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Opinião

As lições de sobrevivência em Angola

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Ah, o fim-de-semana! Aquele breve momento entre a sexta-feira à noite e a segunda-feira de manhã, onde fingimos que temos controlo sobre as nossas próprias vidas. Para celebrar essa ilusão, trago quatro lições brilhantes de gestão estratégica que provarão, mais uma vez, que se acha que está no comando, parabéns! É apenas mais um figurante nesse guião tragicómico chamado “realidade angolana”.

Primeira lição: Quem pode, pode. Quem não pode, engole seco

Um corvo, essa criatura astuta e privilegiada, passava o dia inteiro empoleirado numa árvore sem fazer absolutamente nada. Um coelho, ingénuo e cheio de esperanças, perguntou se podia fazer o mesmo. O corvo, num raro momento de honestidade empresarial, disse que sim. O coelho, sem perceber a armadilha, deitou-se e esperou. Alguns minutos depois, a raposa, CEO do mato, encerrou o expediente matando a produtividade do coelho de forma definitiva.

Moral da história? Ficar sentado sem fazer nada é um privilégio exclusivo do topo da cadeia alimentar. Se não está lá, mexa-se ou seja devorado pelo sistema.

Segunda lição: A vida em Angola não dá descanso

Na savana angolana, todas as manhãs um veado acorda com uma missão clara: correr, porque se não correr, morre. O leão, do outro lado da equação, também desperta com um desafio: correr, porque se não correr, morre de fome.

Conclusão? Seja kwacha ou tubarão, a única opção é correr. Ficar parado à espera do “melhorar as condições de vida” não está no programa.

Terceira lição: Patrões e os seus superpoderes

Três funcionários de um ministério encontram uma lâmpada mágica. O génio, cansado de promessas de salários atrasados, concede um desejo para cada um. O primeiro pede um visto e some. O segundo pede um negócio de sucesso e desaparece. O chefe, aquele que sabe jogar com o sistema, olha para o génio e diz:

Quero esses dois de volta ao serviço depois do almoço.

Moral da história? Nunca se iluda: em Angola, o chefe tem sempre um truque na manga, e a “boa vida” termina assim que ele precisar de si para mais uma reunião interminável.

Quarta lição: Criatividade ou puro terror psicológico?

Um camponês, durante um passeio à sua lavra, avista algumas moças nuas a tomar banho na lagoa. Elas, horrorizadas, avisam que não sairão da água enquanto ele continuar ali. Ele, um verdadeiro mestre da manipulação, responde calmamente:

Tranquilo, eu só vim alimentar os jacarés.

Conclusão? Inteligência estratégica é saber quando e como criar o pânico certo para que os outros se comportem exactamente como deseja. Aqui, quem não improvisa, dança.

Reflexão Final

A vida em Angola é uma selva onde uns caçam, outros fogem e alguns assistem do camarote do poder. Antes de falar, escute (mas não se iluda). Antes de escrever, pense (para evitar problemas com a censura). Antes de gastar, ganhe (e depois pense duas vezes). Antes de julgar, espere (porque pode ser julgado primeiro). Antes de desistir, tente (ou pelo menos faça parecer que tentou).

E lembre-se: não importa o que faça, sempre haverá quem o ame e quem o odeie, então a escolha é simples: ria-se e siga em frente. Bom fim-de-semana e boa sorte na selva angolana (ou no mercado informal, caso seja um coelho esperançoso).

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.




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