zangado, um niilista, um anarquista num caminho de destruição, revoltado com a sociedade. Tem de se perceber o contexto de então”, explicou à BBC o homem de 57 anos, que entretanto aproveitou o regresso a França para conhecer o filho que nunca vira, agora com 30 anos.
Quanto ao dinheiro, há muito que o gastou.