Opinião
Antes que Termine o Março: O Dossiê sobre a Libertação da África Austral em Flash-Back
O conflito angolano foi exacerbado pela intervenção externa, motivada não só pela concorrência em termos de controlo dos recursos naturais, mas sim, pelas rivalidades geopolítica alicerçada a luz da lógica da Guerra Fria e pela determinação do regime de Apartheid na África do Sul em impedir o Governo nacionalista e revolucionário da República Popular de Angola (RPA) de apoiar os «freedom fighters» da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul (ANC) que se encontravam ao sul do território nacional ao abrigo da solidariedade revolucionário e independentista.
Em meados dos anos 1980, a África do Sul para além de apoiar a UNITA, interveio directamente no conflito angolano para enfraquecer o Estado angolano e combater e posteriormente depor o Governo saído da proclamação da independência nacional (Novembro 1975). O Exército Regular sul-africano apartheideana, a South Africa Defense Force (SADF), atacaram repetidamente as defesas militares e infra-estruturas económicas, as bases militares das FAPLA e acampamento dos civis e, ocuparam também durante muitos anos a maior parte da província do Cunene. Portanto, nos meados da década de 1980 as tropas da SADF apoiadas pelas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), abraço armado da UNITA, atacaram com uma intensidade enorme e crescente em grande escala as FAPLA com artilharia pesada de curto e longo alcance e cobertura aérea. Na noite de 9 a 10 de Agosto de 1986, os cabos de guerra das FALA, assaltaram a cidade de Cuíto-Cuanavale com apoio da SADF, os combates duraram mais de duas semanas. Em termos de contabilidade de investidas das FALA/UNITA/SADF, só na primeira metade de 1986, efectuaram mais de 70 investidas contra obras civis e 10 ataques contras as FAPLA.
Paralelamente, às sistemáticas incursões por terra e ar do Exército sul-africano (SADF) e das FALA, estenderam o manto da guerra sobre as localidades nas regiões do Lubango, Xangongo, Môngua, N’giva, Santa Clara, Calai, Cuvelai, Calueque, Cahama, Boma, Namacunde e muitas outras. A par destas operações militares móveis, o Exército Regular sul-africano praticou também, com muita frequência, as acções de minageme colocação de bombas em edifícios governamentais(administrativos), sabotageme sequestroque resultou na explosão de dois navios no Porto de Luanda, em 1984, na destruição de pontes e linhas de Caminho de Ferro de Benguela (CFB), destruição de rodovias, os atentados das instalações petrolíferas em Luanda e em Cabinda (Malongo – Maio de 1985). Em 15 de Novembro de 1987, depois de reorganização militar e estratégica, começou a grande ofensiva contra as tropas regulares da SADF e das FALA na grande batalha do Cuíto-Cuanavale, Angola tinha acabado de comemorar os 12 anos de Independência Nacional e, nas terras de Cuando Cubango as forças sul-africanas da SADAF e das FALA estavam a lançar aquilo que ficou conhecida como última investida, a Batalha Final de submeter a RPA e o povo angolano sob jugo do Regime Racista e Expansionista de Apartheid. As FAPLA e os instrutores cubanos (Internacionalistas) sabiam que esta batalha era decisiva, não era apenas para garantia da soberania de Angola como também era o caminho para Independência da Namíbia e a libertação da África do Sul sob jugo do regime de Apartheid, concomitantemente a libertação da África Austral sobre às pretensões de política expansionista da África do Sul racista. A batalha entrou no ponto de não retorno, as FAPLA estabeleceram as suas ofensivas contra as bases militares das FALA e unidades da SADF, travaram mais de 20 violentos combates. No entanto, as FAPLA foram resistindo à degradação da situação, culminando com o cerco final sul-africano ao município do Cuíto-Cuanavale, onde a partir dessa altura, as FAPLA começaram a ser auxiliadas pelos instrutores Internacionalistas, cuja missão era fundamentalmente de munir os combatentes angolanos das FAPLA de linhas teórico-doutrinas de estratégicas de combate, como também assegurarem a retaguarda para permitir o abastecimento às tropas da primeira linha e, não permitir a «ferro-e-fogo» à penetração de unidades regulares sul-africana na retaguarda das FAPLA e repelir as incursões de aviação inimiga na via Menongue – Cuíto-Cuanavale.
Os pequenos grupos de combates da defesa popular, constituído por cidadãos determinados na defesa da liberdade, soberania e independência nacional conquistado depois de 400 anos de jugo colonial português, reforçaram as unidades das FAPLA nas primeiras linhas de combate, permitindo assim, imprimirem maior ímpeto à defensiva dos combates das FAPLA, que se encontravam desgastados pelos combates travados desde o rio Lomba. E nessa altura, o exército sul-africano e as FALA, concentravam um número considerável de homens e matérias de guerra ligeiro e pesado, que lançaram o maior ataque de todo o episódio militar da história de guerra em Angola. Porém, as FAPLA e os Internacionalistas cubanos, resistiram a todo custo e repeliram esses ataques, causando um grande número de baixa em homens e material bélico das FALA e da SADF, que no dia 23 de Março de 1988, acabou na Grande Batalha do Cuíto Cuanavale, deixando deste modo cair por terra o mito da invencibilidade no ponto de vista militar, do Exército Regular Sul-Africano (SADF) e, do ponto de vista político, marcou o fim do Regime Expansionista de Apartheid na África do Sul, abrindo deste modo as portas à libertação do líder político sul-africano, Nelson Mandela“Madiba” e companheiros, como também ditou de uma forma global à libertação de África Austral.
Em termo de posição, muitos Estados que lutavam e condenavam as atrocidades do regime sul-africano, posicionaram-se em bloco que ficou conhecido como o Estados da Linha da Frente e Movimentos de Libertação da África Austral: era composto por Angola(RPA) que era representado por Henrique Carvalho dos Santos “Onambwe”: Secretário do Comité Central do MPLA; Afonso Van-Dúnem“M’binda”: Secretário do Comité Central do MPLA-Partido do Trabalho; Diógenes Boavida: Ministro de Justiça; Coelho da Cruz: Presidente da Liga Angolana de Amizade e Solidariedade; Tenente-coronel (Hoje General) N’gongo: Chefe do Departamento de Reconhecimento e Informação do Estado Maior General das FAPLA; Tenente Barreto: Do Departamento de Reconhecimento e Informação do Estado Maior General das FAPLA; Fernando Oliveira: Director do Departamento Jurídico do Ministério da Justiça; António Lengue: Director do Departamento de Relações Internacionais do Comité Central do MPLA: Teresinha Lopes: Directora do Departamento de Estudos Jurídicos do Comité Central do MPLA. Zimbabwe, era representado porGoodfrey GuwaChidyausiku: Vice-Ministro da Justiça; Moses Hungwe: Secretário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Departamento Jurídico. Moçambique (RPM),Daniel António: Ministério dos Negócios Estrangeiros. Tanzânia, Fátima Tatu Nuru: Embaixadora da Tanzânia na em Angola (RPA). Congresso Nacional Africano (ANC), Zola Skweyiya: Advogado e Koni Dlingea: Representante-Chefe do ANC em Angola (RPA). South West African People’s Organization (SWAPO),Herman Ithele: Vice-Secretário do Departamento Jurídico da South West African People’s Organization (SWAPO).