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Mbuandja na Kianda

António de Sousa Simbo abandona RNA -“Fome” é o busílis da questão

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No calor do mês em que se celebra o dia mundial da liberdade de imprensa, o três de Maio, concomitantemente ligado aos jornalistas, para lá das conferências, conversas de redação, de corredores, dos discursos, comunicados, queremos juntar-nos ao coro da situação – já com níveis graves – dos abandonos, na Rádio Nacional de Angola, em específico, embora possamos reconhecer que tal esteja a ocorrer noutros órgãos.

Para este nosso espaço, temos o caso do jornalista António de Sousa, detentor de uma das melhores vozes da única rádio pública, no País, que abandonou, recentemente, aquela estação emissora para, segundo consta, integrar os quadros do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação onde está a dirigir o Departamento de Comunicação Institucional e Imprensa.

Não é o primeiro caso, como dissemos, (embora as saídas tenham motivações diversas atendendo os casos), pois, Arlindo de Carvalho, Joaquim Clemente, Phil Nelo, Marques dos Santos, Amílcar Xavier, Pedro Baptista e tantos outros têm de, ora abandonar a estação pública para cumprir missões nos ministérios, ora dividir o seu precioso tempo para tal efeito, no caso dos que não se desfazem, totalmente, da redação da RNA.

O que procuramos compreender, quase a todos, são os motivos dos abandonos porquanto sabemos que ele ou quase todos eles possuem um sangue que flui jornalismo. Ou seja, têm o jornalismo como a sua principal vocação, o que, em nosso entender, contrasta com a decisão de abandonar o ofício por gosto, vontade própria ou pressão de terceiros.

No entretanto, diante disso surgem alguns indicadores primários mas consideráveis e importantes sobre o que tem estado na base de tais medidas.

António de Sousa é, de facto, uma figura que dispensa quaisquer remanescentes, fundamentalmente no que a actividade jornalística diz respeito, daí que, para nós, é anormal a sua saída, mesmo que provisória, dos quadros da Radio Nacional de Angola, pois, o verdadeiro motivo da saída do jornalista sénior está estritamente ligado aos míseros ordenados que a rádio pública oferece.

A par dos parcos ordenados pagos pela nacional subsume-se ainda ao problema a falta de condições de trabalho, do âmbito material e imaterial que um quadro como o Sousa, por exemplo, precisa.

São estas falhas registadas na rádio pública e noutras empresas que tornaram o nosso jornalismo, as nossas redações, órfãs, de “gurus”. Dito de outra forma, o jornalismo em Angola ficou reservado a jornalistas principiantes, aos estagiários ou aqueles que por motivos diversos não encontram facilidades nessa forma de organizar a vida na urgência. (assessorias e consultorias)

É quase que impossível encontrar “velhos profissionais” nas nossas redações como ocorre e muitíssimo bem, a título exemplificativo, na imprensa portuguesa, (RTP, TVI, CMTV, SIC, Expresso) e brasileira, (Record, TV Bandeirante, Folha de São Paulo e TV Globo).

Este diferencial etário nas redações chamadas é, precisamente, sinonimo do diferencial salarial e de outras condições essenciais ao exercício da profissão. Não é convidativo, assumível, considerável e mesmo aceitável, que um jornalista como os que estamos a analisar, com a qualidade que oferecem, tempo de serviço, a audiência que acrescentam, a credibilidade que trazem, a concorrência que batem, tenham um rendimento mensal pouco mais de duzentos mil kuanzas. Que tenham de passar por maus bocados para se locomoverem de um ponto da cidade para outro, que não tenham, muitos deles, meio de transporte próprio e digno para efeitos pessoais…

Falamos de pouco mais duzentos e sessenta mil kuanzas porque é, basicamente, este valor que a Rádio Nacional de Angola paga a um editor, chefe do sector ou repórter sénior.

Ora, um António de Sousa, Amílcar Xavier, Phil Nelo, Estanislau Garcia, Paulo Miranda, Mara Dalva, Vânia Varela e outros cuja competência está comprovada inequivocamente, considerando as suas idades, as responsabilidades familiares que têm, o custo de vida, viver com um rendimento como o que falamos acima é, a todos os níveis e nos termos mais rigorosos, inaceitável, inviável e justifica, de facto, os abandonos ou as promiscuidades e incompatibilidades que se proliferam aqui e acolá.

É, exactamente, neste “item” que encontramos os motivos do diferencial etário entre os órgãos angolanos (invadidos por estagiários e, por isso, o trabalho final é de qualidade deplorável) e os ocidentais, por exemplo.

Portanto, é preciso que se conheçam os problemas e, aqui, ele reside na miséria a que os jornalistas em mote estão abandonados, pelo que para resolver o problema deve-se melhorar este quadro para evitar a que os nossos órgãos percam, quase sempre, os melhores como António de Sousa Simbo que abandona a RNA tendo a fome o busílis da questão!